por Adriana Rieger e Claudia Zuppini
19/05/2025
“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante.”
Paulo Freire
No dia 20 de maio, celebramos o Dia do/a Pedagogo/a — uma data que nos convida a reconhecer e valorizar uma profissão fundamental para a qualidade da educação e a garantia do direito de aprender de todos/as os/as estudantes. Apesar de sua centralidade nos processos educativos, o trabalho do/a pedagogo/a ainda é, em muitos contextos, subvalorizado, quando não invisibilizado. Sua atuação, no entanto, é estratégica, polivalente e insubstituível.
Um percurso histórico de múltiplas transformações
A história da Pedagogia como campo de saber é longa e marcada por transformações significativas. Na Grécia Antiga, o termo paidagogos designava o escravizado que conduzia os meninos até a escola. Ainda sem o papel de ensinar, esse cuidador simbolizava o início da ideia de acompanhamento do processo formativo. Durante a Idade Média, a educação ficou restrita aos mosteiros e às instituições religiosas, com forte influência da doutrina cristã. Foi apenas no Renascimento e, especialmente, no Iluminismo, que a Pedagogia começou a se constituir como área autônoma de reflexão sobre a educação, com pensadores como Comenius, Rousseau e Pestalozzi, que propuseram uma educação mais centrada na criança, na experiência e no desenvolvimento humano.
No século XIX, a Pedagogia assume um caráter mais científico, com contribuições de pensadores como Herbart, Fröbel e outros autores ligados à sistematização do ensino. No Brasil, os primeiros cursos superiores de Pedagogia foram criados em 1939, consolidando a profissão. Ao longo do século XX, nomes como Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Paulo Freire fortalecem a concepção de que educar é também um ato político. A atuação do/a pedagogo/a ganha, assim, contornos mais complexos e articuladores, voltados para a promoção de uma escola democrática e comprometida com a transformação social.
O que faz, afinal, um/a pedagogo/a?
Hoje, o/a pedagogo/a é um/a profissional que atua de forma transversal na vida escolar. Seu trabalho envolve a organização do projeto político-pedagógico, a construção de rotinas e espaços coletivos de planejamento, a leitura e interpretação de dados de aprendizagem, a mediação entre docentes, estudantes, famílias e gestores/as, e o acompanhamento da prática docente. Também é responsabilidade desse/a profissional coordenar processos de formação continuada, propor estratégias metodológicas inclusivas, apoiar a construção curricular e fomentar uma cultura de avaliação formativa e reflexiva.
Longe de atuar de maneira isolada, o/a pedagogo/a é um elo entre as diversas dimensões da escola. Transita entre a sala de aula, os corredores, as reuniões pedagógicas, os indicadores educacionais e os conflitos que atravessam a escola. É alguém que observa o coletivo sem perder de vista as individualidades, e que sustenta a pedagogia como prática ética, política e comprometida com o direito de todos/as aprenderem.
Uma atuação ainda marcada pela invisibilidade
Mesmo diante dessa complexidade, a função pedagógica é, por vezes, associada a tarefas burocráticas e administrativas. Falta reconhecimento institucional, autonomia decisória e condições adequadas de trabalho. É urgente que a sociedade e as políticas públicas valorizem o papel desse/a profissional como parte central do projeto educativo das escolas brasileiras.
Ser pedagogo/a é enxergar o que não está escrito nos planejamentos: o silêncio de quem não se sente pertencente, o esforço de quem aprende mais devagar, o gesto de quem tenta mesmo sem ser notado. É traduzir dados em estratégias, escutar mais do que prescrever, e mediar mais do que controlar. É reconhecer que a equidade não se faz com uniformidade, mas com atenção às diferenças e compromisso com a justiça.
Por uma escola equânime e pedagógica
Uma escola verdadeiramente equânime não trata todos/as de maneira igual, mas garante a cada um/a o que precisa para aprender, pertencer e florescer. E é justamente nesse processo — muitas vezes silencioso, mas sempre intencional — que o trabalho do/a pedagogo/a se revela essencial. Mais do que conduzir estudantes ou organizar reuniões, esse/a profissional sustenta a ética do cuidado, da escuta e da construção coletiva.
Neste 20 de maio, que possamos não apenas comemorar, mas reivindicar: mais valorização, mais investimento e mais visibilidade para aqueles/as que fazem da pedagogia uma prática cotidiana de esperança e transformação.
Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 70. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2022.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos: para quê?. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 4. ed. Campinas: Autores Associados, 2007.
NÓVOA, António. Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no ensino superior. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2014.
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