Construindo o ppp por meio de rodas de conversa

por Ana Luzia da Silva Vieira

28/03/2022

Equipe gestora e docentes da escola, refletindo e decidindo os caminhos que devem seguir tem sido uma prática comum, mesmo que em algumas escolas, a maior parte do que se é decidido ainda fique centralizado n/a diretor/a, de alguma forma, os/as professores/as acompanham e participam do processo.

Se na gestão escolar ocorre a participação direta ou indiretamente da equipe docente, o que dizer dos demais segmentos? Como mobilizar todos da comunidade escolar, incluindo funcionários/as, comunidade externa e famílias, para que consigam se envolver ativamente, participar e se verem como corresponsáveis no processo educativo?

A prática da participação não acontece de um dia para outro, mas é possível, desde que os meios democráticos prevaleçam nas ações do dia a dia na escola, envolvendo discussões, reflexões, tomadas de decisões coletivas e divisão de tarefas.

Observamos que um ambiente favorecedor de participação é aquele que possibilita a socialização de saberes, respeita à diversidade de opinião, dialoga e escuta atentamente a comunidade escolar, definindo, assim, de forma coletiva, os caminhos que a escola deve percorrer.

Os/as professores/as participam de reuniões semanais com a Equipe gestora, fato esse que facilita esse processo de participação. Entretanto, os demais funcionários/as, pais, alunos/as e comunidade externa, por vezes, são colocados em um papel quase que exclusivamente de executores de tarefas e, em muitos casos, não encontram espaços de criação e recriação para se envolver com as propostas pedagógicas da escola.

Em outras realidades, observamos novas perspectivas de participação. Vários segmentos da comunidade escolar são convidados a fazer parte de reuniões coletivas, especialmente em início de ano letivo, porém, com o risco que não compreender os motivos pelos quais foram chamados, participando, assim, apenas como ouvintes.

Frente a esse cenário, o que pode ser feito? Como conseguir envolvimento e engajamento de todos? Como possibilitar que todos os segmentos da comunidade escolar tenham uma visão ampla do contexto educativo, compreendendo a importância de sua corresponsabilidade no favorecimento de condições para proporcionar a aprendizagem dos/as alunos/as?

São muitas as ações possíveis de serem realizadas no ambiente escolar, mas abordaremos, a estratégia de Rodas de conversa.

Rodas de conversa, como o próprio nome já diz, são reuniões com pequenos grupos, que podem ocorrer entre representantes de diferentes segmentos e entre os integrantes de um mesmo segmento, acompanhados ou não pela Equipe gestora, usadas para compartilhamento de informações, valorização dos saberes individuais e coletivos, análise de contexto escolar, encaminhamentos, bem como para aprofundamento de temas pertinentes à Educação.

Quando se tem uma equipe estratégica que pode estar configurada como um Conselho escolar, por exemplo, o objetivo está em garantir a participação e o envolvimento desses representantes no dia a dia da escola, nas tomadas de decisão, na descentralização das ações, mas necessariamente garantir que estejam presentes em reuniões organizadas mensalmente, sob a orientação da Equipe gestora. Para que a participação ocorra é importante que se possibilite horários alternativos. Talvez, para algumas escolas, o horário noturno seja uma boa opção, para outras, o vespertino, ou ainda o primeiro horário da manhã. A melhor opção poderá ser definida pelos/as próprios/as participantes e os horários podem ser intercalados mês a mês. Todavia o importante é a participação dos diversos segmentos.

É preciso lembrar, entretanto que os/as representantes representam toda uma comunidade escolar e que a voz deles/as deveria ser a voz de seus pares. Para que isso ocorra propomos uma Roda de Conversa mensal ou bimestral para que os/as representantes possam dialogar com os/as integrantes do mesmo segmento (exemplo: reunião mensal com representante dos funcionários com os demais funcionários) e, assim, levar para a próxima roda de conversa do Conselho escolar os anseios e reais percepções de toda a comunidade.

