Tecnologia na sala de aula: quais competências digitais os/as docentes precisam desenvolver hoje

por Claudia Zuppini Dalcorso

18/11/2025

A presença da tecnologia no cotidiano escolar deixou de ser acessória: tornou-se condição para uma educação alinhada ao século XXI. Para que estudantes desenvolvam autonomia, pensamento crítico e capacidade de atuar eticamente no mundo digital, é indispensável que professores/as possuam competências digitais sólidas, capazes de integrar ferramentas tecnológicas ao currículo com intencionalidade pedagógica.

 

Este texto apresenta, , quais competências digitais docentes são essenciais hoje, articulando a BNCC* (Cultura Digital e Complemento de Computação), os referenciais da UNESCO* e da ISTE*, e exemplos aplicáveis da Educação Infantil ao Ensino Médio.

 

  1. Competências digitais na BNCC

 

A BNCC estabelece, entre as competências gerais, a Cultura Digital, que orienta o uso crítico, ético e criativo das tecnologias. Isso implica que professores/as precisam:

 

  • compreender como tecnologias apoiam as práticas de ensino;
  • selecionar recursos digitais adequados aos objetivos pedagógicos e
  • orientar estudantes quanto ao uso responsável, seguro e colaborativo.

 

Com a inclusão do Complemento de Computação, o currículo nacional passa a prever habilidades ligadas ao pensamento computacional, mundo digital e cultura digital ao longo de toda a educação básica. Professores/as de todas as áreas, portanto, são chamados/as a dominar noções básicas de algoritmos, lógica, processamento de informações e usos sociais da tecnologia, mesmo que não atuem no componente específico de Computação.

 

Esses documentos reforçam que a competência digital docente não se resume a operar ferramentas, mas sim integrar tecnologia ao processo formativo de modo transversal, crítico e contextualizado.

 

  1. O que dizem UNESCO e ISTE sobre competência digital docente

 

UNESCO*

O ICT Competency Framework for Teachers (2018) aponta que docentes digitalmente competentes devem ser capazes de:

 

  • usar TIC para inovar na pedagogia, ampliando oportunidades de aprendizagem;
  • promover aprendizagem ativa, colaborativa e orientada a problemas;
  • garantir práticas éticas, seguras e inclusivas no uso da tecnologia;
  • utilizar ferramentas digitais para avaliar e adaptar o ensino.

 

A UNESCO destaca que a tecnologia deve potencializar a aprendizagem, não apenas modernizar a aula.

 

ISTE*

Os Padrões ISTE para Educadores (2017) definem sete papéis essenciais:

 

  1. Aprendiz – atualiza-se continuamente e aprende com e por meio da tecnologia.
  2. Líder – inspira a comunidade escolar a integrar tecnologias.
  3. Cidadão/ã digital – promove práticas éticas, respeito nas interações e segurança online.
  4. Colaborador/a – usa ferramentas digitais para produzir e compartilhar conhecimento.
  5. Designer – cria experiências de aprendizagem significativas com recursos digitais.
  6. Facilitador/a – personaliza o ensino com tecnologias.
  7. Analista – utiliza dados digitais para aprimorar a prática pedagógica.

 

Esses referenciais ajudam professores/as a compreender que competência digital envolve saberes técnicos, pedagógicos e éticos em igual medida.

 

  1. Competências digitais ao longo da Educação Básica

Educação Infantil

O foco está em experiências lúdicas e mediadas, privilegiando segurança e exploração sensorial. Professores/as podem:

  • usar fotos, música e histórias digitais para estimular linguagem e expressão;
  • propor atividades “desplugadas” de pensamento computacional e
  • orientar famílias sobre tempo de tela e segurança digital.

 

Ensino Fundamental

As competências digitais ampliam-se com:

  • projetos interdisciplinares (programação visual, criação de conteúdos digitais, pesquisas guiadas);
  • uso de plataformas que promovam colaboração e aprendizagem ativa e
  • ensino explícito sobre verificação de fontes, combate à desinformação e ética digital.

Aqui, docentes precisam dominar ferramentas básicas, planejar sequências didáticas apoiadas em tecnologia e compreender princípios do pensamento computacional.

 

Ensino Médio

O professor/a passa a atuar como mentor/a digital, promovendo:

  • projetos integradores (robótica, aplicativos, mídias digitais, análise de dados);
  • debates sobre ética, privacidade, inteligência artificial e impactos sociais da tecnologia;
  • autonomia dos estudantes no uso criativo das ferramentas digitais.

Nessa etapa, a competência digital docente exige maior profundidade técnica e capacidade de orientar projetos complexos.

 

  1. Como essas competências se traduzem na prática pedagógica

 

Alguns exemplos concretos:

 

Uso pedagógico intencional da tecnologia

  • Escolher ferramentas digitais alinhadas a objetivos pedagógicos.
  • Usar plataformas virtuais para complementar atividades presenciais.
  • Empregar recursos multimídia (vídeos, simulações, podcasts) para diversificar estratégias de ensino.

 

Personalização do ensino

  • Utilizar plataformas adaptativas para identificar níveis de aprendizagem.
  • Analisar dados digitais para ajustar intervenções pedagógicas.

 

Comunicação e colaboração

  • Criar espaços digitais de interação (blogs, fóruns, documentos compartilhados).
  • Estimular produções coletivas com uso de ferramentas em nuvem.

 

Cidadania digital

  • Orientar estudantes sobre privacidade, direitos autorais, convivência on-line e exposição segura.
  • Promover discussões sobre ética, impactos sociais da tecnologia e combate à desinformação.

 

Produção de conteúdo e inovação

  • Organizar projetos com mídias digitais, programação ou robótica.
  • Integrar tecnologias emergentes de forma crítica e contextualizada.

 

Essas ações formam o núcleo da competência digital docente: saber por que, quando e como usar a tecnologia para melhorar a aprendizagem.

 

Conclusão

Desenvolver competências digitais docentes é essencial para que a escola forme cidadãos críticos, criativos e responsáveis no mundo digital. A BNCC e os referenciais internacionais apontam caminhos claros: tecnologia deve ser usada com intencionalidade pedagógica, ética e foco no protagonismo estudantil. Educadores/as que se desenvolvem digitalmente ampliam as possibilidades de ensino, tornam suas aulas mais inclusivas e conectam os aprendizados a desafios reais da vida contemporânea.

 

Investir nessas competências, portanto, significa promover uma educação mais atual, equitativa e significativa para todas as etapas da Educação Básica.

 

* BNCC – Base Nacional Comum Curricular.
* ISTE – International Society for Technology in Education ou, em português, Sociedade Internacional de Tecnologia na Educação.
* UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization – ou, em português, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

 

 

Referências

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. MEC, 2017/2018.

BRASIL. Complemento de Computação à BNCC. CNE, 2022.

UNESCO. ICT Competency Framework for Teachers. Paris, 2018.

ISTE. ISTE Standards for Educators. Arlington, 2017.

VALENTE, José Armando. Pesquisas sobre tecnologia e educação no Brasil.

 

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