Estou formador/a! E agora?

por Fernanda Zerbinatti

12/12/2022

De repente você se percebe formador/a de adultos/as professores/as. Independente da forma como chegou a esta posição, é importante refletir sobre o seu impacto para si e para o outro.

 

Talvez a ideia de ocupar esse espaço não tenha governado seus pensamentos inicialmente, mas como o próprio título desse texto revela, nesse momento, você deve estar nessa colocação (ou rumo a ela)! Desenvolver a ação formativa consiste uma tarefa genuína em prol do desenvolvimento humano de forma colaborativa. Na medida em que contribui para o aperfeiçoamento profissional de pessoas, você também se desenvolve. Nesse contexto em prol do aprimoramento de habilidades e competências, se torna imperativo uma autorreflexão sobre as potencialidades que identifica e os aspectos de fragilidade com vista ao engajamento necessário para avançar do ponto em que se encontra à condição que almeja conquistar. Antes de colaborar com o desenvolvimento de outras pessoas, é preciso clareza sobre si mesmo/a; sobre seus desafios, estratégias e escolhas para as próprias conquistas e em benefício do respectivo desenvolvimento. De acordo com os autores Tom Kelley e David Kelley (2019) aprender, precisa ser um processo contínuo e deliberado:

 

“Por mais que suba na carreira e por mais expertise que acumule, você ainda precisa renovar o seu conhecimento e seus insights. De outra forma, pode desenvolver uma falsa confiança naquilo que já “sabe”, o que pode levá-lo a tomar a decisão errada. A intuição embasada só é útil quando se fundamenta em informações precisas e atualizadas.” (p.91).

 

 

É necessário ter experiências sobre o próprio percurso de aperfeiçoamento profissional para colaborar com a trajetória formativa de diferentes pessoas; por isso vivenciar situações diversas é tão importante! Tudo começa com uma escolha! Escolher ser reflexivo/a, colaborativo/a, parceiro/a, proativo/a, aberto/a ao novo, desenvolver uma escuta ativa e empática, ser disponível para transpor desafios e ter humildade. O grande desafio está em tornar essa escolha, intencional e significativa, ao ponto de impulsionar-lhe ao fortalecimento do seu mindset de crescimento como meio de busca para as mudanças que necessita empreender em prol da qualificação da ação formativa. A primeira pessoa que precisa vislumbrar seu desenvolvimento e atuação de excelência é você!

 

Ter clareza do seu propósito como formador/a de adultos/as professores/as favorecerá vivenciar um processo que o/a conduza ao seu crescimento integral, como pessoa e profissional. O foco deve ser no esforço empreendido para a aquisição de novos conhecimentos, na manutenção dos saberes existentes, e na ressignificação de práticas e conceitos por meio do estudo, da reflexão sobre a prática e das escolhas que direcionarão o avanço para os objetivos e metas estabelecidos! Sim, é preciso estipular metas e objetivos para a autoformação, como meio de contribuir para a definição do caminho a ser trilhado junto ao desenvolvimento das pessoas, a partir do próprio amadurecimento. Estar formador/a implica uma contínua (e resiliente) busca pelo aperfeiçoamento profissional por intermédio do aprendizado contínuo. Você tem essa disposição? Precisa aflorá-la?

 

Como já disse Paulo Freire (1921- 1997) “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. Desempenhar a ação formativa implica estudo permanente e autorreflexão. Essas duas ações fazem parte da sua rotina profissional? Exercitar a humildade pedagógica favorece a clareza sobre quão vulnerável uma pessoa pode se tornar, ao supor que a condição de formador/a lhe atribui um destaque de titular do saber. É fato que a própria função implica ser um parceiro/a experiente em determinado assunto. Todavia, é imprudência desconsiderar que as pessoas com as quais contribuiremos com o nosso saber também possuem suas próprias trajetórias de desenvolvimento e conhecimento.

