Como formar uma equipe escolar engajada no combate ao racismo?

por Silvana Tamassia

30/06/2025

Para que a escola seja de fato um espaço seguro, acolhedor e comprometido com a equidade racial, é necessário formar uma equipe escolar engajada, consciente e ativa nesse enfrentamento. O combate ao racismo no ambiente escolar é responsabilidade de todas as pessoas e não apenas das pessoas negras.
Engana-se, também, quem acredita que este é um tema apenas para turmas com estudantes negros/as. A Educação para as Relações Étnico Raciais (ERER) deve ser trabalhada em todas as escolas do país, pois para que a nossa sociedade seja mais justa, precisamos conscientizar todas as pessoas, independente de sua cor/raça, pois cada uma é responsável por fazer a diferença, a partir do seu contexto.

E o primeiro passo para essa transformação na escola é a formação de uma equipe comprometida e que reconheça que o racismo não é um problema isolado ou restrito a atitudes individuais. Ele estrutura as relações sociais, impacta a vivência de crianças e adolescentes negros/as na escola e está presente em práticas aparentemente inofensivas do cotidiano escolar.

 

A seguir, compartilhamos algumas estratégias para promover esta educação antirracista:

 

1. Formação continuada

Investir em estudos sobre relações étnico-raciais é o primeiro passo. O conhecimento é como uma lente que faz com que possamos enxergar coisas que antes passavam despercebidas no cotidiano da escola e no nosso dia a dia.

As Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 estabelecem a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nos currículos da educação básica, desde o Ensino Fundamental ao Médio. Porém, é preciso que a equipe docente esteja preparada para esse trabalho, para que ele seja realmente efetivo.

Trazer este tema de maneira intencional para as formações que acontecem nas escolas é fundamental para dar o primeiro passo ou para quem pretende aprofundar as ações nesta frente de trabalho.

 

2. Promoção de espaços de escuta

Numa escola que pretende formar pessoas antirracistas, os momentos de escuta devem fazer parte da rotina.

Ouvir estudantes e equipe docente sobre situações do cotidiano, sem minimizar relatos de discriminação, é essencial para criar vínculos e fortalecer sua autoestima, além de ser primordial para que possamos compreender, a partir de vivências reais, quais os desafios enfrentados por essa população na escola e pensar em maneiras de acolhê-la e desenvolver ações para mudar o cenário.

 

3. Liderança com propósito

Como em qualquer ação que pretenda engajar toda a comunidade escolar, a equipe gestora precisa assumir a linha de frente, garantindo espaço institucional para que o tema seja colocado em destaque, apoiando educadores/as e orientando decisões pedagógicas com base na equidade racial e nos pilares de uma educação antirracista.

É a liderança que garante espaço na agenda institucional para as formações, articula projetos com a comunidade, apoia os/as educadores/as e garante que o tema não seja tratado apenas em datas comemorativas.

 

4. Compromisso coletivo

Cada pessoa da equipe escolar — professores/as, coordenadores/as, estudantes e equipe de apoio — deve entender seu papel no combate ao racismo a partir do seu lugar de atuação.
Para a equipe pedagógica, pensar na representatividade nos conteúdos, valorização da identidade negra e resposta rápida a qualquer manifestação de racismo é o primeiro passo.
Para a equipe de apoio, acolher estudantes que estejam em situação de vulnerabilidade nos momentos em que estão fora da sala de aula é muito importante para que se sintam cuidados/as.

Para gestores/as, olhar também para a equipe docente é fundamental, pois em alguns casos, eles/as também sobrem com o racismo velado ou explícito dentro da sala de aula.
Além disso, o compromisso antirracista precisa ser expresso em documentos da escola – como o projeto político-pedagógico (PPP), desenhado com o apoio de toda a comunidade escolar – e refletido nas decisões pedagógicas e administrativas.

 

5. Se questione! Se incomode!

Chegamos, assim, à seguinte pergunta: o que, de fato, cada um de nós tem feito e pode fazer pela luta antirracista? O autoquestionamento — fazer perguntas, entender seu lugar e duvidar do que parece “natural” — é a primeira medida para evitar reproduzir esse tipo de violência, que privilegia uns e oprime outros. (Ribeiro, Djamila. 2019, p. 11)

Antes de falar das outras pessoas, olhe para você e para suas atitudes. Você tem se calado diante de situações racistas ou tem se posicionado? Você tem escolhido autores/as negros/as, assistido filmes com atores/as negras/as e seguido pessoas e páginas que tragam conteúdos antirracistas?
Cada ação que fazemos ou cada ação que deixamos de fazer demonstra nossos valores e como temos apoiado essa causa.

Uma escola antirracista se constrói com coragem, consciência e ação intencional. E isso começa com cada um/a de nós.

Ouça também o Podcast pelo Spotify

 

 

Referências:
• RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

Gostou? Compartilhe nas suas redes!

Comente qual sua opinião sobre esse texto!

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

artigos relacionados

Inscreva-se na nossa Newsletter