Machismo Estrutural na escola: educação para meninas e educação para meninos

por Regina Bárbaro Martins Peralta

31/07/2020

Decidi começar esse texto com uma provocação logo em seu título. Quantas vezes nos deparamos com situações em que, sem percebermos, dizemos e agimos de forma a reforçar as diferenças entre as meninas e os meninos no que diz respeito às igualdades?

Nós educadores, inconscientemente reproduzimos e transmitimos um sistema de valores, pensamentos e atitudes sexistas que auxiliam na submissão das mulheres e na valorização dos homens, reproduzindo assim o chamado machismo estrutural.

Quando agimos de forma inconsciente é mais difícil de perceber esse preconceito e, portanto, de mudar esses comportamentos. Quantas vezes eu, como professora, solicitei a atenção dos alunos da seguinte maneira: “meninos e meninas, peguem seus livros…” parando para refletir agora, jamais comecei a frase iniciando pelas meninas.

Imaginem a seguinte cena: durante o recreio, um menino e uma menina disputam por um determinado brinquedo e o menino empurra a menina para ficar com o brinquedo e esta revida o empurrão derrubando o menino no chão que começa a chorar. Em seguida, aparece um adulto que dirá para ele as famosas frases “em menina não se bate!” e ou “meninos não choram!” As frases podem estar repletas de boas intenções, afinal a ideia é interromper a disputa, porém, ela vem carregada de mensagens subliminares:

Reparem como essas mensagens vão se fixando no inconsciente das crianças e são transmitidas de geração em geração. Algumas vezes de forma mais brandas em outros contextos de formas mais explícitas.

Quando acreditamos que os homens são fortes, valentes e agressivos e as mulheres, emotivas, frágeis e sensíveis estamos reforçando um comportamento que é reflexo de nossa história social e familiar.

Montserrat Moreno, em seu livro Como se ensina a ser menina, reforça que a escola é um bom lugar para promover mudanças nesses discursos que favorecem essa desigualdade social entre homens e mulheres. Mas para que isso possa ser uma cultura escolar, é preciso que comecemos a olhar para a forma como utilizamos as abordagens que fazemos com as nossas alunas e alunos. É preciso alinhar nossos discursos formativos com todos os adultos da escola que estão em contato com todos os discentes, desde o porteiro até a direção escolar.

Construir essa cultura da igualdade passa por reconhecer que temos falhas, e saber que precisamos modificar o nosso discurso e principalmente agir com intencionalidade quando formos abordar assuntos relacionados com as temáticas que envolvem a questão de gênero. É preciso falar sobre essa questão em reuniões formativas mostrando o quanto a mudança cultural promoverá a tão desejada igualdade social de gênero.

É preciso estarmos atentos às coisas do cotidiano escolar, como por exemplo, olhar para uma criança pendurada em uma árvore e ver se ela está segura ao realizar essa tarefa independente se é uma menina ou menino. Ao realizarmos a organização da sala com os alunos varrendo, limpando carteiras, sem priorizar essas ações para as meninas e deixar com os meninos os serviços de erguerem ou empurrarem as mesas. São pequenas ações do cotidiano escolar que vão levando a comunidade a perceber que a escola é de fato um espaço em que todos precisam ser tratados com igualdade, respeitando as diversidades.

Precisamos fazer reflexões do tipo:

Durante as brincadeiras de casinha, é comum vermos os meninos “saírem” para trabalhar ao invés de também cuidarem das bonecas. Se olharmos para essas cenas e planejarmos intervenções com intencionalidade, podemos propor um novo olhar oportunizando mudanças de forma a ajudar esses meninos a se tornarem pais mais ativos, afetivos na criação de seus futuros filhos.

Se desejamos que nossas alunas e alunos se tornem adultos com igualdades de direitos sociais, precisamos mudar a forma como passamos essas mensagens de modelos que já não servem e que, na verdade, estimulam a desigualdade social que temos em nossa sociedade.

Para isso, uma boa estratégia que podemos utilizar é apurar nossas escutas. Por exemplo, se ouço uma mulher dizer: “meu marido me ajuda em tudo lá em casa”, não a veja como sendo uma mulher de sorte. Apenas ela ainda não percebeu que ele não deveria ajudá-la, pois fazer as tarefas de casa, não é exclusividade da mulher. Se moro com outro adulto que tem as mesmas habilidades e necessidades que eu tenho para viver numa casa, porque somente a mulher deve realizar as tarefas enquanto os homens têm a opção de ajudar, se quiserem? E quando o fazem, é visto como um favor.

Após essas reflexões, posso enfim, escrever o título que quero para esse texto: Educação para tod@s!

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Referências:

MORENO, Montserrat. Como se Ensina a Ser Menina, São Paulo: Moderna, 1999.

PUIG, J. M. Práticas Morais. São Paulo: Moderna, 2006.

TOGNETTA, Luciane & VINHA, Telma. Quando a escola é democrática, Campinas: Mercado de Letras, 2007.

Documentário: O silêncio dos homens: https://www.youtube.com/watch?v=NRom49UVXCE (disponível em 21/07/2020)

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Confira a gravação de nossa live sobre “O papel da escola na construção dos gêneros” e aprofunde sobre essa temática:

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Comentários sobre o texto

  1. Patricia Sarmento disse:

    Regina o texto está ótimo! Muito obrigada pela contribuição!

  2. JANAINA EFIGENIA DE SOUSA disse:

    Adorei o texto. Muita lucidez para reflexão de todos!

  3. Karen disse:

    Excelente debate, Regina.

    Muito pertinentes as colocações. Está mais do que na hora de cuidar desse discurso!

    Parabéns!

  4. Maria Rita Penteado disse:

    Querida Regina, você trouxe muitas informações relevantes nos possibilitando refletir sobre nosso papel frente a essa demanda. Parabéns pelo texto!

  5. Kátia Verginia Cantão Veloso disse:

    Olá, Regina!
    Que delícia ler o seu texto! Assim como na live, os exemplos são reflexivos e nos leva a ponderar sobre o tema. Parabéns! Grata por esse compartilhamento!

  6. Regina disse:

    Eu que agradeço a suas palavras, Kátia!
    essas reflexões precisam permear os corredores de nossas escolas, não é mesmo?
    Abraços!

  7. Fabiano da Silva Pinto disse:

    Olá, Regina.
    Adorei o seu texto e durante a leitura me vi nas minhas práticas na educação infantil.
    No início do ano, proporcionei para as crianças de 2 e 3 anos da minha turma momentos em que só brincamos de carrinho ou momentos que só brincamos com bonecas….
    Na semana anterior ao carnaval, fiz questão de cada dia ir fantasiado com personagens conhecidos. Então fui de Batman, Super Homem e também de Cinderela, Bela e Malévola.
    As crianças adoraram!

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