Fórum de discussão: uma potente ferramenta para a promoção da aprendizagem de forma colaborativa

por Fernanda Zerbinatti

21/03/2022

A criação do fórum de discussão data da década de 80 como referência de um espaço para troca de mensagens por meio de perguntas e respostas diretas.

reflexão educação

O processo evolutivo da sociedade potencializou esse espaço virtual considerando o cenário do desenvolvimento da tecnologia digital na rotina diária das pessoas. Ao longo desses vinte e poucos anos (período que referencia o início do fórum) é possível observar um movimento crescente desse ambiente virtual em prol da interação entre as mais diferentes pessoas. Seu uso conta com expansão para o território educacional com a intenção de promover uma abordagem interativa focada na aprendizagem coletiva. Todavia, em linhas gerais, contamos com depoimentos que não identificam o fórum de discussão como um espaço importante para a promoção da aprendizagem e sim, um mero cumprimento burocrático dentro de um universo maior que visa à aprendizagem por meio de uma condição assíncrona. Essa discrepância de afirmações está normalmente alinhada ao seu processo de desenvolvimento, uma vez que, implica a criação de sentido e a ressignificação de experiências em meio a uma diversidade de vivências com diferentes pessoas em contextos também distintos. Não distante, falo com a propriedade de quem possui experiências que favoreceram vivenciar os dois lados: como cursista, experienciei a forma burocrática do processo. Já na condição de formadora de adultos professores, tive o privilégio de estudar, refletir e participar da construção de um espaço voltado para a constituição de uma comunidade colaborativa de aprendizagem, atuando com diferentes grupos em formação. Acompanhar esse movimento de elaboração, criação e produção coletiva (e também individual) foi fundamental para o amadurecimento de uma compreensão mais clara e minuciosa sobre como potencializar esse lugar virtual em prol de uma aprendizagem significativa, que ao mesmo tempo pressupõe a contribuição deliberada das pessoas envolvidas.

 

Assegurar um espaço efetivo para a aprendizagem por meio da ação colaborativa faz do fórum de discussão, mesmo nos dias atuais, uma inovação no cenário educacional e ao mesmo tempo reforça a pertinência do protoganismo dos/as personagens que o constituem. Implica ainda criar um ambiente seguro que promova o sentimento de pertencimento e confiança, considerando que colaboração envolve entrega, cooperação, dedicação, responsabilidade e empatia. Ponderar todos esses aspectos no exercício do fórum implica a elaboração de um planejamento cuidadoso por parte da pessoa mediadora. É preciso ter clareza de onde se pretende chegar para que cada estratégia e recurso considerados junto ao grupo atendido, estimulem o trabalho cognitivo de forma deliberada e corresponsável. Essa conjunção de escolhas intencionais representa um aspecto fundamental para o sucesso da aprendizagem almejada, pois estimula um processo dialógico do início ao fim, que pode ser resumido na interligação de três condições elementares:

 

 

 

Posto um propósito que tenha sentido para as pessoas envolvidas, vinculado ao objetivo de um aprendizado, podemos considerar a oportunidade da conversa assíncrona um potente impulso para uma participação no fórum de discussão fundamentada por estudo, corresponsabilidade e engajamento. Normalmente as pessoas apreciam uma boa conversa. Cabe ao/a mediador/a articular uma interação que favoreça a continuidade de uma contribuição propositiva. Trazer o conceito de uma conversa intencional para o desenvolvimento significativo do fórum de discussão, revela o uso de uma estratégia importante ao engajamento do grupo participante. Vale atentar-se para a relevância da intencionalidade da conversa, pois ela contribuirá para a manutenção do foco apresentado com o propósito do espaço interativo. Senge (2005) em seu livro “Escolas que aprendem” nos alerta sobre a importância do diálogo para a aprendizagem em equipe:

 

“O diálogo é uma prática antiga. Pode parecer estranha a princípio, mas torna-se bastante natural para a maioria das pessoas quando começam a exercitá-la. Isso pode explicar porque ele parece florescer em cenários modernos, apesar de uma variedade de barreiras institucionalizadas. Resumindo, o diálogo cria condições nas quais as pessoas experimentam a primazia do todo… o diálogo é uma forma de conversa que leva as pessoas a verem além das vendas que colocaram em si mesmas.” (p.55).

