Idadismo – um olhar para o envelhecimento e suas interseccionalidades

por Silvana Ap. Santana Tamassia

14/08/2023

(Parte 1)

Desde o início de 2023, em nosso núcleo de estudos da Elos Educacional, começamos a nos aprofundar no conceito de interseccionalidade. Você já ouviu falar sobre este termo?

 

De acordo com Collins e Bilge (2021),

 

A interseccionalidade investiga como as relações interseccionais de poder influenciam as relações sociais em sociedades marcadas pela diversidade, bem como as experiências individuais na vida cotidiana. Como ferramenta analítica, a interseccionalidade considera que as categorias de raça, classe, gênero, orientação sexual, nacionalidade, capacidade, etnia e faixa etária – entre outras – são inter-relacionadas e moldam-se mutuamente. A interseccionalidade é uma forma de entender a complexidade do mundo, das pessoas e das experiências humanas (p. 15-16).

 

Para trazer um exemplo de como esse conceito se aplica, vamos imaginar os preconceitos que uma pessoa negra sofre ao viver numa sociedade em que o racismo estrutural está em todos os espaços. E se essa pessoa for uma mulher negra, homossexual e com mais de 60 anos?

 

Cada uma dessas camadas agrava ainda mais os preconceitos que sofrem determinadas pessoas, tornando suas relações sociais e suas experiências de vida mais complexas.

 

Neste texto, vamos aprofundar sobre os preconceitos decorrentes da idade, chamados de etarismo ou idadismo.

 

O idadismo surge quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas de maneira a causar prejuízos, desvantagens e injustiças, e para arruinar a solidariedade entre as gerações. (Relatório mundial sobre o idadismo, p. xx, 2022)

 

De acordo com o relatório mundial sobre idadismo  “A idade é uma das primeiras características – junto com sexo e raça – que notamos sobre outras pessoas quando interagimos com elas” (2022, p. 2).

 

Ele pode abranger três diferentes dimensões, como vemos na imagem a seguir:

Fonte: Relatório mundial sobre idadismo (2022)

 

Cada uma delas incluem estereótipos, preconceitos e a discriminação causadas por diferentes agentes.

 

A interpessoal decorre das relações entre as pessoas, quando ocorre uma injustiça ou preconceito causado por outra pessoa, como por exemplo, quando uma estudante de graduação de 40 anos foi hostilizada pelas colegas de sala, simplesmente por causa da sua idade.

 

A institucional está ligada a instituições como escolas e empresas, como no momento de buscar uma vaga de trabalho, na qual a idade, por vezes, pode dificultar o acesso a oportunidades que são vistas como inadequadas para determinada faixa etária, não sendo nem mesmo chamada para o momento da entrevista, sendo barradas quando seus dados pessoais são acessados nos currículos.

 

E contra si próprio, são aqueles momentos em que nos boicotamos dizendo que isso não é pra gente, que já estamos muito velhos para determinada atividade. Neste caso, nós mesmos nos achamos incapazes de aprender ou fazer alguma coisa apenas por conta da nossa idade.

 

Apesar do termo idadismo ou etarismo nos remeter a pessoas idosas, ele não é privilégio dessa faixa etária. O idadismo pode acontecer até mesmo com os mais jovens, por exemplo, quando deixamos de acreditar no potencial de um/a adolescente, simplesmente por causa da sua idade, justificando pelo fato das pessoas dessa faixa etária não terem responsabilidade e generalizando essa ideia para todos/as os/as adolescentes.

 

Considerando o público idoso, vamos trazer aqui um exemplo de uma situação que se refere às pessoas idosas e que se inter-relaciona com a questão de gênero, por exemplo, quando falamos de aposentadoria. Apesar do percentual de mulheres idosas ser maior do que o de homens no mundo, temos 75,3% de homens aposentados contra 59% de mulheres, o que demonstra que as mulheres têm menos acesso a benefícios do que os homens.

 

Mas esse é só o começo dessa conversa. O assunto traz muitos aspectos importantes para pensarmos sobre a velhice e em como podemos olhar de maneira mais cuidadosa para o/a outro/a e para nós mesmos. E se você acha que ainda está muito novo/a para pensar sobre isso, vamos continuar essa conversa e explorar um pouco mais sobre esse tema no próximo texto.

 

 

COLLINS, P. H. e BILGE S. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo Editorial, 2021.

 

ORGANIZAÇÃO Pan-Americana da Saúde, Relatório mundial sobre o idadismo, 2022. Disponível em https://iris.paho.org/handle/10665.2/55872 . Acesso em 16 jun. 2023.

 

 

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