por André Lopes
25/09/2020
Frase célebre atribuída aos gregos do período clássico. Através do autoconhecimento somos capazes de nos aprofundarmos em nossas luzes e sombras e de nos conhecermos em nosso universo íntimo. Conscientes de nossa humanidade, somos capazes de nos conectarmos com o outro. Para o educando em fase de crescimento neste mundo, o vínculo atento de um educador e o compartilhar das experiências de vida formarão um adulto mais consciente e maduro.
O autoconhecimento é conhecer-se, o mais profundamente possível, através da auto-observação nos diferentes aspectos de nossa existência: físico, emocional, intelectual e espiritual. Estar atento a si mesmo, nos movimentos, gestos, falas, hábitos, pensamentos e emoções; nos desejos, nas vontades, nas alegrias, nos medos, nos sofrimentos, nas doenças e nos sonhos; nas relações, nas amizades, nas desavenças, nos debates e nas discussões; nas reações instintivas aos fatos, nas crenças cristalizadas. É desnudar-se para si, sem julgar, com muito amor próprio.
O caminho da auto-observação é um ato de coragem, pois exige uma mudança em nosso foco do externo – do que outras pessoas ou grupos de pessoas falam, pensam, fazem e sentem – para o interno, trazendo para nós mesmos a responsabilidade de qualquer transformação que desejarmos. É dar espaço para se perceber na fala, nas ações, nos pensamentos e nos sentimentos ao longo do dia, bem como nas emoções que emergem: medos, ansiedades, alegrias e irritações. Com o tempo, é possível identificar como influenciamos o nosso dia, dependendo de como nos comportamos e de como somos influenciados pelos outros. Outro aspecto desse caminho está relacionado a meditar sobre os acontecimentos que nos marcarem durante o dia – aqueles que normalmente levamos para cama e nos tiram o sono – tentar entender o que há de tão significativo para nós, o motivo pelo qual cruzaram nosso caminho.
Ao investigarmos nós mesmos, nem sempre achamos coisas boas: há vaidade, apego, arrogância, egoísmo e medo. Por isso, amor próprio é fundamental para seguir nesse caminho, somos todos seres humanos com defeitos e qualidades dando o nosso melhor. Por outro lado, conhecer-se é um caminho de libertação. Estar presente nas falas, ações e pensamentos nos dá a oportunidade de escolher como agir ao invés de reagir sem pensar. Somos donos de nosso destino, podendo ser a pessoa que quisermos, nos libertando do que fazíamos, do que não nos faz mais sentido ou não nos serve mais. Temos o poder de mudar nós mesmos, de fazer algo diferente, de mudar nosso destino, de não ser mais vítimas do externo.
Mas quais são os aprendizados que o autoconhecimento pode nos proporcionar para a prática de educador? Como educadores, convivemos com estudantes jovens que são seres humanos, igual a nós, mas que se distinguem por sua pouca experiência de vida: estão na fase de desenvolvimento físico, emocional, intelectual e espiritual, colhendo modelos de comportamentos dos adultos com os quais convivem, estão se descobrindo e absorvendo seu entorno para escolher como enfrentar a vida.
São muitos os desafios do viver. Para os jovens destaco a necessidade básica de alimentar-se, de ter uma habitação e de ter vínculos afetuosos duradouros com adultos. O seio familiar nem sempre garante estas condições, o que impacta no desenvolvimento físico, intelectual e emocional de cada criança de um jeito diferente, pois sempre existe um contexto, uma necessidade e um ser humano diferente.
Não pretendo dissertar aqui sobre o papel da escola; o fato é que sua influência no desenvolvimento da criança é determinante, principalmente até os sete anos, sendo seus professores os maiores agentes desse impacto. Creio ser consensual a afirmação de que todo professor tem de ensinar algum conteúdo – mas acrescento que o educador é também modelo de atenção, de respeito, de afeto, de falas, de vocabulários, de comportamentos e de desavenças na escola. Ciente ou não, o professor é referência comportamental e psicológica para seus alunos, sua responsabilidade vai além do desenvolvimento de conteúdos intelectuais e sua contribuição forma o adulto – professores transformam a vida dos alunos e alunas (quem não se lembra de um professor que, positiva ou negativamente, marcou sua trajetória?).
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Realmente, precisamos fazer uma análise de nosso autoconhecimento, para sabermos estar ciente do nosso papel, procurando ajudar aos professores, e consequentemente aos nossos alunos.
Texto muito bom, nos remete a nossa própria auto avaliação. Na correria do dia a dia não paramos para essa reflexão e é sempre bom está fazendo essa análise.
O autoconhecimento nos possibilita repensar posturas, ressignificar práticas, e sobretudo, ter um olhar de generosidade para com os nossos estudantes.
Sem dúvida, o Autoconhecimento é um caminho pessoal que nos ajuda a entender melhor o outro. Na escola a auto-observação é conteúdo para se trabalhar com educadores e alunos.