 

O primeiro passo é perceber-se aprendiz e verificar sua prioridade de aprendizagem. Contar com a colaboração de profissionais experientes permitirá a criação de uma rede de apoio produtiva. Em que medida você se dispõe aprender com os/as formadores/as mais experientes nas habilidades que você considera, não consolidadas, nesse momento, ou que eles/as se destacam? De que forma estabelece relações em benefício da sua aprendizagem de forma colaborativa? Vale a leitura de dois materiais que temos em nosso blog e versam sobre o tema na perspectiva da ação formativa:

 

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Após o estudo e a reflexão, deve-se seguir para a tomada de decisão, ou seja, a ação formativa propriamente dita com as devidas implicações:

 

 

Numa perspectiva ampla, a ação formativa prevê estudos específicos, sobre a aprendizagem do adulto professor, desenvolvimento de encontros formativos em ambientes presenciais e virtuais para a promoção de vivências colaborativas e reflexivas em prol de aprendizagens previamente estabelecidas. Não menos importante, temos também a elaboração de feedbacks formativos, que por vezes, demandam ressignificação em função de situações adversas vivenciadas pelo grupo. O caminho da reconstrução requer um processo mais longo e personalizado.

 

Conhecer o público alvo, definir objetivos de aprendizagem com base nas competências almejadas pelas instituições de ensino e nas necessidades formativas do grupo são processos possíveis de execução eficaz na medida em que a tomada de decisão para a seleção das melhores e estratégias e recursos for pautada na necessidade e na aprendizagem do cliente principal: estudantes em sala de aula.

 

Manter uma mentalidade de observação e colaboração é fundamental para evitar julgamentos desnecessários que possam comprometer o estabelecimento de uma relação saudável entre formador/a e cursista. Além disso, é preponderante assegurar a aplicação de estratégias para a manutenção do engajamento do grupo, visto que, os percursos formativos ocorrem de forma concomitante às demandas profissionais e pessoais. Investir na ampliação desse repertório consiste mais um item útil para a lista de demandas do/a formador/a.

 

Ao assumir o compromisso com a ação formativa, será preciso verificar dentre as habilidades necessárias ao seu respectivo desenvolvimento, as que estão consolidadas, as consideradas em desenvolvimento e aquelas que lhe parecem desafiadoras. De acordo com a matriz de competências desenvolvidas pela equipe da Elos Educacional, a atuação do/a formador/a prevê seis dimensões que compreendem objetos de conhecimento e habilidades específicas. O detalhamento desse documento é praticado no curso Formação de formadores/as, constituído especialmente com foco na ação formativa:

 

 

 

Refletir sobre cada dimensão favorecerá a elaboração de um plano de desenvolvimento profissional assertivo às suas necessidades como formador/a. Lembre-se de manter no radar da sua agenda a revisão do seu plano, pois de acordo com cada atuação profissional, as demandas serão alteradas e esse movimento impactará sua projeção de aperfeiçoamento profissional na perspectiva formativa.

 

Estar formador/a é uma grande responsabilidade social, pois implica humanidade e profissionalismo para colaborar de forma genuína com o desenvolvimento de educadores/as em prol da educação de qualidade para a equidade! Representa uma forma de contribuir para um mundo melhor! Bem- vindes ao time!

 

“Todos somos obras em progresso. Cada dia traz a oportunidade de aprendermos mais, sermos mais, crescermos mais na vida e na carreira. Manter sua carreira permanentemente em beta o força a reconhecer que tem defeitos, que existe algo em você para ser desenvolvido, que você vai precisar adaptar-se e crescer. Mas ainda assim, trata-se de uma disposição mental que transborda otimismo porque celebra o fato de que você tem potencial para aperfeiçoar-se e, tão importante quanto isso, para melhorar o mundo à sua volta”. (HOFFMAN, Reid; CASNOVHA, Ben. 2019. p 21).

 

 

 

Referências:

 

DWECK, Carol S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. Trad. S. Duarte. 1ª ed. São Paulo: Objetiva, 2017.

 

FREIRE, Paulo. Citações. Disponível em https://citacoes.in/citacoes/596179-paulo-freire-ninguem-nasce-feito-e-experimentando-nos-no-mundo/. Acesso em 28 de out. de 2022.

 

HOFFMAN, Reid; CASNOCHA, Ben. Comece por você- Adapte-se ao futuro, invista em você e transforme a sua carreira. Trad. Luciene Scalzo. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019.

 

KELLEY, Tom; KELLEY, David. Confiança Criativa. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019.

PLACCO, Vera; SOUZA, Vera (et al). Aprendizagem do adulto professor. 2.ed. São Paulo: Loyola, 2015

 

VIEIRA, Paulo. O poder da ação. São Paulo. Gente Editora; 2015.

