O que podemos aprender com os resultados do PISA

por Silvana Tamassia

14/12/2023

No início de dezembro foram divulgados os resultados do PISA, sigla em inglês para Programme for International Student Assessment. É o maior estudo sobre educação no mundo, sendo realizado a cada 3 anos, com estudantes de 15 anos de idade, próxima ao que é considerado o final da escolaridade obrigatória na maioria dos países participantes. Em sua última edição (2022) envolveu 81 países.

 

Neste ano, participaram da avaliação 10.798 estudantes brasileiros/as. Destes/as, 81,9% estão matriculados/as no Ensino Médio, o que é um avanço em comparação às primeiras edições nas quais a distorção idade x série era tão grande que a maioria dos/as participantes estava, ainda, no Ensino Fundamental.

 

O PISA avalia conhecimentos em Matemática, Leitura e Ciências e, a cada edição, foca em uma dessas áreas, sendo esta última, em Matemática. Entretanto, esses conhecimentos não se referem apenas ao conteúdo de cada área. Em matemática, por exemplo, o objetivo não é avaliar se o aluno aprendeu o uso de fórmulas, conceitos ou equações, mas a capacidade de usar e interpretar a matemática em situações do dia a dia, aplicando os conhecimentos em novos contextos.

 

Depois de passarmos por uma pandemia e termos as escolas fechadas por aproximadamente 2 anos no Brasil, país que mais tempo ficou com as escolas fechadas no mundo, esperava-se uma queda significativa nos resultados, o que não aconteceu.

 

Em Matemática, a queda foi de 5 pontos, em Leitura de 3 pontos e em Ciências, apenas 1 ponto.

 

Ao compararmos com outros países da OCDE, observamos que, em média, a queda nesses países foi significativamente maior. No entanto, o Brasil ainda permanece substancialmente abaixo da média nas três áreas. Apesar da estabilidade mantida ao longo de alguns anos, encontramo-nos em um patamar consideravelmente baixo. Portanto, em vez de celebrarmos a redução modesta que experimentamos, devemos direcionar nossa atenção para a falta de progresso notável nos últimos anos, permanecendo praticamente estáveis em várias edições, conforme evidenciado no gráfico abaixo:

 

 

Analisando a comparação feita pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) podemos compreender algumas especificidades para além da média apresentada e que nos coloca entre os 20 mais mal colocados nos resultados de Matemática, por exemplo. O estudo do INEP comparou países da América Latina, países que se destacaram nos últimos anos e a média da OCDE e Brasil.

 

No contexto da Matemática, é perceptível que o Brasil se encontra próximo da média da América Latina, com exceção do Chile e do Uruguai, que apresentam desempenho ligeiramente superior, e do Panamá, que registra um resultado um pouco abaixo. No entanto, ao nos distanciarmos em 93 pontos da média da OCDE, fica evidente que estamos significativamente abaixo dos líderes, os quais, mesmo em contextos diversos, demonstram que é possível progredir gradualmente. Isso ressalta a importância do esforço e envolvimento conjunto do governo, da sociedade e de especialistas, como tem sido observado no Chile, um país que se destaca na América Latina.

 

 

A situação do Brasil piora se olharmos para além da média. A avaliação mapeia 6 níveis de desempenho, sendo o nível 1 ou abaixo disso considerado baixo desempenho e níveis 5 e 6, alto desempenho.

 

Ao analisarmos o número de avaliações com baixo desempenho, o Brasil tem 73% de estudantes neste nível, mais que o dobro da média da OCDE.  Isso demonstra que, apesar de estarmos estáveis, 73% dos/as estudantes brasileiros não estão aprendendo o que deveriam, considerando que 2 é o nível básico e, provavelmente, por este motivo a queda não foi tão significativa, já que os indicadores já eram muito abaixo do esperado. Na outra ponta, podemos perceber que não tivemos estudantes avaliados/as com alto desempenho (níveis 5 e 6).

 

 

Para não ficarmos apenas com nosso olhar na média, precisamos entender o quanto isso reflete as diferentes realidades brasileiras, pois sabemos que nem todos/as os estudantes têm as mesmas oportunidades.

 

Se olharmos para as regiões do Brasil, podemos notar que a média na região sul é a mais alta e na região norte a mais baixa (37 pontos a menos). Isso é importante para entendermos como o governo federal precisa pensar em políticas públicas mais equitativas e que olhem para cada região do Brasil atendendo suas especificidades e garantindo que todos/as os/as estudantes tenham oportunidades que olhem para seu ponto de partida, seja qual for o local em que resida.

 

 

Outro aspecto importante é olharmos para o ensino público x ensino privado. Se compararmos os resultados de estudantes da rede pública estadual, onde está a maioria dos/as participantes (73,6%), com estudantes da rede particular, a rede pública ficou 86 pontos abaixo da privada. Isso demonstra o quanto precisamos melhorar o ensino oferecido nas escolas públicas e criar melhores condições de trabalho e de aprendizagem para nossos/as estudantes.

 

Por outro lado, mesmo as escolas particulares ficaram abaixo da média dos países da OCDE, que foi de 472 pontos. Ou seja, o ensino de Matemática não tem sido eficiente, nem mesmo em contextos com melhores condições estruturais e melhores níveis socioeconômicos.

 

E o que podemos fazer para mudar esta realidade?

 

Para nós, que estamos próximos de realidades tão distintas do território brasileiro, a formação continuada é uma das grandes ferramentas para mudar este cenário. Embora não seja a única, ela tem um grande poder de transformar o ensino, trazendo maior conhecimento didático aos/às professores/as, metodologias de ensino inovadoras e ativas, que coloquem o/a estudante no centro do processo de ensino e aprendizagem e os/as apoie na reflexão das práticas atuais, analisando pontos de melhoria em que poderão avançar para a qualificação dessas práticas.

 

Precisamos formar para as didáticas específicas de Matemática, Ciências e Leitura e para a melhoria da gestão da sala de aula, qualificando o planejamento e as estratégias que podem ser utilizadas para engajar cognitivamente todos/as os/as estudantes durante as aulas, ampliando o tempo didático disponível para que eles/as estejam efetivamente aprendendo.

 

Para saber mais sobre os dados de Matemática e das demais áreas, clique aqui e acesse os dados completos organizados pelo INEP.

 

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