Aplicando a neurociência na educação infantil

por Mateus Buzzo

05/12/2023

Inúmeras instituições de ensino estão utilizando a neurociência como parâmetro para desenvolver as aulas, exercícios e até mesmo para o dia a dia dos/as estudantes.

 

A cada dia que passa, estamos aprendendo mais sobre a importância da neurociência na educação infantil. Inicialmente, precisamos entender o que é e como aplicar a neurociência na educação.

 

A neurociência é a ciência que estuda o sistema nervoso, a organização cerebral, a anatomia, a fisiologia do cérebro e suas funcionalidades. O cérebro comanda o nosso corpo, controla emoções, memórias, ações, personalidade e até nossas ações motoras, visuais, olfativas, bem como cria pensamentos novos e reforça os antigos.

 

A neurociência pode ser uma aliada nos estudos para compreensão sobre o desenvolvimento cerebral das crianças e seu impacto na aprendizagem. Sendo assim, a neurociência na educação infantil é de extrema importância para que possamos entender o comportamento emocional e social de uma criança e como forma vínculos com outras pessoas.  A formação de vínculos com os/as educadores/as gera confiança e, consequentemente, faz com que a criança tenha estímulos para aprender melhor. Isso também se aplica ao aprender brincando, pois as brincadeiras acionam a amígdala cerebral[1], gerando dopamina, que é um neurotransmissor responsável por liberar a sensação de satisfação, fazendo, assim, com que a motivação da criança aumente.

 

É fundamental que, na aplicação da neurociência na educação infantil, os/as educadores/as usem as emoções. O cérebro também tem amígdala e ela é responsável pelas emoções. Quando ativada num ambiente de aprendizagem, a amígdala faz com que as informações sejam armazenadas com mais facilidade. Colocar a criança como prioridade e trazer sua vida cotidiana para a aprendizagem é um passo importante, pois consegue envolvê-la nas aulas e na interação com colegas e com o/a educador/a.

 

 

O cérebro consegue perceber tudo, inclusive como uma sala é organizada ou como as crianças estão dispostas nesse espaço. A organização das crianças em roda incentiva a construção de respeito, de cooperação e o senso de pertencimento das crianças.

 

É possível, no entanto, devido à neuroplasticidade, acostumar o cérebro a novas disposições de sala, novos colegas, novos educadores ou até novas situações de desafio ou vivência. O cérebro é adaptável a novos estímulos e as conexões neuronais se modificam à medida que novos estímulos são dados. Brincadeiras sensoriais têm um grande peso na ação da neuroplasticidade do cérebro das crianças por despertar a curiosidade de conhecer novas texturas e novos materiais à sua volta. Novos ambientes com novas pessoas também promovem a neuroplasticidade, por isso é de alto valor realizar passeios fora do ambiente de estudo, seja para um parque, um museu ou até mesmo andar pela rua com os pequenos, que se sentirão mais responsáveis, fazendo assim com que adquiram, à sua medida, a percepção do que pode ou não fazer bem para si. Pais e ambientes com uma rotina de brigas, gritos ou até violência, também afetam a neuroplasticidade do cérebro e com isso atrapalham a aprendizagem da criança.

 

Quando submetidos ao acompanhamento de um terapeuta ocupacional ou um acompanhante ocupacional, alunos autistas, com TDAH[2] ou que vivem em ambientes de vulnerabilidade social ou emocional, apresentam melhora significativa em sua capacidade de reconhecer o mundo ao seu redor e de se inserir nele, inclusive se concentrando melhor nas atividades de aprendizagem desenvolvidas no ambiente escolar.

 

Depois de um longo dia de estudos e brincadeiras, o cérebro precisa descansar. Dormir bem, por mais que possa parecer banal muitas vezes, é de extrema importância. Durante o sono, o cérebro faz por si só o que chamamos de limpeza neuronal, que nada mais é que a eliminação de neurônios mortos (sim, todos temos morte neuronal diariamente e é uma coisa normal e necessária), o apagamento da memória de trabalho (que é uma memória de curto prazo cujas informações são perdidas permanentemente quando apagadas) e a solidificação da memória de longo prazo (que é a aprendizagem de fato).

 

Diferente do que muitos acham, as famílias podem, e devem, cooperar com a escola na aprendizagem de suas crianças. Evitar telas até determinada idade, incentivar a leitura, propor brincadeiras coletivas, desafios e estudar junto com elas em casa, fazem com que toda a aprendizagem da escola seja gravada no cérebro das crianças para uma vida mais inteligente e funcional e um cérebro que pode se ver livre de doenças por muitos anos.

 

[1] Amígdala cerebral ou complexo amigdaloide é um aglomerado heterogêneo de núcleos neuronais localizados nas profundidades do lobo temporal (lateral). As amigdalas são pequenas, têm forma de amêndoa e fazem parte do sistema límbico, processando as emoções.

[2] TDAH = Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade

 

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