O uso do registro reflexivo por gestores/as para a formação continuada de professores/as

por Fabiano da Silva e Claudia Zuppini

10/10/2022

O uso do registro nas escolas é frequentemente aplicado para acompanhamento dos progressos dos/as estudantes e para analisar a prática pedagógica do/a docente em sala de aula, possibilitando o estudo, a reflexão da prática e a formação continuada dos/as profissionais da educação.

 

É também utilizado para apontar questões levantadas nas reuniões pedagógicas de formações, entre outros, pois no registro são destacados os fatos importantes tendo um retrato do que foi discutido naquele momento. Esses registros devem ser revisitados, pois são uma oportunidade de pesquisa para rememorar e/ou analisar situações para a melhoria da qualidade do trabalho da educação.

 

Para Weffort (1996), o registro precisa ser feito de forma que a reflexão seja estimulada para que haja a produção de mudanças por meio da teoria e da prática. Com esse instrumento temos a possibilidade de analisar os conhecimentos, limites e possibilidades dos envolvidos. O registro, segundo Ostetto (2012, p.20) “trata-se de fazer e trazer para a consciência a ‘coisa feita’. A escrita traz/faz revelações e amplia a consciência do educador”. Pontes (2011, p.2) afirma que “registrar de forma reflexiva o que vivencia significa ‘pensar reflexivo’, ou seja, lançar um olhar sobre uma situação ou um objeto, a fim de elaborar uma análise”.

 

Utiliza-se muito esse instrumento na educação infantil para analisar o desenvolvimento das crianças e das aulas, trazendo subsídios para o planejamento do/a docente. Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI (BRASIL, 1998), considera que:

 

 

O registro reflexivo não é uma exclusividade da educação infantil, é utilizado em todas as modalidades de ensino, podendo o/a profissional escrever e refletir sobre suas experiências, tornando-o/a um investigador de sua prática e de sua realidade, fazendo-o/a pensar em mudanças em suas práxis diante de suas pesquisas para aprimoramento, integrando a teoria e a prática. Para Freire (1996, p.39) é “na formação permanente dos professores/as, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”.

 

Diante das vantagens desse instrumento, uma oportunidade ainda muito pouco utilizada é realizar o registro reflexivo nas reuniões formativas com os/as docentes, pois com essa ação é possível retomar e refletir sobre o que foi realizado e planejar os próximos passos nas formações. Outra questão importante é utilizar esse instrumento para informar as pessoas que não estavam presentes na reunião sobre o que aconteceu, para que possam se apropriar dos acontecimentos e dos encaminhamentos realizados.

 

Na Elos Educacional utilizamos o registro reflexivo nos momentos de formação dos/as formadores/as, pois em cada encontro um/a formador/a é responsável em apresentar um relato que vai além dos fatos ocorridos, trazendo falas relevantes, discussões, percepções e encaminhamentos, ou seja, um registro com elementos significativos que fogem do relato descritivo que estamos acostumados encontrar em muitas atas de reuniões. Utilizamos também o registro reflexivo como atividade em nossos cursos e formações, possibilitando aos/às cursistas vivenciarem essa prática.

 

Essa mudança na forma de registrar não é algo simples e fácil, mas é uma ação que pode ser construída coletivamente com o grupo.

 

O primeiro passo é assegurar que todos os envolvidos compreendam seu propósito e construam coletivamente, para que se apropriem e tenham ao menos um exemplo do que se espera na forma de registrar.

 

O segundo passo é realizar uma escrita transparente do ocorrido, trazendo evidências dos fatos e das ações. Essa escrita deve descrever, por exemplo, sobre os comentários e reflexões dos/as docentes, os pontos positivos e negativos e, também, os principais desafios e dificuldades.

 

Para Weffort (1996, p.41) “mediados por nossos registros, reflexões, tecemos o processo de apropriação de nossa história, a nível individual e coletivo”. Diante desses registros reflexivos, conforme já comentado, é possível analisar quais são as necessidades do grupo e, assim, buscar saná-las para a melhoria do trabalho realizado na escola.

 

Ao mudarmos a forma de registrar, temos a oportunidade de promover um momento de aprendizagem por meio dos relatos das ações e reflexões da formação realizada, sendo esse documento um subsídio na elaboração de futuras formações do grupo.

 

Agora que você já refletiu sobre o que é um registro reflexivo e sua importância, que tal começar o seu? Para isso, segue alguns cuidados importantes para fazer o seu registro:

 

 

Percebeu a importância do registro reflexivo? Que tal começar o seu? O primeiro pode ser que não fique tão bem, pois o registro reflexivo é um exercício que exige aprimoramento, mas um passo de cada vez para chegarmos na qualidade desejada. Sucesso!

 

 

 

REFERÊNCIAS:

BRASIL, Ministério da Educação e Desportos. Secretaria da Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: introdução. Brasília: MEC/SEF, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. 39 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Observação, registro, documentação: nomear e significar as experiências. In. Educação Infantil: saberes e fazeres da formação de professores. 5. ed. Campinas: Papirus, 2012. cap. 5, p.13-32

PONTES, Rosana Aparecida Ferreira. Os Registros reflexivos como prática de autoria pedagógica. In: V Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade”. São Cristovão. 2011. Disponível em: <http://files.pibid-educacao-do-campo-ufu.webnode.com/200000107-0398f0493b/OS%20REGISTROS%20REFLEXIVOS.pdf>. Acesso em 26/10/2018

WEFFORT, Madalena Freire (coord) – Observação, registro, reflexão – Instrumentos Metodológicos I – São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.

 

 

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