Expressões capacitistas: você usa?

por Robevânia Virgens

21/11/2023

A interseccionalidade permite analisar aspectos do indivíduo na sociedade em relação a classe social, gênero, raça/etnia, capacidade, orientação sexual, religião ou outros, analisando como estes se sobrepõe e geram problemas sociais e de preconceitos que podem ser analisados de forma global e não separadamente.

 

O capacitismo é uma das camadas estudadas pela interseccionalidade.

 

E você, sabe o que é capacitismo?

 

Segundo Campbell (2008), o capacitismo está para o deficiente, assim como o racismo está para pessoas negras e o machismo para mulheres.

 

Capacitismo é a opressão e o preconceito contra pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Ele parte da premissa da capacidade, da sujeição dos corpos com deficiência em razão dos sem deficiência. Acredita que a corporalidade tange à normalidade, a métrica, já o capacitismo não aceita um corpo que produza algo fora do momento ou que não produza o que é tido como valor. Ele nega a pluralidade de gestos e de não gestos, sufoca o desejo, mata a vontade e retira, assim, a autonomia dos sujeitos que são lidos como deficientes. (Victor DI MARCO, 2020).

 

É, por definição simplificada, o nome dado ao ato de discriminar pessoas com deficiência (PCD) – seja ela física ou mental e, relacionar a existência dessa pessoa à incapacidade e inferioridade, ou seja, é como reduzir a pessoa à sua deficiência.

 

Que tal policiar suas atitudes, vocábulos ou expressões usadas no dia a dia?

 

Quando refletimos sobre o capacitismo na perspectiva da interseccionalidade, observamos o quanto uma pessoa pode ter sua dignidade ferida simplesmente por ser quem é. Por isso, a Elos Educacional vem abrindo espaço para discussões e estudos sobre essa temática para serem levadas aos/às estudantes, educadores/as, gestão escolar e famílias, favorecendo a quebra de paradigmas sobre o assunto e objetivando fortalecer o compromisso existente acerca da pluralidade e da formação humana.

 

Saiba que é importante analisarmos o nosso discurso, pois as palavras tem poder:

 

  • elas geram sentimentos (bons e/ou ruins);
  • elas despertam memórias (boas e/ou ruins);
  • elas incluem ou excluem pessoas em vários contextos e situações sociais, afetivas e profissionais.

 

Já que as palavras têm tamanho poder, que tal mobilizar as comunidades escolares para eliminar o capacitismo do vocabulário e expressões das crianças? As expressões enraizadas são recorrentes no uso diário da língua, ou seja, muitas palavras capacitistas foram naturalizadas em nosso vocabulário. Assim sendo, precisamos descapacitar o vocabulário, eliminando definitivamente algumas expressões. Veja algumas dicas:

 

  • não chame uma pessoa com deficiência (PCD) de “coitada”, ignorando que muitas podem realizar tarefas cotidianas com autonomia. Precisam apenas ter seus direitos respeitados e não de dó ou pena;
  • não se autodefina como “retardado” ao ter alguma atitude equivocada ou chamar assim, alguém que é uma pessoa típica (em deficiência);
  • não use o termo “fingir demência” para dizer que você fingiu não compreender algo, pois essa é mais uma fala capacitista;
  • não use a expressão “deu uma de João-sem-braço” para associar a ideia de uma pessoa preguiçosa ou que fingiu não compreender algo;
  • não pergunte para uma pessoa típica “se ela está cega/surda/muda”, quando quer saber se ela não viu ou ouviu, pois isso é o mesmo que dizer que a PCD é inferior a outras pessoas;
  • não use a expressão “idiota”, pois esse termo é altamente pejorativo. É uma expressão  usada em épocas passadas e ainda hoje (de forma equivocada), para se referir às pessoas com Deficiência Intelectual.

 

Precisamos, portanto, gerar mais campanhas educativas com o objetivo de cercear a cultura do capacitismo, na sociedade e nas comunidades escolares.  Fica aqui o convite para que possa ajudar a sociedade a reeducar o seu olhar, para ser mais justa e inclusiva para todos/as.

 

O que você acha de continuarmos essa conversa em outro texto que traga exemplos de como substituirmos as expressões capacitistas?

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CAMPBELL, Fiona A. Kumari. Exploring internalized ableism using critical race theory. Disability & society, v. 23, n. 2, p. 151-162, 2008

DI MARCO, Victor. Capacitismo: O mito da capacidade. Belo Horizonte, MG : Letramento, 2020. Edição do Kindle.

FREIRE, PAULO. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa, Paz e Terra, São Paulo, 1998.

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