COP 30 e as mudanças climáticas: como a escola pode contribuir para transformar o mundo

por Silvana Tamassia

11/11/2025

A emergência climática é um dos grandes desafios do século XXI, exigindo respostas globais, políticas públicas eficazes e, sobretudo, formação cidadã. Nesse contexto, a escola assume papel estratégico, pois ela é o espaço em que crianças e jovens são incentivados a desenvolverem consciência crítica, aprendem a interpretar o mundo e a agir sobre ele.

 

Neste mês, o Brasil sediará a COP 30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que ocorrerá em Belém (PA). O evento reunirá líderes de todo o mundo para discutir metas de descarbonização, transição energética e justiça climática. E isso tudo só é possível com o envolvimento de toda a sociedade.

 

Por isso, inserir a pauta climática no currículo escolar é fundamental para que possamos formar uma geração capaz de compreender as causas e consequências das mudanças climáticas, refletir sobre os impactos socioambientais e propor soluções sustentáveis apoiadas no conhecimento científico. É fundamental conscientizar crianças e jovens sobre o impacto das pequenas ações que realizamos no dia a dia. Quando jogamos um simples papel de bala pela janela do carro ou do ônibus, podemos até achar que resolvemos o problema do nosso lixo. Mas, na verdade, apenas o transferimos para outro lugar, ainda dentro do mesmo planeta em que vivemos.

 

O conceito de justiça climática amplia essa reflexão ao mostrar que as mudanças climáticas não afetam todas as pessoas de forma igual. Enquanto alguns grupos dispõem de infraestrutura adequada, outros convivem diariamente com a ausência de rede de esgoto, de coleta regular de lixo e com resíduos despejados diretamente em pequenos córregos nas grandes cidades.

 

Antes de cobrar apenas atitudes individuais, é preciso garantir condições dignas de moradia, saneamento e infraestrutura para todos/as. Falar em jogar o lixo “no lugar certo” só faz sentido quando há um sistema público capaz de garantir que esse “lugar certo” realmente exista.

 

Por isso, a justiça climática exige políticas públicas que considerem as diferentes realidades do nosso país e que transformem discursos em ações concretas, promovendo uma relação mais equilibrada, solidária e sustentável entre as pessoas e o meio ambiente.

 

A realização da COP no Brasil traz à tona o papel central da educação ambiental como eixo estruturante das políticas de sustentabilidade. Para que o futuro seja diferente, precisamos formar nossas crianças e jovens para uma mudança de olhar para o mundo.

 

Uma das competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – responsabilidade e cidadania – destaca a importância de compreendermos o impacto das nossas ações no mundo, reforçando a necessidade de desenvolvermos nos/as estudantes atitudes de cuidado com o ambiente e de uso responsável dos recursos naturais.

 

Para apoiar esse processo, o/a professor/a pode inserir a pauta climática em diferentes áreas do conhecimento, articulando teoria, prática e território. A seguir, apresentamos algumas sugestões que podem ser incorporadas aos planos de aula e que dialogam com os princípios da educação climática na atualidade.

 

  1. Diagnóstico ambiental da comunidade escolar

Começar por aquilo que está perto da sua própria realidade é o primeiro passo para tornar o assunto mais concreto. Incentive os/as estudantes a observar e registrar fenômenos ambientais do entorno da escola como a gestão de resíduos, arborização, rede de esgoto, riachos, etc. Essa é uma estratégia importante para desenvolver o pensamento científico e pensar em possibilidade de intervenção na própria comunidade.

 

  1. Projetos com foco em sustentabilidade

Desenvolver projetos em que os/as estudantes idealizem e construam protótipos que possam ser replicados em contexto real é uma ótima estratégia para mobilizar para a ação, como por exemplo, desenvolvimento de processos de compostagem em parceria com a equipe da merenda escolar, captação de água da chuva para uso da equipe de limpeza ou ações mais simples como o reaproveitamento de materiais como o verso de papéis impressos para rascunho.

Essa abordagem pode envolver professores/as de diferentes componentes curriculares em projetos interdisciplinares e favorece a aprendizagem significativa, mostrando como o conhecimento pode ser aplicado para resolver problemas reais.

 

  1. Uso pedagógico de dados climáticos

O debate sobre o clima pode ser trazido em diferentes aulas e não apenas envolvendo a área de Ciências da Natureza. Um exemplo é o uso e análise dos dados que podem ser realizados nas aulas de Matemática e Geografia. Para isso, é importante explorar fontes confiáveis, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ou o Observatório do Clima, para analisar mapas, gráficos e séries históricas sobre temperatura, desmatamento e emissões de gases de efeito estufa.

 

Ensinar os/as estudantes a interpretar dados é essencial para fortalecer a alfabetização científica e o pensamento crítico, além de desenvolver competências de análise e argumentação, muito úteis para quando entrarem no mercado de trabalho, além de promover a conscientização por meio de evidências e dados reais.

 

  1. Debates sobre temas relacionados às questões climáticas

Utilizar estratégias como seminários e debates estruturados promove o estudo do tema de maneira significativa e garante a circulação de informações e a reflexão coletiva. É importante estimular reflexões sobre quem mais sofre os efeitos da crise climática, como populações periféricas, ribeirinhas, indígenas e comunidades rurais. O debate sobre justiça climática amplia a compreensão ética da sustentabilidade, conectando o tema a questões sociais, culturais e econômicas.

 

Quando a pauta climática se integra à rotina escolar, ela ultrapassa o campo do conhecimento cognitivo e ajuda a construir competências que desenvolvem a cidadania. A escola pode e deve ser um espaço privilegiado para formar sujeitos capazes de compreender a complexidade do mundo em que vive e agir de forma consciente sobre os problemas do seu território, contribuindo para um futuro sustentável. E essas mudanças precisam começar agora, para garantir as mudanças necessárias.

 

Incorporar a consciência ambiental às aulas e rotinas escolares é o primeiro passo para que as novas gerações possam viver de forma mais harmoniosa com a natureza. Cada atividade, projeto ou reflexão em sala de aula pode inspirar novos comportamentos e atitudes sustentáveis, fortalecendo o protagonismo estudantil e o papel da escola como agente de mudança.

 

Referências:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Versão final. Brasília: MEC, maio 2018. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 9 nov. 2025.

COP30 Brasil. O que é a Agenda de Ação? Disponível em: https://cop30.br/pt-br/agenda-de-acao/o-que-e-a-agenda-de-acao. Acesso em: 08 nov. 2025.

FRASER, N. Reenquadrando a justiça no século XXI. São Paulo: Boitempo, 2022.

INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (IPCC). Página oficial. Disponível em: https://www.ipcc.ch/. Acesso em: 08 nov. 2025.

Observatório do Clima (OC). Página oficial. Disponível em: https://www.oc.eco.br/. Acesso em: 09 nov. 2025.

SIRKIS, A. Mudanças climáticas e as cidades. Rio de Janeiro: Garamond, 2015.

UNITED NATIONS. Climate Justice. UN Climate Change, 2023.

 

 

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