Qual a mudança que você deseja para 2024?

por Silvana Tamassia

04/03/2024

A cada começo de ano, refazemos planos, definimos metas e desenvolvemos ações em busca de uma vida melhor.

 

Entretanto, essa vida e esses planos são diferentes para cada pessoa, mas para algumas delas, bem mais desafiadores que para outras.

 

Trazendo para o tema central do nosso trabalho, ao pensarmos em educação de qualidade, ela necessariamente precisa ser para todos/as. Porém, os resultados de aprendizagem de crianças e jovens tem se mostrado muito abaixo do esperado, mas quando separamos estudantes pretos/as e pardos/as de estudantes brancos/as, vemos que os resultados são bem piores para o primeiro grupo.

 

Ao olharmos para os resultados do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) em 2021, percebemos que a diferença entre estudantes brancos/as e pretos/as é muito expressiva.

 

Em relação à Língua Portuguesa, quase metade dos/as estudantes brancos/as aprenderam o adequado para o final do Ensino Médio, o que poderíamos entender como um péssimo resultado, já que mais da metade deles/as não alcançou essa aprendizagem. Porém, se compararmos com estudantes pretos/as, o resultado é muito pior, pois apenas 28% aprenderam o adequado.

Em Matemática a situação é muito pior. Apenas 11% dos/as brancos/as aprenderam o esperado, mas ao analisarmos o recorte racial, esse número, para estudantes pretos/as, cai para apenas 4%!

 

Nesse sentido, duas palavras tem sido centrais em nossas reflexões aqui na Elos: equidade e interseccionalidade.

 

É preciso ações diferenciadas para atender às necessidades evidentemente diferenciadas para esses diferentes grupos raciais. Não dá para seguirmos fazendo as mesmas coisas e achar que obteremos resultados diferentes. Por isso a palavra equidade ganha relevância e nos remete à necessidade de pensar em ações que modifiquem esse cenário apresentado e que considere, de fato, uma educação de qualidade para todos/as os/as estudantes.

 

 

E trazendo o conceito de interseccionalidade para esta conversa, entendemos que os meninos pretos sofrem com essa desigualdade, mas ainda mais as meninas pretas, evidenciando a desigualdade de gênero, já que além das dificuldades inerentes à raça, elas ainda precisam ter que superar as questões de gênero que as colocam no papel, por exemplo, de ter que cuidar de outros irmãos, dedicando menos tempo aos estudos e piorando, assim, a sua aprendizagem.

 

Se as evidências deixam claras essas distintas realidades, precisamos de ações concretas para modificar esse cenário. E cada um/a precisa olhar do seu lugar de atuação e pensar qual o seu papel e de que maneira pode desenvolver ações em prol da transformação dessa realidade e em busca de uma sociedade melhor para cada um/a de nós. Sair do discurso e ir para a prática, este é o desafio que 2024 nos coloca.

 

Três ações realizadas aqui na Elos podem servir como inspiração para outras pessoas e organizações.

 

A primeira delas é o nosso núcleo de estudos, que desde 2022 têm se debruçado na temática da equidade racial e interseccionalidade, buscando entender melhor cada uma dessas camadas que agravam o racismo e o machismo estrutural que existe em nossa sociedade. Parte da nossa equipe pedagógica e administrativa se reúne quinzenalmente fazendo leituras, debates, ouvindo especialistas e ampliando nosso conhecimento, permitindo uma tomada de consciência em relação a elementos como capacitismo, gênero, raça etc. e aumentando nossa capacidade de indignação e de ação.

 

Entendemos que o conhecimento é uma lente poderosa que abre nossos olhos para situações que, em momentos anteriores, entendíamos como aceitáveis, mas que com um novo olhar, passamos a entender o quanto podem ser prejudiciais para quem as vive, prejudicando seu desenvolvimento cognitivo, emocional ou social.

 

Outra ação importante a destacar foi o Seminário de Interseccionalidades realizado no início deste ano e que permitiu ampliar nossa audiência para um grupo maior de pessoas interessadas no tema e trazer diferentes vozes para ampliar este debate. Ouvir especialistas e ativistas que trouxeram dados e experiências importantes para ampliar esse diálogo nos permitiu evoluir e ganhar ainda mais consciência do nosso papel, reafirmando mais uma vez o nosso compromisso enquanto indivíduo e enquanto organização que luta por uma educação e um mundo mais justo para todos/as.

 

 

E por último, outra maneira que encontramos de expandir o impacto dos nossos estudos e trazer mais pessoas para este debate foi a publicação de artigos sobre diferentes aspectos da interseccionalidade como as questões de gênero, raça, dos povos originários, do etarismo, da comunidade LGBTQIAP+ e de capacitismo. Tudo isso materializado no livro lançado em nosso Seminário e que esperamos chegar a muitas pessoas para expandir cada vez mais essa discussão e, principalmente, essa tomada de consciência, tão necessária para as mudanças que queremos.

 

 

Se você é gestor/a escolar, pense em como você pode promover na sua escola momentos de discussão sobre esses temas e contribuir para a promoção de uma educação antirracista. Algumas ideias podem ajudar:

 

  • comece com pequenas ações como a leitura de autores/as negros/as e indígenas no início das reuniões coletivas;
  • traga dados para apresentar à equipe docente nas reuniões de planejamento, mostrando como este recorte racial se configura na sua escola;
  • traga pessoas negras ou indígenas da comunidade que possam ser referências para as crianças e jovens, para contribuir em pequenas ações dentro da escola;
  • fique atento/a para as crianças que estão sempre no registro de ocorrências e perceba se há algum viés racial, homofóbico, de gênero ou capacitista, por exemplo.

 

Se você é professor/a, que tal começar a trazer novos elementos ao planejar suas aulas?

 

  • Escolha autores/as negros/as ou indígenas para ler para as crianças e jovens;
  • inclua imagens de pessoas negras e indígenas ao preparar atividades impressas para os/as estudantes;
  • promova debates entre os/as estudantes da sua turma sobre notícias relacionadas a questões raciais e de gênero;
  • observe e dê feedback para colegas que usem termos racistas, capacitistas, homofóbicos ou depreciativos em relação ao gênero, ao se dirigir aos/as estudantes.

 

Esses são apenas alguns exemplos de como podemos começar a dar o primeiro passo em direção ao mundo que queremos. Cada um/a, do seu lugar, pode pensar em como desenvolver pequenas ações para mudar a realidade que temos hoje.

 

Começar pelo conhecimento, depois pela tomada de consciência e, em seguida, pelo desenvolvimento de ações efetivas, nos parece ser o caminho para essa mudança.

 

Pois como diz o compositor Flavio Leandro, “quando eu mudo, o mundo muda!” Então, que 2024 seja o ano da mudança. Começando pequeno, mas sonhando grande, vamos transformar o nosso mundo, num lugar onde todos/as possam se reconhecer, sonhar e conquistar tudo aquilo que desejar!

 

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