Retorno do ensino presencial: o que fazer quando alunos/as do 1º ano não fizeram a educação infantil?

por Ana Carolina Peres Freitas

05/09/2022

Na preparação para o retorno às aulas presenciais, a escola começou a pensar formas de receber os/as estudantes, maneiras de  acalentá-los/as pelo período vivido e minimizar possíveis impactos negativos, não apenas na aprendizagem, mas no desenvolvimento socioemocional devido ao isolamento social e distanciamento escolar.

As mudanças de rotina que ocorreram também foram drásticas. Se foi difícil, de repente, estarem todos/as em casa, mudar a rotina novamente, e se ausentar da segurança que o lar representava, podia também gerar dúvidas e medos, principalmente aos/às aluno/as menores. Todo um período de readaptação à escola precisou ser feito.

Ao planejar este texto e refletir sobre os momentos que passei com as crianças na escola desde o início do ano, pude experimentar diversos sentimentos: medo, ansiedade, alívio, tristeza, alegria, enfim, sentimentos que me levaram a rememorar situações que vivi nessa nova etapa da educação.

Segundo a BNCC, a Educação Infantil tem o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades das crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar, desenvolvendo aspectos como a socialização, a autonomia e a comunicação.

 

 

Como de praxe, me preparei para recebê-los/as com muito afeto, empatia e escuta, individual e coletiva, sem minimizar o sentimento de cada criança e, zelando pela segurança e pela saúde dentro da escola com intuito de trazer confiança. As primeiras semanas foram de conversas, atividades divertidas, proporcionando um lugar agradável para estarem, com o lúdico sempre presente: os jogos, a música e muitas brincadeiras.

Na minha turma são vinte e quatro crianças, cada uma com suas peculiaridades, mas todas no mesmo caminho e com olhos brilhando por estarem ali, num ambiente seguro e de alegria, sem deixar de aprender que os limites, regras e desafios fazem parte de nossas vidas.

N a reunião de pais, antecedendo o início das aulas, efetivamos o compromisso que neste momento, a família é a grande aliada da escola, e que essa aproximação é fundamental para que tudo dê certo, tanto em relação aos cuidados necessários para que a pandemia se mantenha controlada, como para que as questões emocionais das crianças possam ser trabalhadas. Essa parceria foi fundamental para um bom início.

Ficou mais evidente o quanto a Educação Infantil é peça fundamental no desenvolvimento integral da criança. Na questão procedimental, por exemplo, a maioria dos/as aluno/as/as apresentaram dificuldades na organização do material, na “pega” do lápis, no reconhecimento e uso de materiais simples, como apontador, borracha e tesoura. Observei também a dificuldade na diferenciação entre letras e números, a organização de ideias para expressar oralmente o que quer comunicar, o desenho sem estrutura ou sem repertório de cores, o relacionamento tímido com “o/a outro/a”, além das brincadeiras sem noção espacial e de força, ou seja, como a Educação Infantil faz falta!

Sim! A atenção, o trabalho, o estudo e o planejamento foram diferenciados, com foco nas habilidades essenciais e na acolhida amorosa, com paciência e resiliência. E a alfabetização? Ah! Essa soa como música aos meus ouvidos. Como amo alfabetizar!

A alfabetização é uma etapa do processo educacional e social de grande importância na formação de cidadãos. Com a pandemia, muitas famílias tentaram assumir parte dessa responsabilidade, cada uma de sua maneira, mas o processo é bastante complexo. Para efetivar a escrita, a criança precisa ter conhecimento sobre o funcionamento do princípio alfabético, isto é, de que as letras têm representação sonora, muitas vezes distintas e para reconhecer a relação letra-som precisa dispor de habilidades tais como a segmentação fonêmica, sendo capaz de analisar, refletir, sintetizar as unidades fonêmicas que compõem as palavras faladas.

A mediação e intervenção do/a professora/a no trabalho de alfabetização e letramento é essencial e conforme Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985), os avanços nas hipóteses de escrita ocorrem a partir de uma ação sistemática e dialética e de atividades que questionem o que cada criança realizou para que busquem novas resoluções.

Algumas dicas:

  • planeje situações didáticas com atividades de consciência fonológica, que é fundamental para que a criança consiga perceber a segmentação das palavras, das sílabas e a percepção sonora destas e das letras;
  • trabalhe com projetos com temas que são de interesse da turma e por isso facilitam e motivam a ampliação de repertório e conscientização e percepção das letras, números e fatos;
  • abuse dos jogos como ferramenta que proporcionam a participação e reflexão de todo processo, sejam jogos físicos ou virtuais;
  • trabalhe com tecnologias digitais aplicadas de maneira acessível que permitam aos/às estudantes brincar com a linguagem e trabalhar a autoria e faça intervenções que promovam e acompanhem a apropriação do sistema de escrita.

Neste segundo semestre, já pude comemorar os avanços na escrita e leitura, bem como na socialização. Estamos na etapa do início de reescrita de histórias e no trabalho colaborativo entre o grupo e vejo muitas possibilidades de avanço pela frente.

E você, que experiências tem para nos contar?

 

 

 

Referências

ARAGÓN, Rosane. Educação pós-coronavírus: mais tecnologias digitais e novos ecossistemas pedagógicos. 2020. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2020/04/educacao-pos-coronavirus-mais-tecnologias-digitais-e-novos-ecossistemas-pedagogicos-ck9d76jx6004n017n2unxog1q.html . Acesso em: 13 ago. 2022.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. Brasília: MEC, 2001.

______. Programa de Formação de professora/aes alfabetizadores. Brasília: MEC, 2002.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

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Comentários sobre o texto

  1. Rosimeire de Araujo Leme Santos disse:

    Adorei o texto, pois sou professora alfabetizadora de 1 ano, e também vivenciei essas situações com os alunos que não passaram pela Educação Infantil.

    1. Ana Carolina disse:

      Rose, sabemos que não é fácil, não é mesmo? Mas com muito carinho e afeto, o que está difícil se torna mais agradável.

  2. Alana Nascimento Santos disse:

    Que descrição real a uma etapa desafiadora e única para os educadores, com soluções dinâmicas e eficazes!
    Grande estímulo!

    1. ANA CAROLINA PERES FREITAS disse:

      Obrigada, Alana!

  3. Pedro Doce Marques disse:

    Este testo nos faz refletir que a grande aliada no ensino e aprendizagem é a família presente no início da vida escolar de uma criança….embora tenha todo suporte por parte da escola professores que propõe varias ferramenta educativa, mas a família presente na vida de uma crianca é primordial….

  4. LIDIANE ROSARIO DE OLIVEIRA ARAUJO disse:

    Ana Carolina, está certa quando fala que a família é grande aliada da escola nesse processo de alfabetização, pois a ausência destas crianças na escola de Educação Infantil, está sendo percebida visivelmente na falta das habilidades necessárias para que o processo da alfabetização tenha uma boa evolução. Ai percebemos mesmo, que a Educação Infantil é fundamental para a vida educacional de uma criança.

    1. ANA CAROLINA PERES FREITAS disse:

      Pedro, com certeza! Por isso, sabemos que a família é a base. Mas, e quando não se tem a família? Por isso, nós, enquanto escola, precisamos ter um olhar diferenciado para cada criança.
      Obrigada pelo comentário!

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