Compreendendo as emoções no cotidiano profissional do Coordenador/a Pedagógico/a

por Carina do Espirito Santo

28/10/2021

 O coordenador pedagógico exerce uma função ainda em construção na realidade das escolas brasileiras. Estar atento aos documentos burocráticos, participar de reuniões de equipe, atender alunos e pais, preparar e conduzir a reunião de trabalho pedagógico coletivo, acompanhar projetos e o planejamento dos professores, além das urgências e imprevistos no seu cotidiano profissional faz parte da rotina desses profissionais.

E neste contexto, é preciso saber lidar com todas as emoções que surgem diante de tamanhas demandas. É necessário que este coordenador reconheça, antes de tudo, que ele é um ser humano e que precisa compreender suas emoções e sentimentos na busca de uma atuação positiva junto aos professores, que também são seres humanos com dimensões afetivas, cognitivas e de movimento.

Wallon, na sua teoria, nos traz algumas perspectivas de como compreender as emoções e sentimentos que agem no ser humano. Este ser inteiro e integrado, abarcado pelas dimensões citadas anteriormente, deve ser analisado em todas essas dimensões.

“Essas dimensões estão vinculadas entre si, e suas interações em constante movimento; a cada configuração resultante, temos uma totalidade responsável pelos comportamentos daquela pessoa, naquele momento, naquelas circunstâncias.

O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros.”(Mahoney, 2003)

Ao tratar dessa relação coordenador-professor, destacamos que Wallon nos traz que a emoção constitui o ponto de partida para o psiquismo na perspectiva que é pela emoção que atingimos o outro e, numa via de mão dupla, o outro também nos atinge. Esse movimento eu-outro é que influencia a cognição e afetividade. É necessário que o coordenador pedagógico esteja atento às suas próprias emoções, sendo assim, capaz de observar as emoções dos professores com o objetivo de alcançar seus objetivos.

De acordo com Dantas(1992), “a emoção traz consigo a tendência para reduzir a eficácia do funcionamento cognitivo”. Existe aqui uma relação inversamente proporcional onde, quanto menos recursos cognitivos uma pessoa tiver para enfrentar novas situações, mais reações emotivas ela terá. Nesta medida, quanto mais a dimensão cognitiva é desenvolvida, maior será a capacidade de lidar com as emoções no cotidiano.

As competências emocionais e o coordenador pedagógico

É importante então, que o coordenador use a autoconsciência para compreender e exercer o autocontrole de suas emoções.

Existe uma ideia equivocada de que o autocontrole é sinônimo de autorrepreensão. A seguir, temos a imagem das cinco competências emocionais sob o domínio do autocontrole apresentadas por Daniel Goleman:

 

Em todas as competências existe algo em comum: a escolha. É a partir desta proposição que é apresentada aos coordenadores pedagógicos a reflexão acerca das escolhas que precisam ser feitas todos os dias, em seu cotidiano profissional, quando surgem, também, as questões emocionais.

É importante evidenciar alguns pontos sobre o autocontrole:

  1. Não tem a ver com evitar as emoções – como visto anteriormente pela teoria de Wallon, esta é a dimensão que possibilita todas as outras. Desse modo, as emoções fazem parte da vida e não há problema em ficar triste ou entusiasmado em dada circunstância, mesmo que profissional.
  2. Não tem a ver com a negação ou repressão de sentimentos verdadeiros – esta negação somente impede a identificação de informações valiosas. As emoções também trazem com elas o porquê elas surgiram. Só é possível superar e aprender com as emoções se tais informações forem analisadas com clareza e honestidade.
  3. Não tem a ver com nunca exibir certas emoções – o autocontrole não está ligado a camuflar emoções e sim a expressá-las de modo a não perder o controle.

O autocontrole das emoções está ligado diretamente à autoconfiança. Quanto maior a compreensão sobre a relação entre o fracasso e a capacidade de recuperação, maior o autocontrole. Ao identificar as condições que levam à retomada e recuperação das emoções após um desafio, mais a autoconfiança é desenvolvida trazendo maior autocontrole das emoções.

E diante da tomada de consciência desse processo de autocontrole das emoções e do desenvolvimento da autoconfiança, o coordenador pedagógico necessita compreender também que a “formação de sua própria consciência crítica, como ponto de partida para efetivação de uma atuação prática condizente com a construção de um projeto coletivo com compromissos sociais.” (Placco, 1994)

As competências emocionais e a relação professor-coordenador

Ao olhar para este coordenador pedagógico, que compreende suas próprias emoções, e é capaz de usá-las de modo produtivo em seu cotidiano profissional, é preciso trazer a relevância de sua relação com os professores. E pensar nesta relação é colocar em evidência a comunicação que precisa se estabelecer. Como apresenta Vieira (2012), a possibilidade de expor para o outro, em palavras ou em gestos, o que se sente, reduz o efeito paralisador da emoção. Ao estabelecer essa relação com o outro é necessário que habilidades de relacionamento interpessoal sejam colocadas em prática na busca da verdadeira comunicação.

Cabe aqui a compreensão de que numa comunicação efetiva nesta relação professor-coordenador Almeida (2001) traz o falar autêntico, o ouvir ativo e o olhar atento do coordenador pedagógico no que tange sua função de formador de professores no cotidiano escolar.

Nesta reflexão, entende-se que essa relação envolve “[…] questões afetivas, no campo dos desejos, das expectativas, dos motivos, das intenções, das crenças, dos valores, das parcerias, da cooperação, da socialização e até das competições, entre outros […]” (PLACCO, 2010, p. 63).

Todas essas questões reforçam o papel do coordenador pedagógico como um sujeito que exerce uma escuta que favorece o diálogo quando promove discussões bem planejadas ou cria espaço de socialização de ideias e experiências, entre outras situações que favorecem a comunicação. Essa ação de promoção desse diálogo só é possível quando o coordenador pedagógico permite-se compreender o seu papel ativo nas ações interpessoais. Algumas dessas ações são apresentadas por Almeida (2012):

“O planejamento e os movimentos de formação dos professores para uma melhor prática docente precisam ser equacionados pelo coordenador pedagógico mediante uma interlocução participada, de uma ampliação na comunicação entre os educadores da unidade escolar, enfrentando juntos – solidária e confiantemente – tanto o caminho das dificuldades e dos obstáculos como o das descobertas e da construção de respostas aos desafios da prática cotidiana, sejam eles da ordem da ciência e do conhecimento, sejam eles da ordem das relações e dos afetos.”

 

Bibliografias

PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza e ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. O coordenador pedagógico e o cotidiano da escola. São Paulo: Loyola, 2012.

PLACCO, V. M. N. A sala de aula como lócus de relações interpessoais e pedagógicas. In: ALMEIDA, L. R. de; PLACCO, V. M. N. (Org.). O coordenador pedagógico e os desafios da educação. 2. ed. São Paulo: Editora Loyola, 2010.

PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. Confrontos e questionamentos. São Paulo: Loyola, 1994.

TAN, C.-M. Busque dentro de você. Tradução Paulo Polzonoff Jr. Ribeirão Preto, SP:   Novo Conceito Editora, 2014.]

carinaespiritosanto

 

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