por Claudia Zuppini Dalcorso e Júlia Izidoro
06/02/2023
“Nenhum povo que passasse por tudo isso como sua rotina de vida depois de séculos sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós brasileiros somos carnes daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros, somos, por igual, a mão possessa que os supliciou.” (Darcy Ribeiro, em O povo brasileiro).
Chegamos, enfim, em 2023, e neste ano, aqui na Elos Educacional, queremos que se expanda para fora dos nossos muros, um dos nossos valores mais preciosos: o compromisso com a diversidade. Acreditamos no poder da diversidade de raça, gênero e crenças, para construirmos melhores relações e um mundo mais justo para todos/as.
Para isso, vale iniciarmos com uma etapa considerada analítica para toda a liderança que deseja trabalhar com foco na equidade: que é estabelecer uma linguagem comum com a nossa comunidade de educadores/as e pessoas interessadas em mudanças. Existem várias palavras da moda que ouvimos quando o assunto é equidade, racismo, branquitude entre outras. Mas o uso do jargão empregado em contextos errados pode ser o inimigo da mudança.
Vamos, então, elaborar um glossário da equidade, com algumas definições básicas que irão colaborar para que as lideranças educacionais possam iniciar o seu ano letivo discutindo sobre termos essenciais com a sua comunidade escolar.
Usem este glossário como um ponto de partida e ajustem as definições de acordo com as suas necessidades e contextos.
É a identidade racial branca que compreende o conjunto de costumes, culturas, crenças e valores pelos quais padronizou-se como “normalidade” na sociedade, operando como o padrão pelo qual todos os outros grupos são comparados, funcionando como uma cultura, mesmo que subjetivamente, no qual todos os outros grupos são vistos como inferiores ou anormais.
Designa a raça, que é uma construção social. O significado e a designação são atribuídos às características físicas perceptíveis, vistas na pele, nos cabelos e nos olhos de uma pessoa.
A ideia de que os brancos, com seus valores, pensamentos, crenças e ações, são superiores aos costumes das pessoas não branca. A cultura dominante branca é reproduzida por todas as instituições da nossa sociedade. Em particular, a mídia, o sistema educacional, a ciência ocidental (que desempenhou um papel importante no reforço da ideia de raça, como uma verdade biológica, com a raça branca como o topo “ideal” da hierarquia), e a igreja cristã, desempenharam papéis centrais na reprodução da ideia da supremacia branca (ou seja, que o branco é “normal”, “melhor”, “mais inteligente”, “santo”, em contraste com o negro e outras pessoas.) (Sharon Martinas e o Challenging White Supremacy Workshop)
Dois ou mais grupos raciais não estão aproximadamente em pé de igualdade. (Kendi)
O tratamento desigual de membros de vários grupos com base em raça, gênero, classe social, orientação sexual, capacidade física, religião e outras categorias.
O conceito de equidade considera as diversidades como elemento essencial para a eficácia da igualdade. Isso revela um senso de justiça em que o tratamento ou o modo de agir em relação à determinada pessoa deve se dar com base no reconhecimento das características individuais e das necessidades específicas dessa pessoa.
Representações de indivíduos ou grupos de pessoas de maneira unidimensional e simplista, com base em um aspecto de sua cultura. Os estereótipos são as características de determinados grupos que marcam a sua representação para outros grupos, podendo inferiorizá-los ou exaltá-los.
É baseada no princípio da universalidade e da isonomia, ou seja, de que todos devem ser regidos pelas mesmas regras e devem ter os mesmos direitos e deveres.
Tornou-se um sinônimo de “desigualdade injusta” a ser permanentemente evitada ou combatida. (Almeida, 2002).
Qualquer ideia que sugira que um grupo racial é inferior ou superior a outro grupo racial de alguma forma.
“Considera que as categorias de raça, classe, gênero, orientação sexual, nacionalidade, capacidade, etnia e faixa etária, entre outras, são inter-relacionadas e moldam-se mutuamente. A Interseccionalidade é uma forma de entender e explicar a complexidade do mundo, das pessoas e das experiências humanas. (Collins, 2021)
Capaz de reconhecer como o racismo institucionalizado afeta sua própria vida e a vida dos/as estudantes e das famílias com quem trabalha; abraçar seu papel na mitigação, interrupção e desmantelamento da opressão sistêmica. Os líderes culturalmente responsivos têm uma forte compreensão das dimensões e do impacto das construções culturais na sociedade, estão comprometidos em cultivar e aprofundar sua própria competência cultural e a dos adultos que lideram; acreditar no sucesso acadêmico de todos dos/as estudantes e centrar a aprendizagem do/a estudante e o rigor acadêmico em todas as escolas, salas de aula e ambientes de aprendizado em seu sistema; cultivar a consciência sociopolítica em estudantes e educadores.
Um conjunto de políticas, práticas, tradições, normas, definições, histórias culturais e explicações que funcionam para manter sistematicamente um grupo social em benefício de outro. O preconceito e a discriminação passaram do nível individual para o da sociedade e têm impactos de longo prazo e de longo alcance. (Diangelo)
Um termo usado para capturar um grupo amplamente diverso de pessoas, como latinos, negros, asiáticos, indígenas, nativos, do Oriente Médio etc. Numa estrutura onde a branquitude tornou-se padrão de normalidade, qualquer outro grupo, não visto como branco, precisou ser denominado desta forma para que a análise crítica do preconceito fosse possível.
Qualquer medida, institucional ou comportamental, que produza ou sustente a desigualdade racial entre grupos raciais.
Um pré-julgamento ou atitude injustificável e geralmente negativa de um tipo de indivíduo ou grupo em relação a outro grupo e seus membros. Tais atitudes negativas são tipicamente baseadas em generalizações (ou estereótipos) sem fundamento que negam o direito de membros individuais de certos grupos de serem reconhecidos e tratados como indivíduos com características individuais.
Um conjunto de ideias, ações políticas, históricas, filosóficas e sociológicas, que divulgam e propagam a noção de que outros grupos sociais (raças/etnias) são inferiores.
Aquele que está apoiando uma política racista por meio de suas ações ou inação ou expressando uma ideia racista. (Kendi)
As crenças, atitudes e ações de indivíduos que apoiam ou perpetuam o racismo. Isso pode incluir contar uma piada ou calúnia racista.
As políticas e práticas dentro, e entre as instituições, que produzem resultados que favorecem ou colocam cronicamente um grupo racial em desvantagem.
Você pode colaborar com este glossário trazendo suas dúvidas e sugestões para aumentarmos nossa coleção de palavras nos comentários do blog.
Esperamos que aproveitem para refletir com suas equipes de educadores/as e com a comunidade para juntos/as combatermos as injustiças sociais tão arraigadas em nossa sociedade.
Referências:
Obrigada por produzir esse material meninas.
As escolas precisam desse repertório,e como sempre, a Equipe Elos Educacional, desenvolve suas contribuições com qualidade social e com comprometimento. Já estou divulgando esse rico material.