O poder da empatia

por Adriana Rieger

31/05/2021

Se você pudesse mudar o mundo, o que você mudaria primeiro? Qual é o problema do mundo que te mais te incomoda?

Certamente a lista é grande: desrespeito, preconceito, intolerância, violência, guerras, pobreza, desigualdade, manipulação da indústria, consumismo, exploração, destruição ambiental, mudanças climáticas, falta de coletividade, ausência de propósito, baixa autoestima, desesperança, hipocrisia, egoísmo, corrupção, bullying, educação limitadora etc.

É da necessidade de se entender o mundo, entender as pessoas que compartilham esse mundo conosco e entender a nós mesmos como parte disso tudo que surge a oportunidade de estudarmos as nossas relações através de um olhar mais humano e profundo.

Esse é o papel da empatia: expandir e aprofundar nosso olhar, nossa escuta, nosso entendimento e nossa percepção. E não podemos negar que estas são habilidades urgentes para o aperfeiçoamento da qualidade de vida de todas as pessoas, tanto na vida pessoal quanto na profissional.

Se fossemos definir o que é empatia em uma única frase simples e concisa, poderia ser: a habilidade socioemocional de se colocar no lugar do outro, adotando sua perspectiva e compartilhando das mesmas emoções. Mas, na prática, a empatia tem o potencial de ser mais complexa do que isso. A maioria das pessoas, quando escuta sobre empatia, atribui a ela a ideia fofa e delicada de olhar para o outro com compaixão e entendimento. A empatia vai muito além disso.

Empatia é sobre compartilhamento, seja ele de sentimentos e sensações boas ou ruins. É uma conexão que abrange as camadas mais profundas do ser, e que não faz distinção entre valores positivos ou negativos.

Ser empático é olhar, escutar e sentir o que o outro vê, escuta e sente – e sem que ele precise pedir. Empatia é a mais pura conexão entre um ser humano e outro. Não é sobre ver. É sobre enxergar através. É aquele passo que damos para trás, a fim de entender quem é aquela pessoa e como podemos nos conectar com ela de forma que faça sentido para as necessidades que ela está expressando no momento.

É avaliar o que existe por trás das atitudes e reações das pessoas, compreendendo as razões que motivam seus comportamentos. A empatia está no entendimento, e não na tentativa incansável de transformar ou solucionar uma situação. A empatia não procura uma resolução, não corre atrás do futuro, e sim te coloca no presente.

Empatizar é abrir mão de querer ser um super-herói e simplesmente reconhecer as fraquezas e forças dentro de si mesmo e do outro. É parar de ver as pessoas como vítimas ou ameaças. Ser empático é a escolha de tirar de si todas as armas internas que te afastam das pessoas. É a cura da agressividade, da não-escuta e do não-entendimento e o primeiro passo para a construção de relacionamentos mais próximos e verdadeiros.

Nosso cérebro tem a capacidade de espelhar coisas. Ele interpreta e reproduz dentro dele mesmo tudo o que vemos no outro – ou que vemos acontecer com o outro. Quer fazer um teste? Imagine a professora raspando as pontas das unhas na lousa ou alguém cortando o dedo na borda de uma folha de sulfite, ou ainda uma criança andando no parapeito do 5º andar de um prédio. Imaginou?

E nem precisa ser algo que desperte aflição ou qualquer tipo de emoção muito intensa. Nossa habilidade de repetir gestos simples e complexos, imitar pessoas e aprender coisas novas é o que nos torna capazes de empatizar.

Segundo as descobertas do neurofisiologista italiano Giacomo Rizzolatt e outros estudos que sucederam suas pesquisas, o cérebro humano possui um mecanismo que chamamos de “sistema de neurônios espelho”. Este mecanismo serve para auxiliar a reprodução de movimentos, ações e até sentimentos. Todas as vezes que você se emocionou em um casamento ou sentiu palpitações de ansiedade com um filme de suspense, era o seu sistema de neurônios espelho trabalhando.

Quando falamos em neurociência da empatia, estes neurônios tomam um dos papéis mais importantes de seu mecanismo. Eles são grandes responsáveis pelo desenvolvimento da nossa habilidade de praticar a empatia. Nascemos com essas estruturas, mecanismos e processos cerebrais justamente para facilitar nossas conexões com outras pessoas e permitir que possamos expressar e compartilhar empatia. Estamos acostumados a presumir e acreditar que o ser humano não é empático por natureza. Pois acredite se quiser, a neurociência já conseguiu comprovar que sim: nascemos empáticos!

Somos, de fato, seres sociais feitos para viver em sociedade. Nossa natureza ou todo o funcionamento da nossa espécie em nível biológico, gira em torno da necessidade de conexão, pertencimento e socialização, independente do contexto.

