por Regina Bárbaro Martins Peralta
09/05/2022
Quando pensamos em assembleia de classe, geralmente achamos que essa estratégia só pode ser utilizada em salas de Ensino Médio ou nos anos finais do Ensino Fundamental II.
Durante muito tempo, atuando como professora e orientadora educacional no Ensino Fundamental I e nos anos iniciais de Ensino Fundamental II, tive a oportunidade de trabalhar com assembleias de classe e posso garantir que essa estratégia pode ser utilizada em todos os ciclos escolares. Então, afirmo: quanto mais cedo os/as educadores/as introduzirem essa prática em suas salas de aula, maior será o retorno dessa ação!
Trabalhar com assembleias de classe é uma maneira de promover a formação para cidadania, uma vez que eles/as experimentarão contextos que lhes exigirão maiores situações de argumentação consciente, poderão exercitar princípios democráticos, como o voto e deliberação, e poderão vivenciar as decisões tomadas de forma democrática. Para isso, é necessário que o/a professor/a ensine alguns procedimentos para que as assembleias ocorram de forma a atingir os objetivos desejados.
De acordo com a definição de Puig e seus colaboradores em seu livro Democracia e Participação Escolar, “uma assembleia é um momento escolar organizado para que alunos e professores possam falar de tudo o que lhes parece pertinente para melhorar a convivência e o trabalho escolar”.
Antes que uma assembleia tenha início, é necessário que ocorram alguns procedimentos. Eu, pessoalmente, os chamo de rituais, uma vez que depois passam a ser incorporados pelos/as participantes. Um deles, cito a seguir:
Periodicidade – As assembleias precisam ocorrer sistematicamente, de preferência, já instituída em um dia da semana, como, por exemplo, toda segunda-feira na primeira aula. Assim, esse procedimento passa a fazer parte do currículo da escola. Pensemos: do mesmo modo que a matemática é um componente fundamental de ensino e aprendizagem, a formação para cidadania e a discussão de valores também o é. Logo, as assembleias potencializam a formação de conteúdos atitudinais.
O protagonismo estudantil é outro ponto essencial que deve ser norte para o trabalho com assembleias e se instituem como procedimento. Por exemplo, durante a semana que antecede a assembleia, os/as estudantes colocam em um cartaz, afixado no mural da sala, com suas críticas, felicitações e suas sugestões relativas ao que ocorreu durante a semana. Vejamos abaixo um modelo de cartaz:
Outro procedimento importante é a organização do espaço. No dia da assembleia, o grupo organiza o ambiente de uma forma que todos/as vejam todos/as (cadeiras em círculos ou semicírculos).
Nas séries iniciais, é o/a professor/a que coordena a assembleia com a ajuda de dois estudantes colaboradores/as, por exemplo. Um/a anota a sequência dos/as inscritos/as para as falas e outro/a registra a ata da assembleia.
Um ponto importante a ser pensado é o volume de pontos trazidos na assembleia. Caso a lista das críticas seja grande – é comum que isso ocorra nas primeiras assembleias – antes de iniciar, o/a professor/a juntamente com os/as estudantes, decidem quais temas serão abordados. Dessa maneira, muito provavelmente eles/as priorizarão os temas que mais aparecem ou aqueles que podem ser correlacionados.
Outro acordo que ocorre antes do início é a decisão entre os/as alunos/as acerca das tarefas que farão durante a assembleia: quem anota os nomes dos/as inscritos/as (para garantir que todos/as terão sua vez de falar) e quem escreve a ata são exemplos de “procedimentos de organização”.
Na série em que a autonomia dos/as estudantes em relação a organização e participação de uma assembleia já é uma vivência, o/a professor/a “apenas” participa como mais um membro do grupo e um/a aluno/a coordenará a assembleia.
Cuidados esses procedimentos e feito esses acordos, professor/a e alunos/as dão início à discussão dos temas!
As assembleias são momentos muito úteis para construir capacidades psicossociais e para (re)significar atitudes e valores. É possível se colocar no lugar do outro/a e, com isso, imaginar como ele/a deve se sentir – processo de empatia; expressar suas opiniões de maneira respeitosa – já que uma das regras da assembleia é não citar nomes mas sim situações; ouvir a opinião dos/as colegas – desenvolvendo a escuta ativa e atenta; entender quais situações foram consideradas problemáticas e se comprometer com sua melhora – visão coletiva e corresponsabilidade; e argumentar com lógica para defender seu ponto de vista – etapa essencial para o processo subjetivo e intersubjetivo.
Além disso, trabalhar com assembleias propicia um excelente trabalho com os conteúdos atitudinais. Abaixo, destaco alguns aspectos que as assembleias proporcionam:
Outro momento essencial da assembleia é a deliberação. Durante esse momento, os/as alunos/as se inscrevem para expor seus pontos de vista e ouvem os pontos dos/as colegas. Ao final das discussões, estabelecem uma regra ou acordo que passa por um processo de votação (a favor, contra e abstenção) e, depois, esses acordos vão para a ata, que é assinada por todos/as.
O encerramento ocorre com a leitura das felicitações e das sugestões e o grupo manifesta o prazer de ter pontos positivos a felicitar.
Vale ressaltar que os acordos estabelecidos em assembleia nem sempre são cumpridos. Como destaca Puig: “é preciso salientar que os grupos somente chegam a se sentir obrigados pelas regras e acordos depois de um longo período de desenvolvimento do sentido de autodisciplina. Frequentemente, as regras são combinadas verbalmente, sem que ninguém se sinta obrigado a cumpri-las. O processo que vai desde a simples adesão verbal à regra até o sentimento de obrigatoriedade que leva ao seu cumprimento é longo e laborioso.”
Contudo isso não é motivo de desânimo! Como dito no início dessa reflexão, cabe a nós, educadores/as, olharmos para essa prática e incorporá-la na rotina de nossas aulas. Garanto que com essa prática colaboraremos substancialmente para a formação da cidadania de nossos/as estudantes.
Após esses anos de pandemia, a assembleia precisa ser vista como uma ferramenta para discutirmos as questões socioemocionais que nossos/as estudantes veem enfrentando nesse retorno. Ela é um espaço de garantia de falas e escutas. Cabem aos/as educadores/as promoverem, cada vez mais, esses espaços dentro dos currículos escolares.
Para que você possa ter contato com mais materiais sobre o assunto, deixo um link de vídeo que trata sobre o tema e dão exemplos de assembleias:
Clique aqui para assistir.
Excelente texto!
Eu tenho a prática de assembleia há tempo. Concordo quando coloca da periodicidade dela e seu ritual.
Na volta presencial dos alunos nas escolas se faz urgente discutir sobre assuntos relevantes ao grupo, assim como falar sobre sentimentos.
Um grande abraço
Professora Roberta
Olá, Roberta!
Que bom saber que você já tem essa prática de realizar assembleias!
Realmente, pós pandemia se faz mais necessário ainda promovermos espaços de falas e de escuta para os/as estudantes!
Da nossa parte, devemos seguir procurando difundir essas estratégias de protagonismo dos/as estudantes!
Parabéns, Regina!
Colocar luz nas assembleias de classe é essencial. Promover a cidadania é tarefa, também, da escola.
Bjs saudosos
Oh, Lilian querida! Receber um elogio seu é gratificante!
De fato, temos que promover sempre esses espaços de reflexão e construção do protagonismo de nossos/as estudantes!
Cada momento de trocas e de promover argumentação, estamos trabalhando para a formação de cidadãos consciente