 

 

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Comentários sobre o texto

  1. Ariene campos disse:

    Aprender mais e sempre, sempre falo isso para os meus filhos, nós nunca sabemos tudo por mais que estudamos para aquilo sempre é tempo de aprender mais!!!

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, Ariene. Manter a consciência sobre nossa condição de aprendiz e estar disponível para aprender consiste uma condição essencial para nosso aperfeiçoamento e evolução; não é mesmo?

  2. Andréa Araújo dos Santos disse:

    Parabéns, Fernanda!
    Com seu texto é possível pensar em rotas de aperfeiçoamento profissional!
    Obrigada!

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, Andréa. Agradeço seu feedback e fico feliz em colaborar com a ampliação do olhar para novas possibilidades de avanço profissional. Forte abraço.

  3. Carlos Walter Dorlass disse:

    O material apresentado está alinhado às minhas crenças quanto formador de educadores. Se desejamos falar de futuro precisamos nos (re)educar. Nós educadores temos o privilégio de partilhar experiências e também de aprender. Parabéns pelo material.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, Carlos. Fico feliz em saber que o texto dialogou com você de forma significativa. A aprendizagem é um processo que envolve quem ensina e quem aprende, como já dizia o mestre Paulo Freie. Forte abraço.

  4. Fabiany Funes Molina Zilio disse:

    De acordo com o texto “Estou formador/a! E agora?” é possível reconhecer a responsabilidade assumida pelo profissional que se dispõe ao papel de formador/a, sempre com o objetivo de aperfeiçoar, não somente a prática do alvo da formação, mas a própria prática. É preciso ter consciência de que, assim como eles/as, enquanto formador/as estamos em constante aprendizado. É o conhecimento contínuo que nos movimenta, portanto, devemos estar abertos às trocas de experiências, que nos alimenta enquanto profissionais da educação.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Fabiany, agradeço a reflexão! A troca de experiências caracteriza uma fonte rica de aprendizado entre os pares, como você bem sinalizou. Para apoiar o desenvolvimento profissional de uma pessoa é importante que o/a formador/a se perceba na condição de aprendiz e busque qualificação por meio de um processo de autorreflexão que lhe favoreça atribuir sentido ao aperfeiçoamento almejado. Perceber-se parte de um processo amplia o olhar sobre o percurso do outro. Grande abraço.

  5. Renata disse:

    Este texto foi muito interessante, principalmente, por dialogar com uma leitura recente que fiz sobre a “materialidade histórico-dialética” de Karl Marx e Engels como base à educação, visando a equidade de oportunidades/aprendizagens.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Renata, obrigada por sua contribuição! Entendo a garantia da equidade nos mais diferentes processos de ensino e aprendizagem, um movimento elementar para que de fato todos/as possam aprender no seu tempo e ao seu modo de forma significativa. É exercitar o olhar para o todo, mas também para cada um/a partindo de nós mesmos/as.

  6. Carlos W. Dorlass disse:

    O material foi produzido com muito cuidado e leva o formador a ter orgulho de poder participar da formação de colegas para o bem dos estudantes.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, Carlos.
      Obrigada pelas palavras e atenção ao texto!

  7. José aldinar osorio de lima disse:

    O conhecimento é a nossa fonte de vida.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, José!
      Conhecimento é libertador, não é mesmo?!

  8. José aldinar osorio de lima disse:

    O conhecimento é a nossa fonte de vida.

  9. Nicolly de Oliveira Noel Santos disse:

    O formador de professores tem uma enorme responsalidade com o outro e principalmente consigo mesmo. É essencial estar bem, para que todo o ensinamento seja compartilhado da melhor forma, e a partir daí, também estar aberto a novas aprendizagens daqueles que estão se formando.

    1. Elos disse:

      Exatamente Niccoly.
      Obrigada. Abraços!

    2. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, Nicolly.
      Agradeço sua contribuição. Com certeza, o lugar da formação é um espaço de responsabilidade e compromisso! Grande abraço.

  10. Kimberly Barbeitos disse:

    Texto com pontos riquíssimos que nos levam a refletir que nada é tão obvio que não precise ser dito, acolhido, debatido e aprimorado.

    1. Elos disse:

      Obrigada. Abraços!

    2. Fernanda Zerbinatti disse:

      Kimberly,
      agradeço seu destaque. Concordo com você: o óbvio precisa ser dito sempre. Pessoas possuem perspectivas diferentes e processos de compreensão também distintos!
      Forte abraço.