Pesquisas experimentais da área da neurociência já observaram o funcionamento do sistema de neurônios espelho por trás da empatia. Muitos pesquisadores, incluindo o neurocirurgião franco-alemão Christian Keysers, que estuda há anos a neurociência no processo empático, descobriram que as mesmas áreas do cérebro estimuladas por experiências físicas eram ativadas quando a mesma pessoa vivenciava episódios empáticos.

Isso quer dizer que quando vemos um vídeo de alguém sentindo dor e quando nós mesmos sentimos aquela dor, exatamente as mesmas partes do nosso cérebro que são afetadas naquela pessoa, “acendem” no nosso cérebro também. No entanto isso não acontece com todo mundo.

Embora a empatia seja parte da composição do nosso cérebro, nem todas as pessoas sentem empatia da mesma forma ou na mesma intensidade. Todos possuem empatia, porém, alguns sentem mais e outros menos. O que diferencia estes dois perfis, segundo Keysers, é o tamanho do canal que leva a informação recebida da parte visual do seu cérebro à parte emocional.

Algumas pessoas são capazes de identificar os sentimentos do outro, mas não de senti-los dentro delas mesmas. No meio do caminho, a informação se perde. E o meio do caminho é exatamente este canal. Apesar da empatia ser inata, ela também pode ser treinada. E isso tudo porque nosso cérebro é plástico. A neurociência entende o nosso cérebro como um órgão que funciona de forma muito parecida com os nossos músculos: ele se molda e se adapta a todo e qualquer estímulo que a gente recebe. E é este o princípio da nossa aprendizagem. Quando aprendemos algo novo, nosso cérebro começa a desenvolver novas estruturas específicas, que chamamos de rotas neurais (circuitos feitos por neurônios interligados). Nossos neurônios se comunicam entre si por meio de conexões que chamamos de sinapses, criando sinais elétricos que viajam pelo nosso cérebro. A neuroplasticidade é nada mais do que a habilidade do nosso cérebro de se reestruturar e se recuperar. E ela tem um papel essencial nos processos de aprendizagem que temos ao longo da vida, afinal, é o que permite a nossa evolução.

Toda vez que aprendemos algo novo, uma nova rota neural é criada, e essa mesma rota é repetida ao exercitarmos aquele aprendizado novamente. Quanto mais treinamos uma atividade, mais essa rota é trilhada pelo cérebro, e mais eficiente se tornam os seus sinais elétricos. A plasticidade do cérebro é responsável pela nossa capacidade de nos tornarmos proficientes em uma habilidade, inclusive a empatia. Ao exercitar o olhar cuidadoso e a compassividade, as rotas que se constroem a partir dos seus neurônios espelho se tornam cada vez mais naturais.

A ciência também diz que o ato de empatizar acontece a partir da intersecção de dois componentes que são essenciais para o processo empático: a empatia cognitiva e a empatia afetiva. Quando exercitamos a empatia, são estes dois componentes que trabalham: o pensar e o sentir.

O pensar ou a empatia cognitiva, é a nossa capacidade de racionalmente compreender ou imaginar o que o outro pensa ou sente. O sentir, ou a nossa empatia afetiva, está relacionada à nossa capacidade de se conectar e compartilhar o sentimento do outro. Precisamos, ao mesmo tempo, ser capazes de compreender racionalmente a situação do outro e imaginar como se sente e, também, se deixar tocar emocionalmente pelos seus sentimentos. Sem qualquer um desses dois elementos, a empatia se torna um processo incompleto e não atinge o seu objetivo final, que é a CONEXÃO.

Entendeu por que essas duas dimensões da empatia são tão importantes? Compreender este e outros mecanismos que nosso cérebro utiliza por trás da prática da empatia nos ajuda não só a aprofundar o nosso entendimento do que é a empatia, mas, também, a provocar o nosso entendimento acerca de nós mesmos como seres humanos. Quando percebemos que é tudo uma questão de adaptação, desenvolvimento e processo, nos sentimos mais capazes de aprender a praticar e aplicar a empatia em nossas vidas.

Você nasceu empático, e então, o que você escolhe ser agora?

Seguem algumas sugestões de leituras interessantes para se aprofundar sobre o tema:

  • O Poder da Empatia, de Roman Krznaric, da editora Zahar (2015);
  • Presença: Propósito Humano e o campo do futuro, de Peter Senge, editora Cultrix (2007);
  • A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown, editora Sextante (2016).

Referências:

Gostou? Compartilhe nas suas redes!

Comente qual sua opinião sobre esse texto!

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

artigos relacionados

Inscreva-se na nossa Newsletter