por Maria Luiza Ramos
17/06/2024
No dia 27/05/2024, foi publicado o despacho do Ministro da Educação, homologando o Parecer CNE/CP nº 4/2024, que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial em Nível Superior de Profissionais do Magistério da Educação Escolar Básica. Nesse documento, fica evidenciado o reconhecimento do espaço profissional como lócus de produção de conhecimento e o/a educador/a como sujeito histórico capaz de produzir novos conhecimentos, influenciando pesquisas e práticas de formação inicial e continuada, dentre as quais, as que tratam da importância da articulação entre esses dois aspectos formativos numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida.
Analisando esses documentos, é possível afirmar que a legislação atual busca se alinhar com as características do mundo atual marcado pela mudança acelerada, incertezas, surgimento de situações ambíguas, fluidas, muitas vezes incompreensíveis e não-lineares. Mais do que nunca, a formação continuada dos/as educadores/as precisa ser considerada prioridade pelas políticas públicas.
Em todas as profissões e, em especial no âmbito de educadores/as, a aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning) vem sendo tratada como uma necessidade para manter as pessoas adultas em sintonia com a modernidade. Ela ocorre em contextos formais ou informais e tem base nos preceitos da andragogia e, mais recentemente, na heutagogia e na aprendizagem autodirigida. São abordagens específicas para a educação de adultos e uma complementa a outra.
O que é Andragogia?
Andragogia é um termo que foi criado por Alexander Kapp em 1833, no seu livro “Teorias Educacionais de Platão”. Origina-se do grego (“andros = homem e “gogos” = educar).
Outro autor importante que desenvolveu estudos sobre Andragogia é Malcolm Knowles, que apresentou o primeiro modelo andragógico no livro “The modern pactice of adult education: Andragogy versus Pedagogy”, publicado em 1970.
Em texto publicado no blog da FIA BUSINESS SCHOOL (Fundação Instituto de Administração), em 06/05/2019, constam os cinco pilares da andragogia:
Motivação para aprender: a motivação interna do adulto é mais forte do que a externa, o que significa dizer que seus valores e mesmo os objetivos profissionais são priorizados, em detrimento de boas notas, por exemplo.
No âmbito da Educação, uma das maneiras mais comuns de garantir a aprendizagem ao longo da vida, é por meio de cursos de formação continuada, programados com base nas concepções andragógicas, em que o/a organizador/a determina uma trilha linear de aprendizagem para o/a aprendente.
Placco e Souza (2015) confirmam o que foi explicado no texto da FIA, dizendo que os/as participantes desses cursos têm suas experiências de vida que precisam ser consideradas, são participantes ativos da sociedade, tomam decisões de maneira autônoma, inclusive sobre seu próprio aprendizado. E o que se tem observado é que há engajamento mais fácil quando o conteúdo atende a algum interesse ou necessidade, que venha a fazer a diferença em suas práticas profissionais e que possa ser aplicado em curto prazo no seu cotidiano educacional, seja na escola ou em outro ambiente da Educação em que atue.
O que é heutagogia?
O conceito de heutagogia é mais recente, foi criado na década de 1990 por Stewart Hase e Chris Kenyon, na Austrália. Segundo essa concepção, o/a aprendiz é o/a único/a responsável pelo seu aprendizado. O termo origina-se do grego “heutagōgos” que significa autodirigido ou autodeterminado e “agogôs”, que significa liderança ou guia.
Na perspectiva da aprendizagem ao longo da vida, podemos entender que essa abordagem metodológica complementa a da andragogia. Assim, o/a aprendiz tem mais autonomia para organizar e direcionar o que lhe interessa aprender, busca conhecimento de forma autônoma e procura participar da construção de um ambiente colaborativo de aprendizagem, além dos cursos de formação continuada. Assim, os estudos realizados no ambiente escolar em reuniões pedagógicas com pautas formativas, por exemplo, seguem princípios da heutagogia, quando organizados de maneira compartilhada.
Nos cursos de formação continuada pautados nesta abordagem, os professores funcionam como agentes facilitadores da aprendizagem que ajudam a orientar e guiar o processo e os/as aprendentes têm um papel central na construção do conhecimento.
A palavra-chave na heutagogia é a flexibilidade para aprender, sem eliminar a figura do/a professor/a, tutor/a ou mentor/a. Essa abordagem incentiva a reflexão pessoal, a interação com outras pessoas e a valorização das trocas de experiências.
Continue este texto com a leitura de “Aprendizagem autodirigida: uma nova abordagem para aprendizagem ao longo da vida dos/as educares/as, clique aqui.
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Referências:
BELLAN. Zenina. Heutagogia: aprenda a aprender mais e melhor. – Santa Bárbara d’Oeste, SP: SOCEP Editora, 2008.
HSM. Heutagogia: a aprendizagem que nos permite navegar nas incertezas do futuro e construir o novo. Disponível em https://blog.hsm.com.br/heutagogia-a-aprendizagem-que-nos-permite-navegar-nas-incertezas-do-futuro-e-a-construir-o-novo/ – Acesso em 05/06/2024.
FIA BUSINESS SCHOOL. Andragogia: O que é, Objetivos e Técnicas. Blog. Publicado em 16/05/2019. Disponível em https://fia.com.br/blog/andragogia/ – Acesso em 05/06/2024.
PLACCO, Vera M. N. de Souza e SOUZA, Vera L. T. (org.). Aprendizagem do adulto professor. São Paulo: Editora Loyola. 2ª ed. 2015.
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