Libras, linguagem, língua: que mundo é esse?

por Abner Silva Xavier

12/07/2018

A Língua de Sinais é um recurso viso-espacial utilizado especialmente pelo público de pessoas com deficiência auditiva ou surdas e ainda por algumas pessoas que tenham deficiência vocal (mudos).

 

Não há dúvida, que em algum momento de nossas vidas nos deparamos com a Língua de Sinais, seja nas propagandas eleitorais, indicação de classificação etária de filmes, escolas, eventos, congressos, entre outros.

 

Muitas dúvidas surgem a respeito dela, as quais podemos destacar algumas: a Língua de Sinais é universal? É uma língua natural ou artificial? É realmente uma língua com estrutura gramatical, semântica, pragmática com recursos linguísticos que consiga exprimir qualquer contexto ou usa apenas um recurso da linguagem? Que importância tem a Língua de Sinais no atual cenário que vivemos?

 

Vamos buscar neste texto ajudar você a responder essas questões e entender um pouco mais sobre esta maneira de se comunicar. Vamos lá?

 

Muitas pessoas acreditam que a Língua de Sinais é universal, que cada país utiliza o mesmo sistema linguístico para que seus usuários se comuniquem, mas é um equívoco pensar dessa forma. Cada país tem a sua própria Língua de Sinais. Em nosso caso, temos a Língua Brasileira de Sinais, abreviada pela sigla Libras e utilizada dentro do território brasileiro, e ainda temos a sigla LSB que significa Língua de Sinais Brasileira, que segundo Freitas (2015, p.2), essa sigla é utilizada em âmbito internacional. Podemos nos deparar com essas duas nomenclaturas e elas fazem alusão à primeira língua no país que carrega em seu bojo o termo “brasileira”. Sendo assim, cada país tem a sua língua de sinais, como, por exemplo, a LSF – Língua de Sinais Francesa, a ASL – Língua de Sinais Americana, entre outras.

Depois de compreendermos que cada país tem a sua Língua de Sinais, o que acha de aprender o nosso alfabeto em sinais, acessando o link logo abaixo?

https://youtu.be/omU35563Qt4

 

Infelizmente, antes do ano de 2002, a Língua de Sinais não tinha status de Língua, era considerada apenas uma linguagem (ressalta-se que Linguagem é todo meio de comunicação, tal como: a música, o teatro, gestos, a língua, etc.). Entretanto, apesar da língua estar na linguagem, a diferença primordial entre esses termos é que língua é uma estrutura gramatical, disposta por meio de regras, ou seja,  não há como executarmos uma língua de qualquer forma, precisamos respeitar as suas convenções para que possamos nos fazer entender. Nesse sentido, a Língua de Sinais também tem esse caráter reconhecido no Brasil, por meio da Lei 10.436 de 24 de abril de 2002, que a reconhece como Língua e a torna a segunda oficial do país. Sendo assim, o usuário da Língua Brasileira de Sinais é bilíngue, tendo ela uma estrutura gramatical própria com todos os requisitos de uma língua e podendo ainda exprimir qualquer situação por meio dos sinais.

 

Na escola, observa-se o panorama extenso do vocabulário em sinais, como, por exemplo, quando o intérprete realiza uma interpretação simultânea em Língua de Sinais de todas as disciplinas ao aluno surdo ou quando o próprio professor da sala aprende esta linguagem para garantir a comunicação com este aluno e, consequentemente, a sua inclusão no espaço escolar, favorecendo o seu desenvolvimento como um todo. Ao mesmo tempo, cria-se um ambiente rico, pois a sala se torna bilíngue. Veja: os colegas e professores passarão a ter sinais que representam seu nome em Libras, evitando assim que se soletre a todo momento que se referir a eles.

 

Existe uma convenção entre os usuários da Língua de Sinais, que para dar sinal a uma pessoa, tal feito só pode ser realizado por uma pessoa surda, que leva em consideração o que você gosta, com o que trabalha, alguma característica física e, com base nisso, atribui-lhe o sinal. Fica a cargo da outra pessoa aceitar ou não o seu nome (sinal), se for de seu agrado.

