Recomposição das aprendizagens: por que fazer e o que significa?

por Maria Luiza Ramos

18/04/2022

Eloisa terminou 2019 no 4º ano do ensino fundamental e retornou para as aulas presenciais em 2022 no 7º ano. Não sabe ler nem escrever. Tem vergonha da situação e disfarça aparentando falta de interesse nas aulas.

Leonardo tem algum problema de cognição não diagnosticado e está no 6º ano. Não sabe ler nem escrever. Desenha muito bem e só quer fazer isso durante as aulas, pois não consegue acompanhar o que está sendo ensinado. Pediu para uma de suas professoras ensiná-lo a ler longe dos colegas.

Ivanilda está na 1ª série do ensino médio e não sabe as quatro operações básicas de matemática.

Essa é a realidade de muitas crianças e jovens que passaram quase dois anos distanciados das atividades presenciais das escolas. Estão matriculados na idade certa de suas turmas, mas têm forte defasagem de aprendizado. E a pandemia do coronavírus agravou e intensificou sobremaneira a situação educacional do Brasil e do mundo.

No início de 2021, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo realizou uma avaliação externa amostral em escolas de sua rede de ensino e os dados abaixo evidenciam a situação preocupante encontrada.

Fonte: BUENO, Vinicius, assessor da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. PPT apresentado durante o Seminário de Aprofundamento – estratégias educacionais para enfrentar realizado pela Fundação Lemann em parceria com o Instituto Natura, realizado em 17/03/2022.

 

São dados bastante impactantes os que vemos neste gráfico, pois demonstram que houve um retrocesso significativo no nível de aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática, nos três anos avaliados: 5º e 9º anos do ensino fundamental e na 1ª série do ensino médio. O problema maior está no 5º ano, nos dois componentes curriculares, o que nos faz crer que as crianças menores foram as mais impactadas pelo afastamento das escolas.

Sabemos que a defasagem ocorreu em todo território nacional e, agora, que praticamente a totalidade das escolas retomaram as atividades presenciais, é prioridade cuidar da recomposição das aprendizagens para que os/as estudantes possam ter condições de seguir os estudos regulares.

Kátia Smole enfatiza que recomposição de aprendizagens é diferente de recuperação. Para ela, recuperação “é um processo destinado aos/às estudantes que tiveram aulas, entraram em contato com o que deveriam aprender e não conseguiram”. Todavia, recomposição implica priorização curricular, incluindo as competências gerais da BNCC. Destina-se àqueles/as que ficaram distanciados/as do ensino durante a pandemia.

Pode acontecer em diversos formatos, que podem ser combinados, incluindo momentos em sala de aula, outros que se estendem para além das aulas regulares e até mesmo momentos de imersão em cursos oferecidos em períodos de férias escolares.

Ainda segundo Smole, é necessário organizar uma força-tarefa, que pode envolver estagiários/as, docentes contratados/as, voluntários/as da comunidade e que as ações sejam coordenadas por gestores/as da rede de ensino e gestores/as escolares. A busca pela recomposição envolve a ideia de acelerar o processo, reduzindo o currículo a ideias muito focais e estruturantes, organizando avaliações, formação de docentes, gestão de aulas e materiais didáticos apropriados.

O fato é que a recomposição das aprendizagens é urgente, envolve aspectos socioemocionais e deve ser considerada prioridade absoluta por todas as redes de ensino, de maneira que todos/as estudantes tenham garantido seus direitos de aprendizagem.

 

 

 

Referências:
BUENO, Vinicius, assessor da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. PPT apresentado durante o Seminário de Aprofundamento – estratégias educacionais para enfrentar realizado pela Fundação Lemann em parceria com o Instituto Natura. 17/03/2022.

SMOLE, Katia Stocco. Recomposição da aprendizagem – Projeto de vida. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_Pus1vwD78A – Canal Educação Alagoas. Acesso em 18/03/2022.

 

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Comentários sobre o texto

  1. Marilene Pessoa disse:

    Mais do que nunca será necessário a construção de aotenduzafrm significativas. O aluno precisa sentir se parte que contribui no processo de sua aprendizagem e ainda, entender seu porque é ora que lhe servirá no futuro tal esforço empenhado.

  2. Clésia Mendonça dos Santos Silva disse:

    Muito esclarecedor

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