Mediar um fórum de discussão propositivo implica clareza sobre as aprendizagens que se pretende a partir da contribuição de cada participante. É preciso provocar argumentações consistentes, tomar decisões cuidadosas e assertivas a cada interação, além de pesquisar e estudar muito sobre o assunto em pauta, uma vez que, será preciso interagir com profundidade e conhecimento acerca do mesmo. Cabe ainda considerar os diferentes estilos de aprendizagem, pois são ótimas referências para a escolha dos materiais e recursos apresentados ao grupo (vídeos, imagens, indicação de leituras de estudo, poemas, citações, músicas, etc…), como contribuição para o engajamento de todos/as e de cada um/a. Desta forma, preserva-se a individualidade em benefício da coletividade.

Conduzir um fórum de discussão que promova o engajamento de todo o grupo e resulte na constituição de uma comunidade de aprendizagem colaborativa é um processo intenso de entrega, estudo e apoio ao outro, uma vez que, resulta na interseção de dois cenários que se complementam: a mediação e a interação na condição de cursista, a partir do estabelecimento de um acordo social conjunto focado no crescimento coletivo. Temos assim, uma rica perspectiva de investimento nos quatro pilares da educação por meio do fortalecimento do “fazer”, como condição primária para a participação no fórum.

De acordo com COLL e MONEREO (2010), os ambientes virtuais de aprendizagem baseados na aprendizagem colaborativa favorecem uma perspectiva potente de eficácia em prol de um aprendizado significativo:

 

“O que neste caso se busca fazer é, por exemplo, aumentar a frequência dos conflitos cognitivos; fomentar as explicações elaboradas; apoiar a criação, manutenção e progresso da compreensão mútua; promover a tomada de decisões conjuntas sobre as alternativas e pontos de vista; promover a coordenação de papéis e o controle mútuo do trabalho, ou garantir a motivação necessária para que os alunos de envolvam em atuações realmente compartilhadas.” (p. 209).

 

A mediação prevê também que o processo de desenvolvimento do fórum seja dinâmico e instigue o interesse do início ao fim. É preciso cuidar das postagens e da comunicação com o grupo no que se refere à oferta de diferentes estratégias para promover e manter o interesse sobre o assunto determinado. Estudar e pesquisar (como já mencionado) tornam-se ações fundamentais nesse movimento interativo.

A experiência nos revela que nem sempre um fórum de discussão se estabelece com o êxito pretendido em sua primeira edição, visto a necessidade de ressignificação de vivências consolidadas. Às vezes, o resultado esperado pode acontecer ao final da proposta ou mesmo após, quando as pessoas envolvidas passam analisar a experiência adquirida. Vale ressaltar que instituir um fórum com foco na aprendizagem colaborativa, representa superar resistências, transpor paradigmas e exercitar a perseverança e a resiliência. O conceito de comunidade de aprendizagem colaborativa é muito usado nos dias atuais. Todavia, seu aprendizado requer tempo, tempo esse dedicado à transformação consistente e consciente sobre onde se está e onde se pretende chegar. É convidar para o ato da corresponsabilidade e da autonomia e insistir nesse convite enquanto o hábito não está consolidado. Aprendizagem se dá por processo e como todo processo requer espaço de vivência, reflexão e ação permanentes.

Referências:

BRUNO, A. R.; HESSEL, A. M. G. Os fóruns de discussão como espaços de aprendizagem em ambientes on‐line: formando comunidades de gestores. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, 13., 2007, Curitiba. Anais… Curitiba: ABED, 2007. Acesso em: 27 jan. 2022.

COHEN, E. G; LOTAN, R. A. Planejando o trabalho em grupo – estratégias para salas de aula heterogêneas. Porto Alegre: Penso, 2017

COLL, C; MONEREO, C. (Orgs.). Psicologia da Educação virtual- Aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.

FERNANDES, C; LOPES,E. O conectivismo: uma nova teoria/forma de aprendizagem. Youtube, 30 jun. 2016. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=APn8UoEDwyc&t=2s>. Acesso em 27 jan. 2022.

SENGE, P. Escolas que aprendem- Um guia da Quinta Disciplina para educadores, pais e todos que se interessam pela educação. Porto Alegre: Artmed, 2005

TEDxUNISINOSSALON. Criatividade e Tecnologias aliadas ao ensino |  Daiane Grassi. Youtube, 24 jun. 2016. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=MtKIOIeOACk>. Acesso em 27 jan. 2022.

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Comentários sobre o texto

  1. Adriana Castro disse:

    Parabéns! O embasamento teórico dá consistência ao tema, que é muito pertinente para o momento atual.

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