Como planejar o acolhimento dos/as estudantes diante da proibição do uso de celulares nas escolas

por Silvana Tamassia

30/01/2025

Mais um ano está começando e é hora de planejar quais serão nossas prioridades para 2025, tanto pessoais quanto profissionais: que projetos faremos em 2025, em que queremos melhorar, que novos temas queremos aprender ou nos aprofundar.

 

E na escola não é diferente. Este é o momento de definir metas, planejar estratégias e entender como nossos/as estudantes estão chegando depois de um longo período de férias.

 

Dois temas estão em alta neste início de ano, quando pensamos em educação: as inteligências artificiais e a proibição do uso do celular na escola.

 

Aqui na Elos começamos o ano estudando sobre a inteligência genuinamente humana, aquela que mesmo em tempos de inteligência artificial continuará sendo extremamente necessária para que possamos continuar nos desenvolvendo como seres humanos e também continuar desenvolvendo ferramentas tecnológicas cada vez mais alinhadas com as nossas necessidades, já que somos nós, humanos, que criamos essas ferramentas e que desenvolvemos essa inteligência que está por trás das máquinas e dos programas que estão cada vez mais buscando resolver problemas e situações do nosso cotidiano e que nos ajudam a ganhar tempo e aprender mais rápido sobre diferentes assuntos.

 

Embora a inteligência artificial já exista há alguns anos, foi em novembro de 2022 que essa interação começou a ficar mais comum e acessível às pessoas por meio do ChatGPT, que é um chatbot de inteligência artificial (IA) generativa, que pode responder em segundos a diferentes solicitações e executar tarefas variadas como criar e-mails, atividades, resolver fórmulas e até mesmo criar textos sobre diferentes assuntos. Em cinco dias, o chatbot atraiu mais de um milhão de usuários. E esse caminho não tem volta.

 

Por isso, como educadores/as, precisamos aprender sobre essas novas ferramentas e pensar como podemos inseri-las em nosso planejamento para apoiar nossos/as estudantes a se desenvolverem e fazer uso delas de maneira inteligente e ética.

 

Muito provavelmente, a maioria dos empregos que eles ocuparão ao se formarem exigirão deles competências digitais para lidar com essas novas ferramentas, por isso a escola não pode fugir delas, mas precisará pensar em estratégias eficientes para que eles/as aprendam a aprender usando essas ferramentas e não apenas as utilizem como apoio, para que façam por eles/as as tarefas que precisam realizar, tanto no seu dia a dia, quanto na escola.

 

E esse é um desafio enorme considerando que muitos/as professores/as ainda não se apropriaram destas ferramentas e que muitas escolas ainda não conseguem oferecer condições para que isso aconteça.

 

Na contramão dessa evolução tecnológica surge a necessidade de pensar no controle no uso dos equipamentos digitais por crianças e adolescentes que têm passado a maior parte do seu tempo em frente às telas, seja no celular, no videogame ou no computador.

 

Por isso, começamos o ano com a sanção de uma nova lei que proibiu o uso dos celulares na escola, tanto em sala de aula, como nos momentos de intervalo com a finalidade de estimular e fortalecer a integração entre os/as estudantes, exceto para uso pedagógico dos dispositivos, sob orientação do professor e para fins de acessibilidade, inclusão e saúde.

 

A Lei nº 15.100/2025 busca equilibrar o uso de tecnologias digitais na educação básica. De acordo com o “Art. 2º Fica proibido o uso, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante a aula, o recreio ou intervalos entre as aulas, para todas as etapas da educação básica”.

 

A medida tem como objetivo proteger a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes, promovendo um ambiente escolar mais saudável e equilibrado.

 

Embora esse controle seja realmente importante, a reflexão que queremos trazer aqui neste novo ano escolar que está começando, é a necessidade de se pensar no uso pedagógico e no controle e na gestão de sala de aula, que deveria estar a cargo dos/as professores/as, mas que tem falhado por diferentes motivos.

 

A nova lei determina que o uso dos celulares e de qualquer tecnologia em sala de aula deve ser pautado por uma intencionalidade pedagógica clara. E como fazer isso acontecer na prática?

