por Gisele Moreira e Bianca Cavalhieri Blasque
06/08/2021
“Cantando histórias nos quintais da infância”
Hoje cada vez mais os quintais estão escassos, os espaços estão menores, mas as crianças… Ah as crianças! Elas não mudam! São crianças e exercem a infância onde estão, pois “o conteúdo a lhes ser apresentado é a própria vida que estão vivendo” (Maria Carmem Barbosa), é o aqui e no agora.
Cantar histórias nos quintais da infância é viver o quintal no espaço onde a criança estiver, afetar sua memória afetiva com cantigas, com histórias de vida, de ficção, de aventura ou imaginação. Essa é a raiz deste tema e desta proposta.
A música acontece desde o ventre materno, pois somos imersos aos sons uterinos, a pulsação e bombeamento do sangue percorrendo as veias, ao cordão umbilical que nos alimenta. Neste momento já estamos imersos ao som da vida. Aos cinco meses de gestação, o aparelho auditivo é formado e o feto passa a ouvir todos os sons, inclusive externos a ele.
Assim como o som, ali também inicia a história. A história da vida daquele bebê, daquela mãe (que já foi iniciada também com sua avó) e assim, música e história, ritmo e palavras unem-se em um elo constante.
O primeiro quesito musical consiste em ouvir. Interessante que também somos convidados a “ouvir” uma história.
Vivemos em um momento de pouca escuta e percepção de si e do outro,
do espaço e da realidade em que estamos inseridos. A música possibilita as pausas, uma vez que para que se faça o som é necessário o silêncio! Para que haja compreensão e se inicie a história é necessário silenciar.
A criança até os três anos de idade (a primeiríssima infância) é como uma esponja: “Crianças muito pequenas percebem sutilezas de sons que depois ficam sumidas”.
Outro pensamento que complementa vem da etnomusicóloga Lydia Hortélio:
“A cultura da criança é a cultura da alma. Os meninos têm a alma na frente. Depois é que ela vai pra dentro. Vai botando pano, papel, livro em cima.”
(etnomusicóloga e educadora Lydia Hortélio cresceu entre mangueiras no sertão da Bahia. – para melhor conhecer seus trabalhos de histórias, músicas e brincadeiras recomendamos o site: a casa das 5 pedrinhas).
Portanto, desde pequenos somos atentos aos sons, mas aos poucos nossos pensamentos e preocupações ocupam este espaço. É importante fazermos pausas para reconectar nossos sons, nossas histórias e perceber a vida que acontece em um ritmo e um pulso à nossa volta. Sugerimos aqui alguns quintais: lugares de repouso e encontro de si.
É preciso que a escola seja um quintal para esta infância curiosa e atenta. Que ao observar, a criança aprenda o que mediar, o que ensinar. Aprenda com quais histórias e quais cantigas cantar.
A música é a única linguagem que desenvolve os dois hemisférios do nosso cérebro ao mesmo tempo. É uma linguagem afetiva e cognitiva, pois facilita as emoções e aproxima, de alguma forma, o pensar e o sentir. É, portanto, uma linguagem que pode promover o avanço do pensar e da afetividade, algo essencial nos dias atuais.
Na infância ocorrem sinapses e desenvolvimentos que não acontecerão em outras faixas etárias. Estimular este desenvolvimento é cumprir um papel transformador na arte de educar e motivar a criança a ser, a viver com plenitude a vida que lhe é apresentada.
Todos que se dispõe a trabalhar com crianças pequenas precisam acolher as múltiplas linguagens da criança, e assim também podemos unir a música e a história, linguagens que trazem uma mesma percepção.
A música e a história precisam acontecer na rotina da escola com leveza, como acontece nos quintais, nos parques, ao ar livre ou no momento do aconchego. Não deve ser um peso, uma obrigatoriedade de currículo. É claro que o educador deve se munir de estudos, pesquisas, mas de forma leve e prazerosa e não pelo dever de fazê-lo.
Algumas dicas:
Ao acolhermos a infância seja em nossa família, na chegada de um bebê, seja como mãe, como educador no espaço escolar, acolhemos sua história e os sons que ela traz. Sua pulsação vibrante de descobrir a vida e seu entorno e é necessário compreendermos e respeitarmos seu ritmo.
Nesta pandemia a infância foi tomada por diferentes realidades, por diferentes histórias e diferentes canções. Que possamos retomar agora proporcionando a nós e a elas um lindo quintal, onde partilharemos estas boas histórias e entoaremos uma nova canção.
Referências Bibliográficas:
(FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira; BARNABÉ, Arrigo. Supertônica: da musicalização infantil e paisagem sonora. São Paulo: Rádio Cultura, 15 ago.2012, [21h06-21h08]. Disponível em: <http://culturabrasil.cmais.com.br/programas/supertonica/arquivo/marisa-fonterrada-da-musicalizacao-infantil-e-da-paisagem-sonora> Acesso em Jun/2013.)
BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil: propostas para formação integral da criança. São Paulo: Editora da Fundação Peirópolis, 2003.
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