 

professores reunião

 

Acrescida a essa ação, é muito importante que a Equipe gestora planeje momentos com toda a equipe escolar, organizando rodas de conversa com os segmentos da escola. Você já percebeu o potencial de uma equipe da cozinha ou de uma equipe da limpeza? Diálogo aberto e uma escuta ativa serão aspectos imprescindíveis para que a Equipe gestora tenha uma visão ampla e integradora do cenário escolar. Nessas Rodas de conversa muitas orientações podem ser feitas, encaminhamentos, avaliações. Um desafio que a Equipe gestora pode encontrar é buscar dentro da rotina de trabalho de todos os funcionários um horário todos que participem dessas trocas de experiências. Para isso, ter claro os horários e possibilidades dos/as profissionais, articulando-os ao planejamento da proposta, é essencial!

A periodicidade fica a critério da gestão. Por exemplo: uma vez a cada 15 dias, por uma (01) hora, intercalando as equipes, para que nenhum setor da escola fique “descoberto”. Nesse momento, mais uma vez o planejamento é fundamental!

Mesmo que a princípio você ache que em sua escola não seja possível essa ação, sugiro que avalie a dinâmica escolar de forma sistêmica. Sempre há uma alternativa para reunir os representantes de cada segmento para uma boa conversa. A gestão democrática exige esforços e disponibilidade de todos, não é mesmo? O importante é que essas Rodas de conversa sejam garantidas na rotina escolar e com dias e horários predeterminados para que todos possam participar.

Uma vez tendo os espaços e tempos definidos para a realização dessa ação, caberá à equipe gestora organizar pautas formativas cujas discussões e reflexões possam partir de caracterizações individuais e do próprio segmento. Tais caracterizações propiciam um processo de reconhecimento individual, compreensão das funções exercidas por cada integrante, valorizando o potencial de cada um dentro do contexto escolar e vinculando-as com a função da escola, que é social e educativa.

A partir dessas caracterizações, pode-se dar início ao estabelecimento de metas para cada segmento. Nesse momento, é importante levar a equipe a refletir sobre a qualidade do trabalho realizado, os desafios a serem enfrentados, analisando as forças e as fraquezas dessa equipe e tirando novos encaminhamentos de trabalho.

Deve-se também suscitar discussões sobre as práticas desenvolvidas pelos segmentos e pela escola de uma forma geral, aproximando e significando as diferentes concepções que direcionam o trabalho pedagógico. Isso possibilitará maior compreensão de qual escola se está falando e que tipo de aluno se pretende formar. Para isso, valem fotos de situações da rotina, pequenos textos, trechos de filmes com uma boa conversa e reflexão. O importante é possibilitar que as pessoas falem e mostrem o que sabem!

O uso da avaliação estratégica FOFA é muito eficiente para este trabalho. Com ela, você consegue otimizar o trabalho no grupo, engajando-os em um diagnóstico da unidade escolar, levando-os a mapear suas Fraquezas, Oportunidades, Forças e Ameaças.

 

Além dos aspectos acima abordados, as Rodas de conversa poderão ser muito úteis para conseguir maior engajamento da equipe com relação aos projetos coletivos desenvolvidos na escola. A partir do momento que os objetivos propostos para esses projetos sejam de conhecimento de todos, a Comunidade escolar terá condições de contribuir com sugestões e participar nas divisões de tarefas, das tomadas de decisão, de acordo com os papeis e potenciais de cada um.

Na medida em que essa prática se tornar frequente, a Equipe gestora terá conquistado novos parceiros de trabalho e se surpreenderão com a forma que enriquecem as discussões pedagógicas, pois esses momentos de compartilhamento tendem a estimular o protagonismo e a corresponsabilidade de todos. O que acham?

Vale lembrar que, uma vez que o diálogo seja estabelecido nessas reuniões, os gestores têm o desafio de gerenciar conflitos e divergências, afinal as Rodas de conversa são fóruns propícios para que possam expressar suas opiniões. Cabe aos gestores/as fazer as devidas mediações, esclarecer, ponderar e alinhar todas as participações, garantindo que o trabalho de todos os segmentos esteja a favor de uma Educação de qualidade.

O compromisso com a participação será estabelecido aos poucos. Para isso a escuta atenta, o diálogo, o respeito, a observação e os registros serão fundamentais para começar a desenhar o Projeto Político Pedagógico com a participação de todos/as!

 

Referências:

FERREIRA, Naura (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Ed. Cortez, 1998.

LIMA, Licínio C. A Escola Como Organização Educativa. São Paulo: Ed. Cortez, 2001.

PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ed. Ática, 1997.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento: projeto de ensino, aprendizagem e projeto político pedagógico. São Paulo: Livertad Editora, 2008.

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