por Edneia Burger
11/04/2019
A resposta é sim! A organização dos espaços, a limpeza, os avisos e cartazes afixados nos quadros e paredes, os materiais disponibilizados em cada espaço, seja ele, sala de aula, pátio, secretaria, biblioteca, corredores, etc, reflete as concepções da escola, o cuidado com o clima escolar, as informações que são importantes para os profissionais que nela atuam, além de valorizar as produções dos alunos e, neste sentido, é importante que seu uso seja planejado, acompanhado e que os profissionais da escola sejam formados para o melhor uso. As equipes gestoras tem esse papel importantíssimo de formação.
Já os supervisores escolares ou técnicos tem, entre suas atribuições, o acompanhamento das escolas. Cada rede de educação tem um padrão de periodicidade de acompanhamento e observáveis. Por exemplo, uma vez na semana o profissional vai até a escola para contribuir com as equipes gestoras. Como exemplo de observáveis cito: projeto político pedagógico, calendário escolar, acompanhamento do trabalho dos professores em sala de aula, o espaço escolar, entre outros. Mas o que de fato observar e o que fazer com as observações realizadas? Então, agora vamos focar na observação dos espaços da escola e possíveis encaminhamentos a partir das evidências coletadas. Contribuir com o que?
O que observar?
Os espaços escolares, devem, na sua essência, ser educativos. O pátio, os corredores, salas de aula, banheiro podem tornar-se portadores dessa mensagem. Quando a escola tem um ambiente limpo, organizado, com painéis ou cartazes dispostos de maneira a oferecer informações relevantes à comunidade escolar (professores, funcionários, pais, alunos e comunidade local), então, podemos considerá-lo, de fato, um ambiente que educa, um “modelo” do que esperamos que seja adequado, dentro da cultura manifestada neste espaço, que também é social. Um ponto importante a ser considerado é a cultura local, ou seja, os hábitos que fazem daquela comunidade, uma comunidade única, um lugar de encontros e de trocas no qual as pessoas que fazem parte elaboram um sentido e um significado para as práticas, intenções e ações nela existentes, ao mesmo tempo em que condiciona e estabelece um conjunto de relações e de práticas. (GHEDIN E FRANCO, 2008)
Voltando à nossa questão inicial: o que observar no espaço escolar? E a resposta é: todas os ambientes (salas de aula, secretaria, diretoria, biblioteca, banheiros, pátios internos e externos, etc.), as paredes, as salas de aula, a organização dos materiais nos espaços e a limpeza.
Neste sentido, apresentamos a seguir, alguns pontos que devem ser refletidos entre os segmentos da escola (equipe estratégica) para que os espaços da escola, de fato, reflitam o ambiente educativo que se espera e que podem ser observados, avaliados e qualificados por todos os segmentos que compõem a escola. Mas, este olhar que qualifica e torna todos os espaços escolares educativos é de responsabilidade da equipe gestora e dos supervisores ou técnicos da secretaria de educação.
As paredes das escolas, de forma geral, apresentam informações à comunidade escolar. É fundamental um olhar atento para as informações nelas contidas. O que elas expõem e com qual objetivo? Ao nos depararmos com paredes vazias, podemos refletir: por que não usá-las com informações relevantes ou produções dos alunos? Algumas paredes da escola podem exibir estereótipos, ou seja, imagens que não tenham relação com aquela comunidade ou cultura, por exemplo, sabemos hoje que as famílias têm diversas estruturas: alunos criados por avós, ou somente pelo pai ou mãe, ou por tios e na parede tem exposto o cartaz da “Festa da Família” com a imagem de uma família composta por pai, mãe e filho.
Muitas escolas exibem a produção de alunos. E nesse sentido, podemos fazer uma análise: qual a quantidade de materiais expostos? Qual o objetivo de expor uma atividade e não outra ou de um aluno e não de outro? O que está exposto não só deve passar a mensagem de um bom “modelo” de produção dos alunos como deve ser um exemplo de um bom modelo para os demais alunos. Ressaltamos que a exposição da produção de alunos aponta a importância dada pela escola ao protagonismo dos alunos e amplia a sensação de pertencimento e responsabilidade de cada um que as tem expostas. Outras paredes podem apresentar informações da escola: qual a quantidade de materiais expostos? Qual o objetivo? É fundamental dar destaque ao que realmente é importante.
Paredes com informações sobre a aprendizagem dos alunos (resultados das avaliações internas, externas, etc.), regras de convivência – possibilitam à comunidade escolar a apropriação dos dados e, consequentemente, aumenta a responsabilização por alavancá-los, uma vez que passa a ser de conhecimento do coletivo. As informações fixadas nas paredes devem estar dispostas de forma a permitir que todos os alunos possam ver ou ler. Lembre-se: uma mesma escola pode ter alunos de idades e tamanhos diversos. São, então, observáveis das paredes:
– Quais informações estão dispostas?
