Aprendizagem autodirigida: uma nova abordagem para aprendizagem ao longo da vida dos/as educadores/as

por Maria Luiza Ramos

24/06/2024

O que é aprendizagem autodirigida?

 

A aprendizagem autodirigida é um conceito bem mais recente, consiste na autorregulação do processo de aprendizagem pelo/a próprio/a aprendente, que assume o protagonismo de sua evolução, identifica suas próprias necessidades e interesses, estabelece metas para sua evolução e gerencia de forma autônoma e automotivada suas atividades de estudo. Aprendizes autodirigidos têm um papel ativo em sua própria educação, são responsáveis por monitorar e avaliar seu próprio desempenho e, assim, não dependem de um/a professor/a, tutor/a ou mentor/a para aprender o que desejam.

 

O conceito de aprendizagem autodirigida foi criado pelo Dr. Ian Cunningham, na década de 1970, e depois popularizado por Blake Boles. Essa abordagem vai além dos métodos comuns de formação continuada praticados nas escolas e no ambiente corporativo.

 

De acordo com esse conceito, aprendemos com pessoas, experiências, conversas, viagens, livros, cursos, pesquisas na Internet, redes de pessoas que integram comunidades, coletivos ou outro modo gerador de conhecimentos e trocas. Assim, a aprendizagem autodirigida assume papel cada vez mais relevante como abordagem metodológica de aprendizagem ao longo da vida de educadores/as, que buscam se manter conectados/as com o mundo atual e do futuro.

 

Shclochauer (2021) explica que a aprendizagem autodirigida atende a três necessidades psicológicas básicas: autonomia, competência e vínculo.

 

Em relação à autonomia, o autor explica que precisamos nos sentir responsáveis por nossas ações para nos sentir motivados. Ainda a esse respeito, Shclochauer destaca o quanto nossa motivação diminui quando somos obrigados/as a fazer algo sem possibilidade de opinar ou questionar se concordamos ou não. E complementa que, ao aceitarmos o controle externo imposto arbitrariamente, perdemos o “prazer de querer aprender cada vez mais, de perder o sono e as horas em atividades vinculadas ao nosso projeto.” (p. 129).

 

A competência é outra necessidade básica dos seres humanos, o que nos faz sentir atração por atividades que resultem na melhoria de interação com o meio em que vivemos. Portanto, os educadores/as se sentem atraídos/as por atividades que os fazem sentir competentes.

 

A terceira necessidade psicológica básica é a vontade de pertencer e estabelecer vínculos. Nesse sentido, é importante o compartilhamento de saberes e trocas que acontecem nos grupos aos quais pertencemos.

 

Outro autor que vem trabalhando na divulgação da proposta de aprendizagem autodirigida é Alex Bretas (2022), defensor da ideia de que a aprendizagem autodirigida deve ser uma garantia não apenas para adultos, mas também para crianças e adolescentes, em escolas ou fora delas.

 

Bretas destaca algumas categorias de hábitos envolvidos no processo de aprendizagem: meta-aprendizagem, autodisciplina, compartilhamento e ação.

 

Nas palavras desse autor,

“Meta-aprendizagem é a capacidade de perceber como acontece o seu próprio processo de aprendizagem e o que fazer para potencializá-lo. Também contempla as escolhas do que aprender e os meios pelos quais isso será possível, além da clareza a respeito das motivações para que o aprendizado aconteça.” (BRETAS, p. 67)

 

A autodisciplina implica em ser consistente com aquilo que realmente queremos obter com o que fazemos. E, segundo Bretas, esse hábito é construído “a partir da experiência concreta de escolher o próprio caminho e enfrentar os desafios de se comprometer com ele.” (p. 68).

 

O hábito de compartilhar o que estamos descobrindo é outra forma de potencializar o processo de aprendizagem. Bretas explica que, em determinados momentos, sentimos como se nossa cabeça estivesse “bagunçada” e que conseguimos organizá-la quando nos permitimos expor nossas descobertas, seja por meio de redes sociais, com colegas de trabalho, familiares, ou em grupos e comunidades das quais fazemos parte.

 

Outro hábito potencializador da aprendizagem autodirigida é o da ação. Agir no mundo real, “a partir dos novos conhecimentos que estamos construindo é fundamental para o aprendizado se consolidar.” (BRETAS, p. 70). Mais do que simplesmente agir, é importante fazê-lo sem medo de errar, pois o erro faz parte do processo de aprender e de evoluir de forma contínua e acelerada.

 

Conclusão:

 

Andragogia, heutagogia e aprendizagem autodirigida são três abordagens metodológicas que se complementam, fazem parte da aprendizagem ao longo da vida em diferentes momentos.

É fato inequívoco que as carreiras profissionais na Educação são muito desafiadoras, que esbarram em desafios, principalmente as de docentes, que têm baixa atratividade e condições como jornadas longas e muitos alunos. Também é recorrente a fala de professores sobre sua dificuldade em encontrar momentos para estudo e sobre a falta de tempo e energia para aquisição de novos conhecimentos. Porém, é imperiosa a necessidade da atualização permanente para que tais profissionais se mantenham em sintonia com as mudanças cada vez mais rápidas e complexas que ocorrem no mundo.

Dessa maneira, é importante que, apesar dos desafios e impedimentos, os/as educadores/as busquem se desenvolver continuamente e que utilizem seu aprendizado para o aperfeiçoamento de seu trabalho. Assim, será possível promover uma Educação de qualidade em qualquer esfera de atuação.

“Quando realizado com autonomia e interesse, o aprendizado proporciona uma relação de causa e efeito de mão dupla com a motivação. Aprendemos porque nos sentimos motivados e, com isso, queremos aprender mais, em um ciclo sem fim.” CONRADO SCHOLAUER (2022, p. 130)

 

Confira a primeira parte deste texto “Andragogia e heutagogia: diferentes abordagens para a aprendizagem ao longo da vida dos/as educadores/as” clique aqui.

 

 

Referências:

 

BOLES, Blake. A arte da aprendizagem autodirigida: 23 dicas para você dar a si mesmo uma educação não convencional. Trad. Alex Bretas. São Paulo: Affero Lab. E Mulidiversidade, 2017. Disponível em https://drive.google.com/file/d/0B7pXR2lWa9zZT0ZXRGh1cXYydHM/view?resourcekey=0-LMu5OeEC56_vOT9QX3iHzg – Acesso em 06/06/2024.

 

BRETAS, Alex. Competência em aprendizagem intencional, in ANASTACIO, Mari Regina & GOUVÊA, Tathiana (org.) Inteligência genuinamente humana: competências globais para a vida e o trabalho agora e no futuro. – São Paulo: Nelpa, 2022.

 

CAMPOS, Kiko. Aprendizagem autodirigida e sua importância no ambiente corporativo. Disponível em   https://www.poderdaescuta.com/aprendizagem-autodirigida-e-sua-importancia-no-ambiente-corporativo/ – Acesso em 0

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