Autodeclaração: cor, raça ou etnia? Qual a maneira certa?

por Cristiana Moreira

21/11/2022

Bom, outro dia estava em uma conversa, orientando sobre o preenchimento de uma planilha de coleta de dados em que uma das colunas a ser preenchida era sobre informações sobre raça e cor dos/as estudantes, de acordo como se autodeclaravam: branco, preto, pardo, amarelo ou indígena.

 

Isso gerou um incômodo muito grande em uma professora de determinada região do país que se negava a perguntar aos/às  estudantes como se autodeclaravam. No entanto, um grupo de professores/as de outra região ficaram um tanto sensibilizados em promover o diálogo sobre o tema “qual sua raça, a sua cor”.

 

Confesso que na tentativa de explicar busquei justificar o motivo para a coleta deste dado com todos os conhecimentos que acreditava ter, mas confesso que fiquei um tanto inquieta, pois a solicitação exigia muito diálogo, precisava fazer sentido, principalmente diante do racismo velado e estrutural.

 

Cabe sim, à escola, a nós professores/as, profissionais da educação discutirmos sobre esse tema tão pertinente para o século XXI. Diante dessa inquietação busquei entender os contextos, o lugar de fala da professora e do grupo de professores/as com muito cuidado para validar ambas as opiniões.

 

E assim, fui pesquisar qual a forma correta de dizer cor, raça ou etnia? O senhor Google me ajudou muito, encontrei muitas informações e agora compartilho um pouquinho com você, meu/minha caro/a leitor/a. Vamos lá?

 

Ao pesquisar descobri que há pesquisadores que recusam o uso do termo raça, uma vez que para eles, basta a comprovação biológica de que raças não existem. Entretanto, outros estudiosos, consideram fundamental a apreensão de raça como constructo social no enfrentamento político das desigualdades sociais. Foi interessante notar que apesar desta polarização, todos os/as autores/as apresentam como justificativa e finalidade de suas posições o combate ao racismo. Fico por aqui, pois meu objetivo ao escrever este texto é justamente este, o combate ao racismo.

 

 

Racismo Velado e Estrutural no Brasil não é um tema à toa. A relevância do diálogo é urgente, seja para responder uma pesquisa do IBGE, no posto de saúde, da planilha de coleta de dados etc., não podemos simplesmente fechar os olhos e apenas responder.

 

Os dois posicionamentos dos/as professores/as que acompanho estão corretos. É preciso dialogar com os/as estudantes sobre a cor da pele e o que ela representa no contexto histórico, social e cultural.

 

Assim, na busca por ampliar meu conhecimento e ajudar meus grupos a ampliarem seus horizontes, continuei minha pesquisa e apresento aqui alguns aspectos que considero relevantes sobre o racismo velado ou estrutural.

 

Sobre o racismo velado/naturalizado: outro dia presenciei a dor e constrangimento de um professor, que foi impedido de entrar em um local público para participar de uma formação. Só depois de um longo tempo ele conseguiu autorização para acessar o local de destino e participar da formação que tanto desejava. Digo isso, pois se não desejasse participar  teria ido embora, não ficaria sentado na sarjeta da calçada por mais de uma hora aguardando alguém liberar sua entrada. Um detalhe importante: muitas outras pessoas entraram no local sem que fossem questionadas sobre onde iriam e passaram livremente. Mas tudo bem, não foi “racismo”, segundo alguns.

 

Quanto ao racismo estrutural, o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. Quando, no papel, a escravidão foi abolida, em 1888, nenhum direito foi garantido aos negros apesar de tantos anos de trabalho. Maria Sylvia, presidente do portal Geledés, e Helena Teodoro, voluntaria do Instituto de Filosofia e Ciência Sociais – IFCS, em pesquisas relatam que durante e após a escravidão, a imagem do negro foi associada à vadiagem, ao subalterno, ao sujo. Não à toa, as tarefas mais árduas, as piores remunerações e as formas mais cruéis de castigo ainda são reservadas aos pretos.

 

Avançando um pouquinho mais sobre o racismo estrutural, segundo dados do levantamento “As faces do racismo”, realizado pelo Instituto Locomotiva em parceria com a Central Única de Favelas, constatou que 91% dos/as entrevistados/as em todo Brasil consideram que uma pessoa branca tem mais chances de conseguir emprego em relação a uma pessoa negra. O levantamento apontou ainda que 94% dos/as brasileiros/as creem que uma pessoa negra corre mais risco de ser abordada de forma violenta ou ser morta pela polícia.

 

Nesse contexto, penso que refletir sobre a gestão das relações étnico-raciais no ambiente escolar é tarefa dada àqueles/as que acreditam que o racismo precisa ser denunciado e enfrentado; àqueles/as que acreditam que passar por experiências de racismo prejudica o desempenho de nossos/as educandos/as, e àqueles/as que compreendem que muitos conflitos ocasionados na escola são frutos das relações de desigualdade racial.

 

Portanto, cabe a nós educadores, formadores/as de formadores/as refletirmos sobre as questões raciais, reconhecendo a diversidade presente na escola como valor humano e contribuir no fortalecimento das relações de equidade racial na escola.

 

Por fim, é urgente uma reeducação étnico-racial nas escolas se desejamos uma sociedade que assuma como princípio humano a equidade racial. A década do afrodescendente instituída pela ONU é um grande convite a esta discussão é a dica para finalizar este texto.

 

Bem, sigo por aqui ampliando os estudos e reflexões sobre o tema, mas qual sua cor mesmo?

 

 

Se assim como eu, você quiser ampliar seus conhecimentos, seguem alguns links:

Agenda ONU: https://decada-afro-onu.org/

https://nacoesunidas486780792.wpcomstaging.com/wp-content/uploads/2016/05/WEB_BookletDecadaAfro_portugues.pdf

O que é racismo estrutural? Ainda hoje existe? Somos todos racistas?

https://www.uol.com.br/ecoa/listas/o-que-e-racismo-estrutural.htm

Raça, cor, cor da pele e etnia – ANTONIO SÉRGIO ALFREDO GUIMARÃES file:///C:/Users/crysm/Downloads/36801-Texto%20do%20artigo-43339-1-10-20120808.pdf

Instrumentos internacionais

Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial

Declaração sobre Raça e Preconceito Racial

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Comentários sobre o texto

  1. Fabricia Andrade disse:

    Um texto essencial. Parabéns!

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