  11. Ednéia Conceição disse:

    Esse texto traz uma profunda reflexão sobre a responsabilidade de ser formador. Inclusive que essa função seja desempenhada com qualidade e excelência. Aprender a aprender e se ver como mediador e facilitador desse processo são competências fundamentais para que o formador possa contribuir efetivamente para a formação de profissionais comprometidos e capazes de promover uma educação de qualidade. Excelente!

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, Ednéia.
      Obrigada por sua contribuição! A formação de fato compreender a prática dos quatro pilares da educação. Forte abraço.

  12. Rosângela Delage disse:

    Gostei muito da abordagem e da forma como foram apresentadas as dimensões do processo formativo. O texto norteia o trabalho, orienta e auxilia a prática EAD.

  13. Rosângela Delage disse:

    Gostei muito da abordagem e da forma como foram apresentadas as dimensões do processo formativo. O texto norteia o trabalho, orienta e auxilia a prática EAD apontando possíveis caminhos.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Obrigada por seu feedback, Rosângela. Bom saber que a leitura foi útil. Grande abraço.

  14. Rosângela Delage disse:

    A forma como foram apresentadas as dimensões do processo formativo norteia o trabalho, orienta e auxilia a prática EAD apontando possíveis caminhos.

  15. Rosângela Delage disse:

    O texto contribui com a aprendizagem dos professores e, consequentemente, com a aprendizagem dos alunos. norteia o trabalho, orienta e auxilia a prática EAD apontando possíveis caminhos.

  16. Rosângela Delage disse:

    O texto contribui com a aprendizagem dos professores e, consequentemente, com a aprendizagem dos alunos. norteia o trabalho, orienta e auxilia a prática EAD.

  17. Rosângela Delage disse:

    E educação nos permite desafios cada vez maiores. Aprender sempre e mais faz com que esses desafios sejam superados buscando alcançar excelência. A forma como as dimensões foram apresentadas auxiliam o processo de aprendizagem EAD.

  18. Marcia de Mattos Sanches disse:

    O texto aborda com clareza as etapas que contribuem para o papel do formador de professores, visto ser necessária uma autorreflexão do que se sabe sobre as habilidades e competências a serem desenvolvidas, aliadas ao que é preciso aprender ao longo das trocas de experiências com o público alvo, bem como de que forma todo esse conhecimento poderá ser aplicado com clareza. Mediante a todo esse processo complexo, exige-se enfrentar os desafios, selecionar estratégias condizentes, de modo a contribuir para o seu próprio desenvolvimento e daqueles que estão envolvidos no processo.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Olá, Márcia.
      De fato, a autorreflexão deve nortear a ação formativa, com vista a uma prática coerente e repleta de sentidos para todas as pessoas envolvidas no percurso de estudo proposto.
      Agradeço sua contribuição.

  19. Antônio Luiz de Moraes disse:

    Estar formador de educadores implica uma atitude ética de ser verdadeiro em palavras e atitudes. De fato, para poder colaborar genuinamente com o desenvolvimento de outras pessoas é imprescindível, em primeiro lugar, estar sinceramente comprometido com o próprio desenvolvimento.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Antônio, obrigada pela reflexão.
      De fato é preciso diminuir a distância entre o falar e o fazer ao ponto que não exista espaço entre as duas ações; concorda?

  20. Antônio Luiz de Moraes disse:

    Excelente texto!!! Sensível e inspirador. Sempre é possível ser e fazer mais e melhor quando nos propomos honestamente a enxergar além do óbvio. Parabéns à autora.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Antônio, agradeço seu feedback.

  21. Janaina Brito Carvalho disse:

    O texto traz uma abordagem atual e bastante significativa sobre o “ser” e o “fazer” do formador. Destaca importantes aspectos que devem ser elencados na atuação profissional do professor que ocupa esta função, bem como, elenca a que sua atuação deve prevê dimensões. que compreendem objetos de conhecimento e habilidades específicas. Sendo assim, as dimensões são: O ambiente deve estar favorável para a aprendizagem. Liderança e contribuição no desenvolvimento profissional. Ensino para aprendizagem dos adultos. Contextualização do processo educativo. Competências para a educação a distância e Feedbacks escritos.

    1. Fernanda Zerbinatti disse:

      Janaína, agradeço a síntese!
      Fico feliz em colaborar!
      Forte abraço.

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