Existe um consenso entre especialistas e pesquisadores/as de que o/a professor/a é peça-chave para transformar a qualidade da educação. Ao mesmo tempo, a profissão enfrenta desafios que tem se acentuado com o passar dos anos como baixos salários (em alguns contextos), infraestrutura precária nas escolas e pouca visibilidade e valorização social. Essas condições dificultam tanto a atração de novos talentos quanto a permanência de profissionais qualificados/as na carreira, já que estudos internacionais indicam que cerca de 15 a 20% desistem da profissão em até 5 anos de efetivo exercício.
Com isso, torna-se urgente investir em formação continuada, oferecer condições dignas de trabalho e profissionalizar a função docente para garantir a qualidade e a sustentabilidade da educação pública para as próximas gerações.
A seguir, destacamos alguns desafios centrais e quais os possíveis caminhos para enfrentá-los.
Entre os principais desafios, destacamos:
- Precariedade do trabalho docente: em muitas redes, um percentual elevado de professores/as atua por contratos temporários ou processos seletivos simplificados. De acordo com o último Censo Escolar, em 2024, o índice de professores/as temporários/as nas escolas estaduais foi maior do que o de efetivos. Contratos curtos têm impacto direto sobre a continuidade dos processos formativos, já que formações e mentorias precisam ser reiniciadas com frequência sempre que há mudanças na equipe, impedindo o aprofundamento pedagógico necessário para melhorar resultados e a experiência profissional para fazer as intervenções adequadas junto aos/às estudantes.
- Baixa atratividade social e salarial: jovens que finalizam o Ensino Médio e poderiam seguir a carreira docente apontam, entre os motivos para evitar a profissão: a percepção de desvalorização e remunerações que não acompanham a responsabilidade, a complexidade do trabalho pedagógico, a própria experiência escolar como estudante e até a influência familiar, segundo pesquisa da Fundação Carlos Chagas, de 2010. Ao serem perguntados se pensam ou pensaram recentemente em ser professor/a, dos 1501 respondentes, apenas 2% indicaram explicitamente uma licenciatura e 9% demonstraram interesse por áreas como História, Física, Química, Matemática, Letras, Música, Filosofia, Sociologia, Biologia, Geografia, Artes Plásticas e Educação Física.

Fonte: Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, 2010.
Segundo dados de projeção feita pelo Instituto Semesp, representante das instituições mantenedoras do ensino superior no país, até 2040, o Brasil poderá ter déficit de até 235 mil docentes na educação básica.
- Fragilidade nos processos seletivos: em algumas redes, não há capacidade técnica ou financeira para organizar concursos públicos, e em outras os concursos existentes apresentam baixa qualidade técnica (provas que não medem competências essenciais). Isso compromete a contratação de profissionais com formação e preparo adequados que, muitas vezes, ainda se baseiam nos modelos de indicação política, processo ainda mais prejudicial para essa qualidade técnica e a valorização desejada.
E quais os possíveis caminhos para avançarmos nesta pauta?
- Formação continuada estruturada: investir em programas de formação que sejam sequenciais em vez de momentos pontuais, com objetivos claros e atividades práticas que podem ser implementadas na sala de aula, aumenta a probabilidade de que práticas pedagógicas efetivas sejam internalizadas e implementadas. Para isso, é importante que as formações oferecidas pelas secretarias de educação sejam seguidas de um acompanhamento e formação em serviço, articulados pelo/a coordenador/a pedagógico/a que poderá acompanhar as práticas em sala e oferecer feedbacks construtivos para a equipe docente, garantindo aplicabilidade e continuidade dos processos formativos.
- Valorização da carreira e condições de trabalho: estruturar planos de carreira com progressão salarial vinculada à qualificação profissional, performance e resultados alcançados e compromisso com a escola é uma ferramenta importante para induzir a permanência dos/as novos/as professores/as na profissão e atrair os/as jovens para a carreira. Além disso, garantir carga horária compatível, tempo para planejamento, material didático de qualidade e ambientes de trabalho seguros e saudáveis contribui diretamente para a permanência desse/a profissional na escola.
- Profissionalização por meio de avaliações e processos seletivos: a Prova Nacional Docente (PND), lançada em 2025 como parte do programa Mais Professores, do Ministério da Educação, surge como uma ferramenta com potencial de contribuir para a profissionalização da carreira. Ela vai funcionar como um “Enem dos/as professores/as” e oferecerá um instrumento padronizado para avaliar a formação e o conhecimento dos/as licenciandos/as e de professores/as já formados/as, dando aos estados e municípios uma alternativa para fortalecer seus processos seletivos. A PND não tem como objetivo substituir os concursos públicos, mas pode ser utilizada por redes que aderirem para substituir concursos locais ou como etapa adicional em processos seletivos. A ideia é ajudar municípios que não têm recursos humanos ou financeiros suficientes para organizar processos seletivos mais rigorosos. Em sua primeira edição, realizada em 26 de outubro de 2025, aderiram ao exame 1.508 municípios e 22 estados. , num total de 1.086.914 inscrições recebidas pelo MEC, sendo aproximadamente 250 mil licenciandos/as e o restante de profissionais formados/as.
Podemos dizer que não há uma solução única para esse processo de valorização docente. Esse é um tema que poderia render muitas páginas de reflexão, mas queremos finalizar destacando a importância de fortalecermos a carreira docente se desejamos uma educação de qualidade em nosso país. E para isso, é necessária uma ação articulada entre políticas públicas (remuneração, seleção, formação continuada), articulação do trabalho nas escolas (planejamento e acompanhamento) e compromisso das instituições formadoras (licenciaturas que garantam uma formação inicial de qualidade).
Atrair e manter professores/as qualificados/as é o primeiro passo para uma educação pública de qualidade. É preciso que haja um compromisso coletivo de governantes e de toda a sociedade, o que exige coragem política, visão de longo prazo e diálogo.
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Referências
ELOS Educacional. Atratividade da carreira docente [e-book]. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1YJwh_La8koj3mjFyysrKhowD__VudfsC/view?pli=1. Acesso em: 27 out. 2025.
CASTILHO, Jade. Apagão de professores: Brasil pode ter déficit de até 235 mil docentes até 2040. Fluxo Educação, Fundação Carlos Chagas (FCC), 08 maio 2025. Disponível em: https://www.fcc.org.br/fluxo-educacao/apagao-de-professores-brasil-deficit-de-ate-235-mil-docentes-ate-2040/. Acesso em: 27 out. 2025.
PND: 10 perguntas e respostas sobre prazo, taxa, início e inscrições da Prova Nacional Docente. G1 Educação, 18 jul. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2025/07/18/pnd-10-perguntas-e-respostas-sobre-prazo-taxa-inicio-e-inscricoes-da-prova-nacional-docente.ghtml. Acesso em: 27 out. 2025.
Prova Nacional Docente: mais de um milhão de inscritos se preparam para a primeira edição do ‘Enem dos professores’. G1 Jornal Nacional, 25 out. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/10/25/prova-nacional-docente-mais-de-um-milhao-de-inscritos-se-preparam-para-a-primeira-edicao-do-enem-dos-professores.ghtml. Acesso em: Acesso em: 27 out. 2025.
TARTUCE, Gisela Lobo B. P.; NUNES, Marina M. R.; ALMEIDA, Patrícia Cristina Albieri de. Alunos do ensino médio e atratividade da carreira docente no brasil. Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, p. 445-477, maio/ago. 2010. Disponível em: https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/172/185. Acesso em: 27 out. 2025.
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