 

Quando falamos de língua artificial e natural, temos aqui duas línguas com propósitos diferentes. A língua artificial é uma língua estática, que não carrega em si o regionalismo, as mudanças históricas, que não se adquire naturalmente, precisa de um treinamento específico. Já a língua natural é totalmente o oposto, é uma língua viva, que perpassa mudanças históricas e traz consigo essas adaptações, que não necessita de um treinamento específico e se adquire de forma natural.

 

Muitas pessoas confundem a Língua de Sinais como sendo artificial, mas é um engano. Segundo Dizeu e Caporali (2005, p.584) afirmam, a Língua de Sinais é natural dos surdos e eles a adquirem de forma espontânea. Tal comprovação se dá, também, por uma tribo indígena brasileira Urubus-Kaapor, que optam utilizar a modalidade linguística visual-espacial em vez da oral-auditiva, ou seja, eles utilizam a língua de sinais para se comunicar, mesmo sendo ouvintes e tendo a possibilidade de utilizarem a modalidade verbalizada da língua. Eles são uma tribo referência para estudos linguísticos no mundo todo. Essa tribo também se torna um ícone na comprovação das Línguas de Sinais como naturais e não artificiais.

 

Sendo a Libras uma língua natural, é muito importante que todos os professores e funcionários da Educação aprendam a se comunicar com seus alunos surdos.  Talvez, quando você fez sua formação inicial na graduação, ainda não havia a obrigatoriedade desta disciplina, como há hoje nos cursos de licenciatura.

 

Todavia, se você não tem conhecimento da língua, é recomendável que faça um curso da Língua Brasileira de Sinais. Em algumas redes públicas, a própria Secretaria de Educação oferece esta formação para os seus educadores. Uma dica é não esperar o aluno surdo chegar em sua escola para começar a aprender. Agindo de forma precavida, há ganhos educativos para você, profissionalmente, pessoalmente e, especialmente, aos seus alunos surdos na aprendizagem e convivência social.

 

O cenário atual nos mostra que a Língua Brasileira de Sinais – Libras é uma necessidade real para todas as áreas: saúde, educação, transportes, etc. Por quê? Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no ano de 2010, último censo nessa área, ou seja, há 8 anos, tínhamos cerca de 10 milhões de surdos só no Brasil. Infelizmente o público com deficiência auditiva, também usuária da Língua vem aumentando gradativamente, o que corrobora com necessidade de mais pessoas “falantes” da Língua de Sinais, em especial na Educação, que é o seu primeiro contato com a sua língua materna.

 

Sendo assim, incentivo você, leitor, a aprender a segunda língua mais falada do país, que carrega a nossa identidade em seu nome e amplia a possibilidade de inclusão de todos no processo comunicativo.

 

Referências

BRASL. Lei 10.436 de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 08/07/2018.

Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência / Luiza Maria Borges Oliveira / Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) / Coordenação-Geral do Sistema de Informações sobre a Pessoa com Deficiência; Brasília : SDH-PR/SNPD, 2012. Disponível em:< http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/cartilha-censo-2010-pessoas-com-deficienciareduzido.pdf>. Acesso em: 09/07/2018.

CAPORALI, Sueli Aparecida; DIZEU, Lilliane Correia Toscano de Brito. A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito. Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 583-597, Maio/Ago. 2005. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a14v2691.pdf>. Acesso em: 09/07/2018.

FREITAS, Enos Figueiredo de. Libras Abordagem Teórica. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano. Disponível em:< http://www.ifbaiano.edu.br/unidades/bonfim/files/2015/03/TEXTO-BASE-LIBRAS-pagina-cursos-superiores.pdf>. Acesso em: 08/07/2018.

 

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Comentários sobre o texto

  1. Almir Pinto de Melo disse:

    Excelente texto. Parabéns

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