Diversidade

Porque palavras ferem

por João Luiz Francisco

25/06/2021

A capacidade do ser humano de utilizar a linguagem verbal é considerada uma das principais etapas do processo evolutivo. Além disso, apenas nós conseguimos nos comunicar verbalmente, o que nos torna únicos entre os animais.

 

A fala tem um poder incalculável. No ambiente escolar, por exemplo, nossas palavras podem construir um ambiente de acolhimento e respeito ou destruir sonhos e expectativas. Uma pesquisa com 1.016 estudantes brasileiros, entre 13 e 21 anos, pertencentes a comunidade LGBT, mostrou que 73% deles sofrem bullying e 27% já sofreram agressões físicas na escola. Além disso, 73% já foram agredidos verbalmente e 48% ouvem comentários homofóbicos. Muitas vezes, os comentários acontecem de forma direta e intencional. No entanto, em alguns casos, a violência verbal é causada por desconhecimento de questões relativas à diversidade ou até mesmo em movimentos de repetição de frases preconceituosas que são frequentes no senso comum.

 

O desenvolvimento de uma cultura de respeito às diversidades sexuais e de gênero nas escolas passa diretamente pelas palavras e expressões que utilizamos nesse ambiente. Estarmos atentos ao que estamos comunicando, de forma direta e indireta, é de grande importância. Por isso, convido você a conhecer ou tirar possíveis dúvidas sobre expressões e palavras que utilizamos quando estamos nos referindo a comunidade LGBTIA+.

 

diversidade lgbt

Para iniciarmos, é importante destacar que cada indivíduo tem sua sexualidade desenvolvida sem que haja qualquer poder de decisão sobre ela, por isso, o correto é orientação sexual e não opção sexual.

 

Em relação às pessoas transgênero, é importante estarmos atentos a dois aspectos. Primeiramente, evite utilizar o termo transexual de forma isolada. Ele pode soar ofensivo para pessoas transexuais, pelo fato de essa ser uma de suas características, entre outras, e não a única. Sempre se refira à pessoa como mulher transexual ou como homem transexual, de acordo com o gênero com o qual ela se identifica, atentando ao uso de pronomes de tratamento corretamente. Outro ponto importante em relação a comunidade trans é que devemos nos referir às travestis sempre no feminino, o artigo “a” é a forma respeitosa de tratamento. Além disso, nunca use o termo traveco, pois ele é altamente ofensivo. O sufixo diminutivo “eco” tipicamente acrescenta uma conotação negativa.  Exemplo disso são as palavras jornaleco e livreco.

 

Embora algumas mulheres lésbicas tenham se apropriado do termo sapatão, esvaziando sua carga pejorativa em determinados contextos, evite empregá-lo. Use a palavra lésbica ao se referir a uma mulher que sente atração por outra mulher.

 

Também temos algumas frases bastantes comuns, mas que são altamente preconceituosas. Você já ouviu alguma das frases abaixo? Já parou para refletir sobre elas? Te convido a fazer isso agora.

 

  • “Você nem parece ser gay”: algumas pessoas imaginam os gays de forma estereotipada, sendo mais femininos, usando brilho e maquiagem. As pessoas são diversas, possuem diferentes trejeitos e maneiras de ser, assim também acontece com os gays.
  • “Não tenho preconceito, tenho até amigos que são gays”: conhecer ou ter pessoas LGBTIA+ como amigas não significa que você não reproduza atos ou palavras preconceituosas.
  • “Nossa, que desperdício”: uma pessoa ser homossexual não é, em hipótese alguma, “um desperdício”. Essa pessoa é o que ela deveria ser.
  • “Gays não devem doar sangue pois podem transmitir AIDS”: esse é um estigma colocado na comunidade LGBTIA+ desde o início da epidemia da AIDS. No entanto, a ciência já comprovou que não existem grupos de risco, mas sim comportamentos de risco dentro das relações sexuais, sejam elas homo ou heterossexuais.

 

Você consegue perceber como são comuns expressões e pensamentos preconceituosos em nossa sociedade? Isso se torna ainda mais preocupante quando tais falas são reproduzidas no ambiente escolar, que deve prezar pelo desenvolvimento acolhedor. Vamos juntos construir uma cultura de respeito às diversidades em nossas escolas?  Divulgar este texto entre os professores e depois promover uma reflexão pode ser um início, não acha? Depois, você pode voltar aqui e comentar como foi.

 

Diversidade LGBT

Fontes:

Agência Senado (org.). Pesquisa revela que adolescentes LGBT sofrem ‘bullying’ e se sentem inseguros. 2016. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/11/22/pesquisa-revela-que-adolescentes-lgbt-sofrem-bullying-e-se-sentem-inseguros. Acesso em: 07 jun. 2021.

BBC (org.). Quando e por que os humanos começaram a falar? 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-48757500. Acesso em: 07 jun. 2021.

Fundação Oswaldo Cruz (org.). A epidemia da AIDS através do tempo. Disponível em: http://www.ioc.fiocruz.br/aids20anos/linhadotempo.html#:~:text=A%20EPIDEMIA%20DA%20AIDS%20ATRAV%C3%89S%20DO%20TEMPO&text=Estados%20Unidos%2C%20Haiti%20e%20%C3%81frica,da%20infec%C3%A7%C3%A3o%2C%20definida%20em%201982.&text=Confirma%C3%A7%C3%A3o%20do%20primeiro%20caso%20de,da%20transmiss%C3%A3o%20por%20transfus%C3%A3o%20sangu%C3%ADnea. Acesso em: 03 jun. 2021.

BALTAZAR, Thiago. 4 termos LGBTfóbicos para não usar mais. 2021. Disponível em: https://vogue.globo.com/atualidades/noticia/2021/01/4-termos-lgbtfobicos-para-nao-usar-mais.html. Acesso em: 02 jun. 2021.

JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. conceitos e termos. 2012. Disponível em: http://www.diversidadesexual.com.br/wp-content/uploads/2013/04/G%C3%8ANERO-CONCEITOS-E-TERMOS.pdf. Acesso em: 26 maio 2021.

CARVALHO, Felipe. Não parece, mas é homofobia: 20 frases que ofendem e devem ser abolidas. 20 frases que ofendem e devem ser abolidas. 2019. Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/Comportamento/noticia/2019/06/nao-parece-mas-e-homofobia-20-frases-que-ofendem-e-devem-ser-abolidas.html. Acesso em: 03 jun. 2021.

 

 

Gostou? Compartilhe nas suas redes!

Comentários sobre o texto

  1. Walter Fábio Bezerra disse:

    Muitas coincidências na minha unidade de ensino.

  2. Walter Fábio Bezerra disse:

    Muitas evidências no nosso ambiente escolar

  3. Ivo Ferreira Filho disse:

    Está tudo dentro do contexto contemporâneo.

  4. Carlos Alberto Lima de Oliveira Pádua disse:

    Muito obrigado pela partilha do conhecimento. Irei trabalhar o texto com os professores durante nossa formação.

  5. Wilma P da Costa disse:

    No ensino fundamental I anos iniciais, são pontuais. Um caso ou outro de bullying.

Deixe um comentário para Carlos Alberto Lima de Oliveira Pádua Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

artigos relacionados

Inscreva-se na nossa Newsletter