Professor/a: vocação ou profissão?

por Silvana Tamassia

14/10/2024

Neste mês em que comemoramos o dia dos/as professores/as, quero aproveitar para propor uma breve reflexão sobre a valorização da carreira docente.

 

Desde criança meu sonho era ser professora. E assim que finalizei o Ensino Fundamental, fui para o Magistério, curso de nível médio que, na época, formava futuros professores/as.

 

Na ocasião, minha família ficou orgulhosa da minha escolha. Mas, a entrada na carreira do magistério tem sido cada vez menos estimulada pelas famílias e menos priorizada pelos/as jovens que finalizam o Ensino Médio.

 

As condições de trabalho e a falta de valorização da carreira, fez com que os/as jovens buscassem profissões mais reconhecidas. Em estudo realizado em 2010, direito, administração, engenharia e medicina eram os cursos mais procurados pelos/as egressos do Ensino Médio (Fundação Victor Civita, 2010).

 

A pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas e coordenada por Bernadete Gatti, mostrou que apenas 2% dos/as jovens diziam ter interesse em cursar Pedagogia ou outra licenciatura.

 

Além disso, quase 1⁄4 dos/as professores/as em exercício na época da pesquisa estavam próximos da aposentadoria, o que significa que o número de profissionais necessários/as para suprir as necessidades das escolas será ainda maior nos próximos anos, fenômeno que, atualmente, tem sido chamado de apagão docente.

 

No gráfico ao lado, podemos perceber que a coluna mais clara, que indica os/as profissionais de até 29 anos de idade diminui, enquanto a mais escura, que representa os/as profissionais com mais de 55 anos, vem crescendo ano a ano.

 

Fonte: Inep. Elaborado Por Instituto Semesp e MK Estatística

 

Para que os/as jovens voltem a acreditar na profissão, precisamos mostrar a eles/as que, apesar de muitas pessoas falaram sobre o “dom de ensinar”, precisamos buscar cada vez mais a profissionalização da carreira. Nóvoa (2011) diz que “Não nascemos professores. Tornamo-nos professores por meio de um processo de formação e de aprendizagem na profissão.”

 

Independente de termos o dom ou não para este trabalho, a profissionalização é imprescindível para termos professores/as qualificados/as e ensinando por meio de metodologias e práticas que garantam o aprendizado de seus/suas estudantes.

 

Neste sentido, pensar em processos formativos que possam qualificar o trabalho do/a professor/a é uma forma de valorizar a profissão. E a primeira pessoa a valorizar a profissão, precisa ser o/a próprio/a professor/a! Precisamos sentir orgulho do que fazemos e reafirmar isso para outras pessoas. Apesar das lutas que ainda temos pela frente para fortalecer a profissão, melhorar a infraestrutura e condições de trabalho e qualificar a formação docente, precisamos mostrar a todos/as o valor do nosso papel para esta sociedade.

 

Acredito que uma formação docente de qualidade é uma das ferramentas de valorização do/a professor/a. Por isso, nosso trabalho nessa área tem um potencial enorme para contribuir com a qualificação e valorização desse/a profissional. Formar professores/as não significa apenas trazer novos conhecimentos para serem implementados por eles/as. Significa contribuir para seu processo reflexivo, para que possam pensar sobre a sua própria prática e qualificá-la cada vez mais, como sugere Paulo Freire (2002). Assim, teremos melhores professores/as que poderão formar estudantes mais preparados/as, garantindo que todos/as aprendam aquilo que é proposto nos currículos de cada rede e que é direito de cada estudante.

 

E não tem nada mais gratificante para um/a professor/a do que ver seus/suas alunos/as aprendendo e seu trabalho sendo reconhecido. Só assim a profissão irá recuperar o seu valor perante a sociedade. É com trabalho e fortalecimento dos processos de ensino e aprendizagem, que a nossa profissão será cada vez mais valorizada e o impacto do nosso trabalho será cada vez maior.

 

Fica aqui o convite para que cada um/a possa demonstrar o seu orgulho pela profissão e contribuir para que outros/as profissionais também possam se sentir valorizados/as e reconhecidos/as. Vamos juntos/as!?

 

Ouça esse texto em formato de Podcast pelo Spotify

 

Referências

CAMARGO, P. de. Profissão docente. Revista Educação, São Paulo, https://revistaeducacao.com.br/2011/09/10/profissao-docente/. 10 de set. de 2011.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

GATTI, B. Atratividade da carreira docente no Brasil. Disponível em: https://gestaoeducacaoespecial.ufes.br/sites/gestaoeducacaoespecial.ufes.br/files/field/anexo/relatorio_profissao_docente_gatt.pdf. São Paulo: Fundação Victor Civita, 2010. Acesso em 27 out. 2022.

TAMASSIA, S. A. S. Atratividade e valorização da carreira docente no Brasil. Santo André: Elos Educacional, 2019. Disponível em https://materiais.eloseducacional.com/atratividade-docente. Acesso em 28 out. 2022.

 

 

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