por Michael Alfredo com Maria Luiza Ramos
18/08/2025
RAMOS, Maria Luiza. Adultização: como a educação pode proteger a infância? Entrevista concedida a Michael Alfredo. 12 ago. 2025.
No início de agosto de 2025, o influenciador digital Felca (Felipe Bressanim Pereira) publicou um vídeo que expôs casos graves de adultização e sexualização de crianças e adolescentes nas redes sociais. Ele citou exemplos como o do influenciador Hytalo Santos e da jovem Kamylinha Santos, além de levantar a hipótese da existência de um suposto “algoritmo P” que favoreceria a exposição indevida de menores. O conteúdo viralizou rapidamente, ultrapassando 28 milhões de visualizações, recebeu apoio de personalidades e chegou à esfera política: o presidente da Câmara dos Deputados anunciou que projetos de lei sobre o tema serão pautados com urgência.
Além de provocar discussões sobre legislação, o caso traz impactos diretos para a educação. Especialistas alertam que a adultização precoce prejudica o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças, podendo causar ansiedade, baixa autoestima e dificuldades de relacionamento. Na escola, educadores relatam comportamentos e linguagens incompatíveis com a idade dos alunos, reforçando a necessidade de educação midiática e diálogo constante com as famílias.
De acordo com a SaferNet Brasil (2024), mais de 40% dos jovens de 9 a 17 anos já tiveram contato com conteúdo sexual on-line. Para especialistas, combater esse cenário exige a participação ativa da escola e dos pais, estabelecendo limites, orientando sobre segurança digital e promovendo espaços de acolhimento quando há exposição indevida.
Conversamos com Maria Luiza Ramos, MBA em Gestão Escolar, pós-graduada no curso A Moderna Educação pela PUCRS; em Neuroeducação pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro e em Planejamento e Administração Escolar, pela Universidade São Judas. Possui formação em Coach, Master Practitioner e Trainer em Programação Neurolinguística, com certificação internacional pela ICI – International Association of PNL Institutes. Ocupou diversos cargos na Secretaria de Educação do Município de São Paulo. Ela recebeu nossa equipe e respondeu algumas perguntas sobre o tema e como a escola pode ajudar na resolução dele:
Olha, eu acho que a primeira coisa é prestar atenção nas mudanças de comportamento, sabe? Às vezes, não são coisas muito gritantes, mas pequenas atitudes que destoam da idade da criança. Por exemplo: usar roupas, maquiagem e poses que lembram influenciadores adultos; repetir danças ou falas com conotação sexual sem nem entender o que aquilo significa; ter um interesse exagerado por assuntos como relacionamentos, dinheiro, fama ou aparência física.
Outro sinal é aquela busca constante por likes e seguidores, muitas vezes copiando comportamentos de adultos, e o uso das redes sem qualquer limite ou supervisão. E, claro, quando a criança começa a perder o interesse por brincadeiras e atividades típicas da idade, vale acender um alerta.
Eu sempre digo que o segredo está no equilíbrio. É importante acompanhar o que eles estão consumindo, com quem conversam e quais influenciadores seguem. E conversar muito! Perguntar o que viram, o que acharam, explicar o que é adequado para cada idade.
Também vale ter regras claras: tempo de tela, tipo de conteúdo, uso de redes. E, ao mesmo tempo, incentivar brincadeiras, hobbies e atividades que respeitem a fase de vida deles. Trabalhar a autoestima é fundamental, para que entendam o valor do próprio corpo e aprendam a viver cada fase com tranquilidade. Ah, e usar ferramentas de controle parental ajuda bastante. E, se perceber algo errado, não hesitar em denunciar.
Primeiro, a escola precisa ser um espaço seguro e acolhedor. Isso significa que professores e funcionários têm que estar preparados para perceber sinais de sofrimento e agir com empatia.
A criança precisa ter onde falar e ser ouvida sem julgamento – rodas de conversa, atendimentos psicopedagógicos, tudo isso ajuda. Trabalhar a autoestima dela, valorizar o que ela sabe fazer bem, lembrar que ela é suficiente como é.
Também é importante discutir em sala o uso saudável da tecnologia, para desenvolver senso crítico e autonomia. E claro: escola e família precisam caminhar juntas, trocando informações e combinando estratégias. Além disso, oferecer atividades lúdicas – esporte, arte, brincadeiras – ajuda muito a resgatar o prazer de ser criança.

Maria Luiza ainda completa:
“Esse é um assunto muito sério e urgente. Se a gente não falar sobre isso, as consequências para o desenvolvimento das crianças e adolescentes podem ser enormes. É preciso agir rápido para combater práticas abusivas e criminosas que, infelizmente, estão acontecendo on-line.”
Ao longo da conversa, Maria Luiza deixou claro que proteger a infância no ambiente digital não é apenas uma tarefa das famílias ou das escolas, mas um compromisso coletivo. “A internet faz parte da vida das crianças, e não dá para fingir que não existe. Mas a gente pode e deve ensinar como navegar de forma segura, respeitando o tempo de cada fase da vida. Quando família, escola e sociedade se unem, a criança tem muito mais chance de crescer saudável, confiante e preparada para lidar com o mundo real e o virtual”, conclui.
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Referências:
Gazeta do Povo. “Adultização”: vídeo de Felca gera comoção social e política. 2025. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/adultizacao-felca-comocao/
CNN Brasil. Felca e denúncias que envolvem Hytalo Santos: o que sabemos sobre o caso. 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil/felca-e-denuncias-que-envolvem-hytalo-santos-o-que-sabemos-sobre-o-caso/
O Tempo. Após vídeo de Felca, Hugo Motta promete pautar projetos sobre ‘adultização’ de crianças. 2025. Disponível em: https://www.otempo.com.br/politica/congresso/2025/8/11/apos-video-de-felca-hugo-motta-promete-pautar-projetos-sobre-adultizacao-de-criancas
Delas/IG. Como adultização e sexualização podem interferir no crescimento da criança. 2022. Disponível em: https://delas.ig.com.br/filhos/2022-08-04/como-adultizacao-sexualizacao-podem-interferir-crescimento-crianca.html
SaferNet Brasil. Pesquisa TIC Kids Online Brasil. 2024. Disponível em: https://www.safernet.org.br
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