A evolução do papel das mulheres indígenas na liderança e preservação cultural

por Cleidiane Castro de Oliveira

12/08/2024

Sou Cleidiane Castro de Oliveira, mulher indígena Tremembé da Barra do Mundaú, do Ceará, professora e militante das lutas indígenas. Hoje, compartilho com vocês um pouco sobre a evolução do papel das mulheres indígenas, destacando sua importância na preservação cultural e na liderança dentro de suas comunidades.

 

Historicamente, as mulheres indígenas enfrentaram muitos desafios para ocupar diferentes espaços na sociedade. Assim como outras mulheres no Brasil e no mundo, nós também enfrentamos dificuldades diárias e barreiras significativas. Apesar desses obstáculos, temos lutado incansavelmente para ocupar posições de liderança e poder dentro de nossas comunidades.

 

No movimento indígena, temos observado uma evolução notável: as mulheres indígenas estão assumindo papéis de liderança cada vez mais proeminentes. Este avanço é significativo, pois há pouco tempo, a ideia de liderança feminina era quase inexistente. Hoje, vemos mulheres caciques, pajés e outras líderes desempenhando papéis fundamentais em suas comunidades.

 

Mesmo enfrentando discriminação e preconceito, as mulheres indígenas continuam a ser fundamentais em suas comunidades. Elas não apenas assumem responsabilidades políticas e organizacionais, mas também mantêm suas funções tradicionais como donas de casa e cuidadoras. No entanto, a cobrança sobre as mulheres em posições de poder é muito maior do que sobre os homens, exigindo delas uma constante prova de competência e capacidade.

 

No meu próprio povo, Tremembé da Barra do Mundaú, as mulheres desempenham papéis importantes na gestão do território. Temos lideranças femininas em todas as áreas, desde a educação até a saúde indígena. Em 20 anos de luta, conseguimos demarcar nosso território, graças à organização e à força das mulheres.

 

O grupo de mulheres Cunhã Porã é um exemplo de organização e empatia. Elas discutem politicamente e trabalham para a efetivação de políticas públicas, não apenas para as mulheres, mas para toda a comunidade. Esta organização é um modelo para outros povos e demonstra o poder e a capacidade das mulheres indígenas.

 

Chegar até aqui não foi fácil. Tivemos que enfrentar muitas dificuldades e preconceitos. No entanto, por meio de formação, conversa e muita dedicação, temos mostrado que somos capazes de nos organizar e liderar nossos territórios. Ainda enfrentamos muitos desafios, mas estamos aprendendo a lidar com eles e a continuar nossa luta.

 

A luta não é exclusiva das mulheres. Os homens também têm um papel importante, apoiando e colaborando com as mulheres na organização dos territórios. Essa parceria é fundamental para o sucesso de nossa luta e para a efetivação das políticas públicas necessárias para nossos povos.

 

A trajetória das mulheres indígenas é marcada por uma evolução constante e significativa. Temos conquistado espaços importantes e mostrado nossa capacidade de liderança. Ainda há muito a ser feito, mas nossa luta continua, com a esperança de que as próximas gerações possam conquistar ainda mais.

 

Como mulher indígena, professora e líder, meu compromisso com a luta é inabalável. Desde cedo, assumi a responsabilidade de lutar pelo meu povo e continuar a construção de um futuro melhor para todos nós. Espero que este exemplo inspire outras mulheres a perseverar em suas lutas e a ocupar os espaços que lhes são de direito.

 

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