  1. Primeiramente, é necessário um planejamento consciente e direcionado por parte da equipe docente para que a tecnologia atenda a objetivos educacionais específicos, que precisam estar claros no projeto político-pedagógico da escola e alinhado entre todo o grupo, logo no início do ano.
  2. Além disso, a tecnologia deve ser utilizada como meio, e não como fim, servindo para potencializar a aprendizagem e não como distração ou elemento isolado. Deste modo, é necessário definir qual o objetivo a ser alcançado e como a tecnologia irá apoiar nesse caminho.
  3. Alguns recursos precisam de maior conectividade, outros podem ser utilizados off line. Sendo assim, é preciso planejar com antecedência os recursos a serem utilizados para se certificar de que será possível fazer uso de todas as ferramentas disponíveis.

 

Outro ponto que professores/as e gestores/as devem ficar atentos/as é sobre as consequências desta mudança de direção, pois infelizmente, alguns/algumas estudantes já estão dependentes dos celulares e essa proibição pode gerar um processo de nomofobia, que de acordo com Leihge Roselle, se refere ao medo ou ansiedade pela falta de uso do celular, e quando causa sensação de medo, irritabilidade e prejuízo na vida, como falta de sono e dificuldades no trabalho, na escola e principalmente nas relações sociais.

 

Por isso, a escola deve se preparar para pensar como irá conduzir as atividades neste período em que crianças e adolescentes estarão proibidos de estarem com seus aparelhos, pois no lugar da medida ajudar a melhorar a saúde mental desses/as estudantes, ela pode gerar um outro problema causado por essa  ausência repentina.

 

Seguem algumas dicas que podem ajudar nesse processo:

  1. Organizem momentos de acolhimento com os/as estudantes coletivamente ou por turmas, fazendo uso de diferentes linguagens que mobilizem crianças e adolescentes.
  2. Promova debates sobre o tema, trazendo para o grupo a reflexão sobre os prejuízos do uso excessivo de telas para o cérebro.
  3. Crie espaços de diálogo dentro e fora da sala de aula para que eles/as possam buscar ajuda, no caso de dificuldades com essa medida, permitindo que sejam ouvidos/as e acolhidos/as.
  4. Faça uso de metodologias ativas em que os/as estudantes sejam protagonistas. Assim, estarão ocupados/as com atividades relevantes durante a aula.
  5. Planejem atividades que os/as estudantes possam fazer para integração durante o intervalo. Esses momentos precisam de orientação e acompanhamento para que sejam realmente produtivos e interativos. Caso contrário, problemas de conflitos poderão crescer e ganhar espaço, gerando novos desafios.
  6. E por último, use o bom senso para esse período de adaptação, principalmente evitando que professores/as e funcionários/as passem tempo com o celular na mão, enquanto os/as estudantes estarão proibidos de utilizarem.

 

O mais importante é que todas essas mudanças sejam discutidas coletivamente nas escolas, envolvendo representantes dos diferentes segmentos, inclusive estudantes, para que juntos/as, possam fazer um planejamento que atenda aos desafios de cada localidade e que proporcionem um ano de aprendizado e de desenvolvimento cognitivo e emocional saudável.

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Referências:

ANASTÁCIO, Tathyana; GOUVÊA, Mari Regina (orgs). Inteligência genuinamente humana: competências globais para a vida e o trabalho agora e no futuro. 1.ed. São Paulo: Nelpa, 2022.

BRASIL. Lei sancionada que restringe o uso de celulares nas escolas . Ministério da Educação, 2025. Disponível em: https ://www .gov .br /mec /pt -br /assuntos /noticias /2025 /janeiro /sancionada -lei -que -restringe -uso -de -celulares -nas -escolas . Acesso em: 27 jan. 2025.

BRASIL. Lei nº 15.100, de 2025 . Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-15.100-de-13-de-janeiro-de-2025-606772935. Acesso em: 27 jan. 2025.

MARR, Bernard. Uma breve história do ChatGPT: como chegamos onde estamos hoje . Forbes, 19 de maio de 2023. Tradução disponível em: https ://www -forbes -com .translate .goog /sites /bernardmarr /2023 /05 /19 /a -short -history -of -chatgpt -how -we -got -to -where -we -are -today /?_x_tr_sl =en &_x_tr_tl =pt &_x_tr_hl =pt &_x_tr_pto =tc . Acesso em: 27 jan. 2025.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Nomofobia: o vício ao celular, o que saber e como evitar . Rádio Câmara, 2025. Disponível em: https ://www .camara .leg .br /radio /programas /977152 -nomofobia -o -vicio -ao -celular -o -que -saber -e -como -evitar /#: ~:text =Leihge %20Roselle %20nos %20explica %20o ,e %20 principalmente %20nas %20relações %20sociais. . Acesso em: 27 jan. 2025.

 

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