Vamos falar da leitura de textos literários?

por Cristiana Moreira

26/06/2023

Nos dias atuais, a leitura é responsabilidade de todas as áreas/disciplinas, não apenas de Língua Portuguesa, de acordo com a (BNCC) Base Nacional Comum Curricular.  Nesse enredo, a leitura em sala de aula é uma prática sem prazo de validade, levando em consideração que a competência leitora inicia na primeira infância e nos acompanha ao longo da vida.

 

Sabemos que a leitura é uma prática cada vez mais exigida nas avaliações internas, externas ou em qualquer atividade que exerçamos, mas quando falamos de dados sobre a leitura de textos literários, temos a BNCC indicando para a importância do letramento literário e a  pesquisa que o  Instituto Pró-Livro, Itaú Cultural  e Ibope Inteligência realizam a cada quatro anos, desde 2007.

 

Isso mesmo caro leitor, a pesquisa é realizada a cada quatro anos e confesso já estou curiosa para a próxima edição, levando em consideração o período pandêmico de 2020 e 2021. Todavia, enquanto temos acesso à próxima edição faço um convite para refletirmos sobre alguns dados. Vamos lá?

 

A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, ganhou legitimidade e hoje é reconhecida como o principal diagnóstico sobre a realidade leitora e o comportamento leitor do brasileiro. Nesse contexto, vale destacar, que a  5ª edição[1] indicou que no Brasil existem 100 milhões de leitores, ou seja, apena 52% da população é considerada leitora. Este levantamento foi realizado em 208 municípios de 26 estados entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.  Diante destes resultados observamos o quanto a leitura como direito e prática social ainda está distante para uma parcela significativa da sociedade.

 

Os dados ainda evidenciaram que em termos de porcentagens é maior o número de leitores entre os que possuem Ensino Superior (68%), da classe A e B (67 e 63%, respectivamente), e de renda familiar de mais de 10 salários-mínimos (70%).

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Classe e Renda familiar

[1] https://www.prolivro.org.br/5a-edicao-de-retratos-da-leitura-no-brasil-2/a-pesquisa-5a-edicao/

 

Segundo os organizadores da pesquisa, foi uma surpresa essa queda nos dados. Em contrapartida, a única faixa etária que apresentou aumento no número de leitores foi a de 5 a 10 anos de idade: passou de 67% (2015) para 71% (2019). A pesquisa revela ainda que as crianças são as que leem mais, leem mais livros de literatura, por vontade própria e com mais frequência.

 

Entretanto, as faixas etárias de 14 a 17 anos e de 18 a 24 anos são as que apresentam maior percentual de queda de leitores, de 8 pontos percentuais. Se as crianças gostam de ler, por que estamos perdendo leitores/as conforme vão ficando mais velhos/as? Essa é uma boa pergunta para nós, educadores. Concordam?

 

 

Digo isso, pois sabemos que na Educação infantil e nos Anos Iniciais do Ensino fundamental, os professores/as  e responsáveis/familiares costumam oportunizar  diferentes momentos de incentivo à leitura, porém quando a criança avança na competência leitora/escritora, os incentivos diminuem na crença de que as crianças já sabem ler sozinhas. Mero equívoco, pois  em toda idade é fundamental o papel do/a mediador/a de leitura de textos literários.

 

Nesse contexto, a pesquisa destaca ainda que o/a professor/a e as mães são apontados como os principais influenciadores/as do gosto pela leitura (15%), seguidos pelos pais (6%). Quando falamos especificamente do gênero literatura, o/a professor/a desponta como maior responsável por incentivar o interesse dos alunos (52%), à frente de filmes baseados em livros (48%) e a indicação de amigos (41%).

 

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil

 

Assim, avançando um pouco mais na pesquisa e para finalizar, apresento mais alguns pontos que considero importantes: a média de livros lidos pelos/as brasileiros/as  e gosto pela leitura. De acordo com os dados, os/as brasileiros/as leem cinco livros por ano, sendo aproximadamente 2,4 livros lidos apenas em parte e, 2,5, inteiros, porém apenas 38% das leituras feitas foram por gosto.

 

Analisando os dados de uma forma geral, como afirma Machado (2002), ler é um direito de todos os cidadãos, não uma obrigação; alimenta o espírito, assim como a comida. Dessa perspectiva, todos precisam da leitura e devem tê-la à disposição, ela deve ser “de boa qualidade, variada, em quantidades que saciem a fome” (MACHADO, 2002, p. 15).

 

Entretanto, para que o êxito na conquista da leitura, a ação docente precisa estar adequada à realidade dos/as estudantes; o/a professor/a deve se mostrar como um modelo de leitor/a para os/as estudantes e, como mediador/a, favorecer o processo do letramento literário, de modo a permitir-lhes agir como cidadãos/cidadãs plenos/as nas mais variadas situações sociais.

 

Desse modo, para compreendermos a leitura como prática social, é preciso vivenciar, conforme orienta Cosson (2006), as três etapas básicas do processo de leitura − antecipação, decifração e interpretação –, que guiam e ampliam o letramento literário:

 

  • 1ª etapa – antecipação: o foco está nos objetivos da leitura, na escolha do gênero a ser lido: um poema, uma receita, uma notícia? O que o leitor espera ao escolher uma leitura? Prazer, conhecimento ou curiosidade?
  • 2ª etapa – decifração: em que o sujeito mostra a familiaridade com as palavras e o domínio sobre elas.
  • 3ª etapa – interpretação: relacionada às inferências que o leitor faz por meio de seu conhecimento de mundo, enciclopédico etc. O contexto é dado pelo autor e reconhecido pelo leitor, uma convergência necessária para que a leitura adquira sentido.

 

De acordo com Cosson (2006), essas três etapas do processo de leitura guiam a proposta do letramento literário. Nessa perspectiva, a leitura nas escolas  precisam ser uma prática voltada para a aprendizagem significativa, que demanda um/a leitor/a ativo/a e crítico/a, não limitado à decodificação de palavras, que busque dialogar com o texto, fazendo inferências, estabelecendo relações e compreendendo o que está escrito nas linhas e entrelinhas.

 

Por fim, como ressalta Foucambert (1994, p. 17), é preciso investir na formação do leitor, pois a leitura não é um processo que se encerra na escola ou em determinada idade, é preciso investimento constante, pois aprendemos a ler na escola e continuamos aprendendo ao longo da vida, se essa formação for abandonada mais tarde, ou seja, se as instâncias educativas não se dedicarem sempre a ela, teremos pessoas que, por motivos sociais e culturais, continuarão sendo leitores e progredirão em suas leituras, e outras que retrocederão e abandonarão qualquer processo de leitura.

 

E você caro/a leitor/a quantos livros leu esse ano?  Quais tem sido suas motivações para a leitura?

 

 

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Comentários sobre o texto

  1. Thiago Pacco disse:

    Ótimo texto. Parabéns!

  2. Michael Alfredo disse:

    Parabéns, Cristina!

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