por Cristiane Moda
29/08/2022
Quando o assunto é aprendizagem escolar sabemos que os/as docentes preocupados/as com a qualidade e o resultado de seu próprio trabalho, planejam suas aulas, se importam com os conteúdos que precisam ser cumpridos, buscam estratégias e recursos para a aula, além de participarem de cursos voltados para a formação continuada. Apesar de todo esse engajamento para ensinar, quantos são os/as estudantes que diariamente, nas salas de aula, não atingem o conhecimento esperado?
O fato é que quando esses/essas profissionais da educação se deparam com esta situação de estudantes que não atingem a aprendizagem esperada, variadas são as sensações manifestadas: preocupação, incapacidade, decepção, aversão ao/à estudante e outras. Mas será que os/as docentes estão realmente conseguindo ensinar seus/suas alunos/as ou tudo não passa de uma mera transmissão de conhecimentos?
Não é de hoje que especialistas e pesquisadores/as da área da educação, psicologia e saúde buscam de fato compreender como ocorre à apropriação do saber. Sendo assim, conforme descreve Relvas (2011) é fundamental entender o conceito da Plasticidade cerebral, sua contribuição para a prática do/a docente em sala de aula, bem como as dimensões cognitivas, motora, afetiva e social no redirecionamento do/a estudante.
A plasticidade cerebral consiste em uma reorganização da estrutura neural do indivíduo ao viver uma experiência nova, ou seja, a capacidade das sinapses, dos neurônios ou de regiões do cérebro de alterar suas propriedades por meio do uso ou estimulação. A partir disso, é possível afirmar que o aprendizado não ocorre de maneira automática, pois a aquisição de informações depende de conhecimentos já existentes, ou seja, os “conhecimentos prévios” e também de uma carga considerável de estímulos para que esse aprendizado permaneça em atividade constante, fortalecendo e desenvolvendo as redes neuronais do cérebro.
Segundo Schumacher (2006) os conhecimentos prévios assumem um papel fundamental na aquisição da aprendizagem, pois quanto mais organizados eles estiverem, mais fácil será o aprendizado. Por este motivo, é importante o/a docente saber quais são os conhecimentos prévios e conceitos cognitivos que seu/sua estudante possui para que a partir daí possam ser utilizados os métodos pedagógicos mais adequados de acordo com o nível de aprendizado retratado pelo/a estudante.
Nesta perspectiva, o/a docente que assume o papel de mediador/a e estimulador/a na aprendizagem do/a estudante, poderá garantir a qualidade no ensino e resultado em sala de aula. Entretanto, se for precária a qualidade da mediação, as sinapses provocadas no cérebro deste/a estudante também serão ineficientes durante esse processo de aprender.
Para Gardner (1995) as pessoas possuem interesses, habilidades diferentes e por isso não aprendem da mesma maneira. A repetição de uma atividade, a retomada de um conceito sempre do mesmo modo ou práticas repetitivas do/a docente, ativam sempre as mesmas conexões sinápticas em nosso cérebro, o que não favorece a aprendizagem do ponto de vista da memória (não criam engramas¹) comprometendo a assimilação do conteúdo pelo/a estudante.
Estudos da Neurociência afirmam que, ao apresentarmos um conteúdo novo para o/a estudante uma atividade desafiadora que provoque suas emoções de maneira satisfatória, imediatamente será ativada a sua amígdala cerebral², enviando impulsos para o hipocampo, afirmando ser algo interessante e significativo. Essa informação será enviada automaticamente ao lobo frontal para ser arquivada na memória, tornando-se um conhecimento adquirido.
A partir do momento em que o/a docente passa a compreender o funcionamento do sistema nervoso e do processo de aprendizagem, ele/a percebe a necessidade de sempre inovar, instigar, propor atividades diferenciadas e que façam sentido para o/a estudante, desenvolvendo melhor seu trabalho, podendo intervir de modo efetivo em sua prática, para um desempenho progressivo do/a estudante.
No atual contexto que a educação vem sendo instituída torna-se essencial ter clara a importância de desenvolver o potencial do/a estudante como um todo, embasado em suas reais condições, visando sempre a expansão de sua aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, respeitando suas limitações e levando em consideração seus aspectos físicos, cognitivos, emocionais, linguísticos, afetivos e sociais. Afinal, é de extrema importância que o/a docente proporcione a seus/suas estudantes práticas eficazes de ensino.
[1] Impressão deixada nos centros nervosos pelos acontecimentos vivenciados, ativa ou passivamente, pelo indivíduo: conhecimentos adquiridos, convicções, cenas assistidas, traumas, hábitos, condicionamentos etc. e que corresponde à fixação de uma lembrança. Os engramas são passíveis de evocação, de recordação espontânea no sono ou vigília ou, ainda, de associação com eventos atuais, podendo levar o indivíduo a um comportamento automático, reflexo ou voluntário.
[2] A amigdala é uma pequena estrutura do sistema nervoso em forma de amêndoa, importante na aquisição de informações de perigo, processamento, elaboração e produção de respostas aos agentes estressores.
Além da plasticidade neural, vemos a mudança nos estudantes que ocorre de forma natural com o passar do tempo e, deste modo, o professor já precisa perceber a necessidade de inovação em sala de aula. As redes sociais trazem informações de forma acelerada e os alunos estão cada vez mais inteirados com ela. Para o professor é difícil acompanhar tantas mudanças, naturalmente, mas precisamos nos manter informados e trazer as inovações possíveis para o nosso cotidiano pedagógico.
O campo da neurociência é extremamente relevante para o nosso trabalho e, sempre que possível, o professor deve acompanhar as atualizações para facilitar e aprimorar suas práticas.
Muito relevante, muito necessário para os/as educadores.
Esse texto é muito especial.
Em breve abordaremos mais o assunto.
Obirgada!
Texto de leitura fluida, clara e muito concisa.
Obrigada, Monica!
É essencial o professor ter conhecimento sobre a plasticidade cerebral, buscar recursos e estratégias envolventes para trabalhar com os alunos.
Exatamente.
E é muito importante nos aprofundar neste assunto.
Em breve novos conteúdos.
Obrigada!
Cristiane, que texto maravilhoso!!!
Parabéns , sempre foi necessário valorizar as questões que envolvem a plasticidade cerebral, mas nesse momento no qual estamos será fundamental a compreensão das novas possibiliades de práticas de ensino para os/as estudantes que ficarão com as sequelas da Covid, aqueles/aquelas que já vinham com dificuldades e ainda os meninos e meninas da Educação Especial.
Seria maravilhoso ter uma live com você no youtube, seria um recurso que ajidaria muito aos educadores/educadoras .
Obrigada !
Obrigada Aurilância!
Agradecemos a sugestão, será um prazer ter Critiane em uma próxima live da Elos, vamos nos planejar para isso.
Grata.
Abraços!