– É possível a leitura por todos os alunos?
– São bons modelos de portadores da informação?
– A quantidade de informações é adequada?
– As paredes estão limpas?
Paredes
As paredes das salas de aula podem ser fonte de informação ou distração. De acordo com Lemov” a primeira regra básica para as paredes das melhores salas de aula é que elas devem ajudar, não atrapalhar” (LEMOV, 2011) A informação deve estar disposta de forma que todos os alunos possam ver / ler. Atenção: muitas informações podem desviar o foco daquilo que realmente importa e causar uma superestimulação na sala de aula. Os observáveis, neste caso, são os mesmos das paredes dos outros ambientes da escola, considerando o contexto de aula e não de informação geral.
Disposição das Mesas e Cadeiras
É fundamental verificar se as carteiras estão organizadas de acordo com o objetivo das atividades propostas. Por exemplo: para realizar uma discussão mediada pelo professor, as cadeiras e carteiras organizadas em grupos de 6 pode não ser uma boa disposição, já que os alunos podem ter que se virar para participar. Uma possibilidade, nesse caso, seriam as carteiras dispostas em semicírculo. Algumas reflexões são importantes para pensar neste tema: quais interações serão propostas ao longo da atividade? A disposição das carteiras
favorece a interação pretendida? De que outros jeitos os alunos poderiam ser organizados para interagir? (LEMOV, 2011).
O que observar, então?
– A disposição das carteiras favorece a interação dos alunos de acordo com a proposta da atividade?
– A disposição das carteiras permite a circulação do professor por todos os espaços da sala de aula?
– As carteiras estão limpas?
Organização dos materiais
A organização dos materiais, tanto dos alunos como do professor, é muito importante para manter agilidade na rotina da aula, bem como demonstra o quanto este espaço é importante para as pessoas que convivem nele. Algumas observáveis significativas seriam:
– A organização dos livros e materiais didáticos dos alunos estão organizados e de fácil acesso? Os materiais do professor estão organizados?
– O material do professor foi organizado antecipadamente para atender o objetivo da aula?
– É possível pegar um material que se faz necessário sem ter que “tirar tudo” do lugar?
Biblioteca/Sala de Leitura
A leitura é um dos passos fundamentais na alfabetização, para o entendimento de assuntos distintos, para termos contato com várias culturas diferentes, para nos tornarmos reflexivos, para aumentar o conhecimento, aumentar o vocabulário, para ficarmos mais informados sobre o que acontece no mundo e também para divertir. (leia mais em: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/por-que-ler-importante.htm)
– O que observar na biblioteca ou sala de leitura?
– Os livros estão organizados?
– Os livros estão à altura de todos os alunos?
– Existem espaços diferenciados para leitura (mesas e cadeiras, almofadas, tapetes, etc.)?
– O espaço está limpo?
– Os livros estão conservados?
Embora a leitura possa ser realizada em qualquer espaço, a biblioteca ou sala de leitura deve ser um ambiente que desperte o prazer de ler e que torne a leitura um hábito.
Essas são somente algumas sugestões de observáveis. Cada escola, cada rede deve ter em mente quais são os aspectos que podem ser considerados relevantes e que possibilitam a aprendizagem de toda a comunidade escolar, em especial, a aprendizagem de cada um dos alunos que fazem parte da escola, valorizando o protagonismo, elevando a sensação de pertencimento e corroborando com o processo de responsabilização de cada um e daquele coletivo com um ambiente especialmente acolhedor e educativo para aqueles que dele fazem parte.
Quer saber mais, acesse o e-book que apresenta alguns modelos de formulários de observáveis na escola.
Convido você, gestor escolar e técnico / supervisor, a colocar em prática algumas dessas dicas em sua escola!
Preencha os campos abaixo para fazer o download do E-book:
REFERÊNCIAS
GHEDIN, Evandro; FRANCO, Maria Amélia Santoro. Questões de método na construção da
pesquisa em educação. São Paulo: Cortez, 2008.
LEMOV, Doug. Aula Nota 10: 49 técnicas para ser um professor campeão de audiência.
Tradução de Leda Beck, consultoria e revisão técnica: Guiomar Namo de Mello e Paula
Louzano. São Paulo: Da Boa Prosa: Fundação Lemann, 2011.
Texto maravilhoso! É a Elos, contribuindo com a nossa formação.
Adorei seu texto Edneia. Você escreve como fala, de maneira clara e prática para que todos possam compreender. Obrigada.