Caminhos da formação

por Regina Bárbaro M. Peralta

08/08/2022

Desde o primeiro dia em que pisamos em uma nova sala de aula, escola, comunidade, cidade, temos diversas sensações, inúmeras percepções. Uma das preocupações que precisamos ter quando passamos por este processo é respeitar aquilo que estamos conhecendo: saber que aquele lugar tem uma história, um contexto que já foi constituído e que será ampliado com as nossas vivências e intervenções no local. Cada um de nós traz as suas marcas, seus valores, seus princípios. Em geral, trazemos nossos olhares e nossas “convicções” e elas podem conflitar com as do lugar em que atuaremos.

 

Quando chegamos em novos territórios para formação, precisamos olhar para além do que está diante de nossos olhos. Assim como nos textos lê-se nas entrelinhas, ao nos relacionarmos com algo novo precisamos ter a mesma postura: enxergar além do que se vê de imediato. Gostaria de propor um exercício de leitura de imagem!

 

Observe a imagem abaixo:

 

Arquivo pessoal – São Sebastião de Uatumã – AM

 

O que você vê nesta imagem? De certo você dirá que está vendo água, pequenas embarcações, casas de palafitas, um céu de várias tonalidades, árvores e o que mais observar. A proposta agora é aprofundar e olhar para além disso. E aqui vão alguns possíveis questionamentos para incentivar essa ação: quem será que mora nessas casas? Quantas pessoas utilizam essas embarcações? Que tipo de alimentação é comum nessa região? Como é o atendimento médico destas pessoas? Onde ficam as escolas dos/as estudantes que moram neste local? Como é a língua maternas dessas pessoas? Qual a variedade linguística desta região? Quais expressões de linguagem que preciso saber? Como devo me comportar ao conhecer essas pessoas?

 

Repare que este é um exercício de aprofundamento do olhar, de procurar entender mais sobre aquele contexto, aquelas pessoas e aquele lugar. Esses questionamentos nos ajudam a melhor compreender quais são os valores e princípios deste local.

 

Uma boa estratégia para conhecer um lugar, é buscar dados demográficos. Quantos habitantes; qual o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica); qual o clima predominante; qual a predominância religiosa, quais as marcas culturais da região etc. Enfim, algumas informações  básicas para adentrarmos no território. Saber dessas informações é fundamental, mas nada supera o contato pessoal com os habitantes do lugar. Ouvir suas experiências, conhecer seus sucessos e seus “perrengues”.

Quando chegamos pela primeira vez em uma comunidade, precisamos praticar o que Leandro Karnal chama de exercício da etiqueta. Para ele, etiqueta não é saber utilizar diferentes talheres à mesa. Etiqueta é o cuidado com o espaço do outro! A etiqueta, neste caso, é também o primeiro patamar da ética. Podemos ser o que quisermos, mas a partir do momento em que entramos em contato com outras pessoas e lugares que não conhecemos, devemos ser éticos.

 

Chamei esse texto de caminhos da formação porque estou vivenciando muitas experiências de conhecer novos lugares e novas pessoas neste ofício que exerço de formação de Gestores/Professores de redes públicas deste país.  Na verdade, percebo que ao entrar nesses diversos territórios, acabo me formando como pessoa, como educadora. E, acreditem, esta é uma excelente forma de respeitar e entender qualquer tipo de diversidade.

 

Observando cada detalhe, tendo uma escuta real e ativa é que vou me constituindo como pessoa, reforçando meus valores e princípios e aprendendo novas culturas, novos conhecimentos e novas experiências de vida. Porque é por intermédio dessa interação que vamos construindo nosso percurso de formadores e podemos compartilhar nossas reflexões, aprender com o outro, ampliar nossos saberes e assim nos constituímos enquanto educadores de uma rede de elos da educação.

 

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Comentários sobre o texto

  1. Talita Batalini disse:

    Simplesmente maravilhosa a percepção e sensibilidade!

    1. Regina disse:

      Obrigada, Talita!
      Esse processo de sensibilização, passa por um crescimento interno que nos permite perceber além do que estamos vemos.
      O importante é seguir aprendendo a olhar e a ouvir!

  2. Claudia D'Arc Fontes disse:

    Como formadores nunca poderemos deixar a escuta ativa de lado. Pessoas mais experientes sempre passam e passarão por nossas vidas. Nosso papel em mediar a troca de saberes entre os componentes dessa rede aonde atuamos é primordial. Ouvir histórias me encanta e sigo afetada em compartilhar as minhas experiências e as muitas outras (que, por diversas vezes, são maiores que as minhas) que aprenderei nesse percurso.

    1. Regina disse:

      Claudia, somos formados de histórias! Elas nós ensinam e nos norteiam para novas experiências. Concordo com a a necessidade de termos uma escuta ativa, mas também necessitamos ter uma “visão” ativa.

  3. Ana lucia Macedo de Oliveira disse:

    Boa tarde! Amei esse texto da Regina! Me fez refletir muito ,sobre o olhar para uma diversidade ampliada apenas com uma foto. Vivenciando caminhos ,riquíssimos de aprendizados.

    1. Regina disse:

      Ana Lúcia!
      Bom saber que gostou do texto! A ideia era essa mesma! Provocar uma reflexão sobre a diversidade dos locais em que vamos atuar!

  4. MARIA CELINA SILVA FREIRE GENTIL disse:

    Unidade na diversidade tem sido meu moto enquanto educadora diante da pluralidade cultural desse país. Apurar a escuta e o olhar para dar vida, para entender o outro, para crescer e promover crescimento. Compactuo com Regina Bárbara na possibilidade de nos fazer presentes em outras culturas.

    1. Regina disse:

      Exatamente, Maria Celina!
      Só podemos nos fazer presente, a partir do momento em que adentramos num território, com a postura de aprendiz!

  5. gilmara disse:

    olhando o contexto que foi dito na imagem acima a maioria das pessoas que moram nesse lugar 90% sao professores

    1. Regina disse:

      Olá, Gilmara!
      Mesmo olhando o contexto da imagem e realizando o exercício de observação, não temos evidência de que os moradores são em sua maioria de professores. A foto foi tirada por mim, mas não tive a oportunidade de conhecer os moradores daquelas palafitas. Este texto teve como propósito, provocar uma reflexão aos formadores deste país, sobre a importância de termos um olhar e uma escuta ativa, quando adentramos outros territórios..

  6. Maria Socorro disse:

    Diante desse texto, nós remete a reflexão sobre nossos valores e princípios enquanto educadores.Respeitando o q já está construído na história de vida de cada ser humano Precisamos ter uma postura flexível para enxergar e entender as diversidades em determinado contexto, compreendendo as diversidades com a troca de experiências.

    1. Elos disse:

      Isso é realmente muito importante. Obrigada, Maria!

  7. LILIAN FOTIN TALIB disse:

    Olá, Regina!
    Adorei a questão da “etiqueta”. Ela nos encaminha, de certa maneira a apurar o nosso olhar e a nossa escuta. Somos “estrangeiros” em território a conhecer. Parabéns pelo texto! Beijocas

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