Projeto de vida: componente poderoso para engajamento do/a jovem

por Rosângela de Oliveira Pinto

28/11/2022

Como nós educadores temos acompanhado, estudado e implementado, o projeto de vida compõe a sexta competência geral da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) denominada de “trabalho e projeto de vida”. Porém, as discussões sobre o projeto de vida já existem há algum tempo! Como o projeto de vida prevê busca de sentidos, é uma preocupação que está presente em vários estudos na história da humanidade.

 

William Damon (2009), psicólogo norte americano e pesquisador da Universidade de Stanford e estudioso do desenvolvimento humano, apresenta em sua obra “O que o jovem quer da vida?” os primeiros resultados e discussões de pesquisas realizadas nos últimos anos, chamando a atenção para o fato de muitos/as jovens, mesmo que aparentemente prosperando (cumprindo com as atribuições que a sociedade lhes confere), estão, na verdade, sem rumo, não tendo ainda encontrado algum propósito ao qual dedicar suas vidas. Na mesma obra, Damon apresenta o conceito de “projeto vital” como a intenção de alcançar algo que é significativo tanto para o eu quanto para o mundo além do eu; uma razão motivadora repleta de significados que orienta a vida cotidiana, o propósito de vida.

 

Muitos/as jovens possuem desejos e objetivos, porém, nem sempre conseguem construir um planejamento, estabelecer estratégias e metas para alcançar os seus objetivos e realizações. Além disso, muitos/as jovens nem sequer apresentam objetivos e metas a serem alcançadas, por diversos motivos sociais e pessoais, mas possuem desejos e sonhos.

 

O projeto de vida tem o poder de levar o/a jovem a refletir sobre o significado da vida, ampliando sua compreensão sobre o valor das relações humanas, a ressignificação de suas relações com o mundo e, na medida em que a elas são atribuídos novos sentidos, viabilizar a transformação de si próprios e do contexto no qual estão inseridos.

 

Portanto, o projeto de vida não pode ser uma disciplina isolada no currículo escolar. Mas sim, uma estratégia pedagógica que, integrados aos conteúdos curriculares, problematizem e discutam as questões pessoais, sociais e profissionais que permeiam o cotidiano do jovem.

 

Deve ser olhado como momentos com intencionalidade pedagógica e abordagem interdisciplinar e transdisciplinar que deve oportunizar ao jovem vivências e descobertas sobre si, o outro, o seu entorno e o mundo; vivências que levem o/a jovem a valorizar-se diante do mundo e de si próprio; a construção de sentido, significado e propósito para a sua vida.

É uma competência poderosa para promover engajamento e compromisso de todos/as em torno do processo de ensino e aprendizagem por mobilizar significados, tomada de consciência, sonhos, escolhas, valores e metas.

 

Porém, não deve ser um momento isolado, mas estar integrada e articulada aos componentes curriculares, a fim de promover autoconhecimento, autorreflexão, autorregulação, capacidade de fazer escolhas pessoais e tomar decisões, para o desenvolvimento integral do/a jovem tanto no aspecto profissional, como pessoal e social.  Ou seja, explorar os aspectos cognitivos e afetivos, intelectuais e práticos, políticos, singulares e coletivos, com intencionalidade pedagógica.

 

Por meio do projeto de vida, o/a aluno/a continua desenvolvendo conhecimentos e habilidades dos conteúdos específicos dos diferentes componentes curriculares, quando produz um texto, quando identifica um país no mapa que está em guerra, entre outros, mas indo além, simulando, vivenciando e refletindo sobre as temáticas e identificando o impacto na sua vida e entorno.

 

De acordo com Klein e Arantes (2020), professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo, é fundamental que o trabalho pedagógico com o projeto de vida tenha como premissas quatro elementos:

  1. Engajamento – gerar compromisso e corresponsabilidade.
  2. Metas – para alcançar mudanças e objetivos.
  3. Sentido para o sujeito – promover vivências a partir das situações reais que fazem parte do contexto do indivíduo.
  4. Impactar para além do sujeito – ser fundamentado em valores e posicionamentos éticos, visando o bem comum.

 

As professoras Klein e Arantes (2020) destacam a importância de o projeto de vida levar o/a estudante a exercitar o autoconhecimento, o pensar e o protagonismo.

 

A tomada de consciência por todos/as os/as educadores/as sobre o potencial do projeto de vida no currículo escolar pode proporcionar ao/à jovem:

 

  • transformar uma ideia e sonho num cenário realista;
  • ter discernimento nas próprias escolhas;
  • adquirir postura persistente na busca dos propósitos para realização de seus projetos de vida;
  • conscientizar-se sobre a necessidade dos familiares, escola e amigos/as na caminhada do seu projeto;
  • compreender quais são suas responsabilidades e os seus direitos;
  • planejar visando a concretização dos propósitos idealizados;
  • redescobrir os seus valores e potencial;
  • ter objetivos que transcendam o auto interesse e visem o bem comum.

 

O projeto de vida deve promover a compreensão sobre a importância que a escola possui na vida dos/as jovens, as possibilidades existes de desenvolvimento para que possam adquirir novas competências e habilidades que irão permitir o alcance das suas metas, sejam elas pessoais, profissionais e/ou sociais.

 

Precisa promover autoconhecimento e emancipação aos indivíduos para transformação de si e do mundo.

 

Referências bibliográficas

 

DAMON, William. O que o jovem quer da vida?: como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes. São Paulo: Summus Editorial. 1ª edição, 2009.

KLEIN, Ana Maria e ARANTES, Valeria Amorim. Projetos de Vida de Jovens Estudantes do Ensino Médio e a Escola. Educação & Realidade [online]. 2016, v. 41, n. 1 [Acessado 28 setembro 2022], pp. 135-154. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/2175-623656117>. ISSN 2175-6236. https://doi.org/10.1590/2175-623656117.

 

Bibliografia complementar

BRASIL. Resolução CNE/CP nº 4, de 17 de dezembro de 2018. Institui a Base Nacional Comum Curricular na Etapa do Ensino Médio (BNCC-EM). Brasília: Diário Oficial da União, 18 de dezembro de 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=104101-rcp004-18&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 18 jan. 2021.

BRASIL. Resolução No 3, de 21 de novembro de 2018. Atualiza as Diretrizes Nacionais para o Ensino Médio. 2018.

MATERIAIS pedagógicos projetos de vida: projetos de vida na escola: o quê? por quê? como? [S. l.]: Iungo e Instituto MRV, 2020. 15 p. v. 1. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.iungo.org.br/wp-content/uploads/2021/04/00_Projetos-de-vida-na-escola.pdf. Acesso em: 26 set. 2022.

PÁTARO, Cristina Satiê de Oliveira. Juventude e projetos vitais na sociedade contemporânea. Estudos de Psicologia, Campinas, 30(4), pp. 641-642, outubro – dezembro, 2013. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/estpsi/v30n4/17.pdf. Acesso em 16 fev. 2021.

PRIMEIRO passo: o conceito de Projetos de Vida. Produção e Gravação: Instituto Iungo. [S. l.: s. n.], 2020. Disponível em: https://youtu.be/mtaomLjMQDU. Acesso em 12 mar. 2021.

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