por Cassia Manchini
26/02/2021
Neste tempo de isolamento social, uma das maiores preocupações que tenho observado em relação às famílias que têm crianças em idade de iniciar o processo de alfabetização, é de como ajudá-las neste momento.
É mesmo difícil entender como a criança aprende a ler e escrever e como contribuir neste processo, precisa, sim, de muito estudo sobre as teorias do desenvolvimento. Mas tem algumas coisinhas simples que podemos fazer para ajudá-las.
Primeiro é importante diferenciarmos alguns processos.
Aprender a ler e escrever é um processo de aprendizagem onde a criança aprende as letras que formam nosso código escrito, entende o processo de leitura e de escrita, e, pouco a pouco, vai aprendendo a decodificar esse código.
Letramento é um processo de desenvolvimento mais amplo, pois a criança vai entendendo o que chamamos de práticas sociais da escrita: onde a usamos, para que a usamos e como a usamos nas diferentes situações.
São dois processos diferentes, mas um depende do outro. Se só aprendemos a decifrar o código escrito, não conseguimos entender o mundo, entender o que lemos, nos expressar por meio escrita. Então não basta só aprender as letras e palavras.
Paulo Freire afirmava: “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra.” Freire (1988, p.20). É essa a essência destes processos. Antes de aprender a ler e escrever palavras, começamos a ler o mundo. E como isso acontece?
Desde que a criança nasce! Com os olhares, os gestos, o desenvolvimento da linguagem oral, a observação das imagens ao nosso redor, as crianças vão aprendendo a “ler o mundo”, a entendê-lo e a se relacionar com ele. Isso é letramento.
As crianças da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental precisam muito deste processo para que, na hora de aprender a “técnica” de leitura e escrita e suas convenções, estejam mais acomodadas e motivadas para este processo. Além disso, quando aprenderem a escrever, poderão escrever textos com mais sentido, significado e mais completos. Aprenderão a ler e entender o que estão lendo.
Ah, todo este processo acontece em tempos diferentes para cada criança, é um processo de construção interno, precisamos respeitar e não comparar. Não precisamos forçá-las a nada, precisamos respeitá-las e incentivá-las dando a elas diferentes oportunidades de praticar!
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Referências:
Brasil. CNE/CEB. Parecer n. 20/2009, de 11 de novembro de 2009. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: CNE/CEB, 2009
Freire, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1988.
Lerner, D. ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Parabéns pelo texto! Claro e objetivo!