Altas habilidades e superdotação: a invisibilidade da invisibilidade

por Andreza Viana

29/08/2023

No público-alvo da educação especial estão inclusos crianças e adolescentes com altas habilidades e superdotação. A resolução de 2001, do Conselho Nacional de Educação que trata das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica considera como parte desse grupo aqueles/as que apresentam [..] “grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes”. Ao ler esta descrição qual perfil de crianças e adolescentes vem a sua mente?

 

As pesquisas apontam (VIRGOLIM , 2007) que temos dois fatores importantes que influenciam no desenvolvimento do talento e que vão impactar também no seu processo de identificação, são eles os fatores individuais (genética, motivação, persistência, autoestima, etc) e o ambiente (oportunidades, escolaridade dos pais e mães, estimulação dos interesses infantis, entre outros). Refletindo acerca dos aspectos societários podemos evidenciar que muitos desses fatores serão atravessados por realidades sociais diversas que podem vir a impactar o seu desenvolvimento.

 

No processo de diagnóstico os/as estudantes são identificados/as por profissionais de psicologia e psicopedagogia, mas, em sua maioria, são os/as profissionais de educação, por meio de inventários, triagens e listas de comportamentos, que fazem essa identificação, o que nos leva a refletir que a maioria dos/as estudantes, quando reconhecidos/as, já apresentam talentos minimamente desenvolvidos.

 

Pensando no contexto do Brasil e fazendo um recorte do Rio de Janeiro, notamos que a realidade social, cultural e econômica dessa população, por si só, já evidenciaria uma barreira. Tendo em vista que os modelos atuais de identificação perpassam por instrumentos que fazem referência a esse comportamento de superdotação, será que o público mais vulnerável socialmente, ou seja,  com menos oportunidades para despertar seus interesses, está sendo identificado? Os seus potenciais estão sendo desenvolvidos para o bem comum?

 

Gubbins (2005) aponta os três estágios de desenvolvimento do talento: latente, emergente e manifesto. Quando pensamos nos modelos atuais de identificação, temos avaliações psicológicas e avaliações pedagógicas. Embora tenhamos esses dois modelos, reconhecemos que a avaliação psicológica ainda é de difícil acesso para algumas camadas da sociedade, com isso as avaliações mais recorrentes são as pedagógicas.

 

Então, convido-os/as a refletir: como os/as estudantes poderão descobrir seus talentos a fim de se desenvolverem de forma integral, contribuindo com a mudança da perspectiva de vida, quebra de ciclos de pobreza e ascensão social?

 

No Brasil ainda há poucas iniciativas como a do Instituto Apontar, que busca trazer visibilidade para o público que está dentro desse contexto social ainda invisível das altas habilidades e superdotação, oferecendo-lhes condições para um amplo desenvolvimento.

 

Estudos demonstram a importância da identificação dos talentos de baixa renda, uma vez que sua vivência empírica pode desencadear em projetos e políticas públicas que contribuem para o bem comum; por outro lado, a não identificação e/ou ausência de apoio positivo facilita que estes talentos sejam desenvolvidos em contextos adversos, colocando, por exemplo, sua liderança, pensamento lógico-matemático, comunicação, entre outras habilidades, como foco de interesse da criminalidade.

 

Você já tinha parado para refletir sobre isso? Quais dúvidas ainda têm sobre esse tema?

 

 

 

Referências

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GUBBINS, E. J. NRC/GT offers a snapshot of intelligence. The National Research Center on the Gifted and Talented (NRC/GT), 1-2, 2005, winter.

Resolução CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001 em seu artigo 5º, item III, institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.

VIRGOLIM, Angela M. R. Altas habilidade/superdotação: encorajando potenciais. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me004719.pdf

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