por Michael Alfredo
03/12/2024
Em 2024, a educação brasileira continua a enfrentar uma série de desafios e debates que refletem tanto os contextos históricos quanto as novas demandas da sociedade contemporânea. Entre os principais pontos discutidos, destacam-se a busca pela equidade educacional, a valorização dos/as professores/as, o impacto das tecnologias no ensino, a revisão do novo ensino médio e as estratégias de combate ao analfabetismo funcional.
Um dos debates mais relevantes é a promoção da equidade educacional, que visa garantir que todos os/as estudantes, independentemente de sua origem social, geográfica ou racial, tenham acesso a uma educação de qualidade. Nesse contexto, destaca-se a necessidade de enfrentar desigualdades raciais historicamente enraizadas, que afetam especialmente estudantes negros/as, indígenas e quilombolas. Políticas públicas que abordem o racismo estrutural e promovam a inclusão desses grupos são fundamentais para reduzir as disparidades, garantindo melhores condições de infraestrutura, formação de professores/as para lidar com a diversidade e acesso equitativo a recursos tecnológicos.
Outro ponto central é a valorização dos/as professores/as. A defasagem salarial, as condições de trabalho precárias e a carência de políticas robustas para formação continuada têm sido obstáculos que afetam a qualidade da educação no Brasil. Em 2024, há um movimento crescente para promover o desenvolvimento profissional dos/as docentes, com iniciativas que buscam garantir melhores salários, condições dignas de trabalho e, sobretudo, oportunidades de formação contínua que sejam contextualizadas e práticas. Esse tipo de formação, voltada para as demandas reais das salas de aula, não apenas enriquece o repertório pedagógico dos/as professores/as, mas também fortalece sua autonomia e capacidade de adaptação às mudanças no cenário educacional. O investimento consistente nessa área é considerado essencial para melhorar o desempenho dos/as estudantes e assegurar uma educação pública de qualidade.
A revisão do novo ensino médio, implementado em 2022, continua sendo um dos temas mais debatidos em 2024. A proposta original buscava flexibilizar o currículo, permitindo que os/as estudantes escolhessem áreas de aprofundamento, os chamados “itinerários formativos”, alinhados aos seus interesses e objetivos profissionais. Contudo, sua implementação tem enfrentado desafios significativos, como a falta de infraestrutura adequada, desigualdades regionais e dificuldades para formar professores/as e gestores/as para essa nova abordagem. Em 2024, o Ministério da Educação intensificou os diálogos com estados, municípios e especialistas para realizar ajustes na política, incluindo maior apoio às escolas para oferecer itinerários diversificados e garantir que os estudantes tenham condições reais de escolha. Há também debates sobre a necessidade de maior protagonismo dos/as estudantes e de práticas pedagógicas mais inclusivas e conectadas às realidades locais, especialmente em regiões vulneráveis. O objetivo é tornar o modelo mais equitativo e alinhado às demandas dos/as jovens brasileiros/as.
O papel das tecnologias na educação tornou-se ainda mais central em 2024, consolidando-se como um elemento indispensável para a inovação pedagógica. A discussão atual vai além da simples adoção de ferramentas digitais, focando em como integrá-las de forma estratégica ao ensino presencial e híbrido. O uso de inteligência artificial, por exemplo, tem ganhado destaque, permitindo a personalização do aprendizado e oferecendo diagnósticos mais precisos sobre o progresso dos/as estudantes. Contudo, a desigualdade de acesso à tecnologia e à internet continua sendo um grande desafio, especialmente em regiões rurais e periféricas. Em resposta, programas federais e estaduais têm buscado ampliar a conectividade e garantir que todas as escolas públicas contem com infraestrutura mínima para o uso dessas ferramentas. Apesar dos avanços, especialistas alertam para a importância de capacitar professores/as no uso pedagógico da tecnologia, garantindo que ela seja um recurso para reduzir desigualdades e não um fator de exclusão educacional.
Embora o Brasil tenha ampliado significativamente o acesso à educação nas últimas décadas, o analfabetismo funcional – a habilidade limitada de interpretar textos e realizar operações matemáticas básicas, mesmo entre aqueles/as que completaram a educação básica – permanece um desafio crítico em 2024. Dados recentes indicam que uma parcela significativa da população economicamente ativa enfrenta dificuldades em compreender informações essenciais para o exercício pleno da cidadania e a inserção no mercado de trabalho. Para enfrentar esse problema, iniciativas têm priorizado a alfabetização nas séries iniciais, com estratégias de reforço escolar, uso de metodologias inovadoras, e formação de professores/as para práticas pedagógicas mais eficazes. Além disso, programas voltados para jovens e adultos/as, como o EJA (Educação de Jovens e Adultos), têm buscado articular o letramento funcional com o desenvolvimento de habilidades práticas. O combate ao analfabetismo funcional exige ações intersetoriais, que envolvam não apenas a escola, mas também políticas públicas de apoio às famílias e às comunidades, fortalecendo a cultura do aprendizado contínuo.
Para que a educação no Brasil avance de forma significativa em 2025, é essencial que os desafios discutidos ao longo de 2024 sejam enfrentados de maneira estruturada e integrada. A promoção da equidade educacional deve ser o foco central, com políticas públicas que garantam condições de aprendizado iguais para todos os/as estudantes, independentemente de sua origem social, racial ou geográfica. A valorização dos/as professores/as, com melhores salários, condições de trabalho e formação contínua, também é importante para a construção de um ensino de qualidade.
Além disso, a revisão do novo ensino médio precisa ser ajustada para garantir que os estudantes tenham autonomia de escolha, mas dentro de um sistema que ofereça a eles o suporte necessário. A integração tecnológica deve continuar a avançar, mas com uma estratégia que inclua a melhoria da infraestrutura e o acesso à internet em todas as regiões do país. Por fim, o combate ao analfabetismo funcional deve ser intensificado, com foco em programas de alfabetização nas primeiras séries e reforço do letramento em todas as etapas da educação básica.
Se as soluções para esses desafios forem implementadas de forma coordenada, com um olhar atento às desigualdades históricas e à diversidade cultural do país, 2025 poderá marcar um ponto de virada na busca por uma educação inclusiva, de qualidade e acessível a todos. Essa transformação, no entanto, exige a colaboração ativa de diferentes agentes da comunidade. Famílias, organizações não governamentais, setor privado e instituições de ensino devem se unir em uma responsabilidade social compartilhada, promovendo iniciativas que apoiem a formação docente, a melhoria da infraestrutura escolar e o desenvolvimento integral dos/as estudantes. Além disso, a criação de parcerias entre governos, universidades e empresas pode fortalecer as políticas públicas e viabilizar inovações que enfrentem os desafios estruturais da educação. Somente com o engajamento coletivo e o reconhecimento de que a educação é uma prioridade para toda a sociedade será possível construir um sistema educacional mais justo e transformador.
Referências:
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP): https://www.gov.br/inep/pt-br
Ministério da Educação: https://www.gov.br/mec/pt-br
Movimento Todos Pela Educação: https://todospelaeducacao.org.br/
UNESCO Brasil: https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia
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