Gestão de mudança

por Cristina Harich

25/07/2022

 

  1. Considerações sobre a mudança

 

MUDANÇA
Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a
velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com
atenção os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama…
Depois, procure dormir em outras camas
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais… leia outros livros.

Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.

A nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida,
compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado… outra marca de sabonete,
outro creme dental…
Tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos
óculos, escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light, mais prazeroso,
mais digno, mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena !!!
 

                                                          Edson Marques 

 

O convite de Edson Marques é claro: nada permanece igual para sempre, a mudança é necessária, a mudança mostra uma outra perspectiva, a mudança vale a pena, a mudança pode ser dolorosa, mas pode trazer muitos benefícios. A mudança nos faz aprender outras coisas e lidar com outras situações senão aquelas que já nos enquadraram na zona de conforto.

No dicionário, a palavra mudança apresenta diversos significados, mas dentro do nosso contexto, encontramos a palavra mudança como:

  • Ação ou efeito de mudar; muda, mudamento.
  • Ação ou efeito de fazer passar ou transportar alguém ou alguma coisa de um lugar para outro.
  • Variação das coisas de um estado para outro.
  • Substituição de alguém ou de algo por outro.

Não é incomum que, para algumas pessoas, a palavra mudança pode despertar inúmeros e diversos sentimentos que nem sempre são agradáveis. Mas as mudanças acontecem mesmo que não sejam do nosso desejo. Já outras, são necessárias e urgentes por mais que se revelem trabalhosas ou dolorosas. Então, esconder-se das mudanças não vai tornar a situação mais confortável.

 

  1. Introdução: Por que mudar?

Vivemos em um mundo em constante movimento e que, a cada dia (e aqui não é força de expressão), temos uma novidade científica, tecnológica, econômica e que vai demandar de nós uma “boa pitada” de resiliência.

Estas são mudanças que não escolhemos, e que nem sempre nos afetam a ponto de precisarmos de uma inovação, mesmo assim, somos impactados/as por elas diariamente.

Mudanças são inevitáveis, sejam aquelas de pequeno porte, como por exemplo, a introdução de um novo sistema para lançamento de notas, como aquelas mais impactantes, como por exemplo, a implementação do ensino híbrido na escola. Mudanças são necessárias nos diversos âmbitos da sociedade, mas a escola, em especial, precisa ter um olhar mais criterioso para as mudanças urgentes e necessárias, caso contrário se torna obsoleta ou sem condições de atender as demandas da sociedade. Os/As que não mudam estão sujeitos à estagnação ou ao fracasso.

É preciso considerar que os responsáveis estão mais exigentes no que se refere à estrutura física e aprendizado oferecidos pela escola. Estudantes estão em constante transformação pois absorvem a velocidade de informação disponível no mundo e incorporam na sua realidade as inovações tecnológicas com muita naturalidade, são perfeitos/as exploradores/as deste universo veloz. Neste sentido, a escola continua fechada em suas salas de aula organizadas em fileiras, um/a estudante atrás do/a outro/a cujo seu melhor ângulo de visão, é a cabeça do/a estudante sentado à sua frente.

O fato é que as mudanças acontecem de tempos em tempos tanto no âmbito profissional, como no âmbito pessoal. Profissionalmente, as mudanças podem ser de natureza estrutural como uma reforma nas salas de aula, ou aquelas que envolvem processos, como no exemplo acima. No âmbito pessoal, nascimento dos/as filhos/as, mudança de casa ou cidade, mudança de escola.

É importante lembrar que sejam elas profissionais ou pessoais, as mudanças em um determinado segmento, impacta em outros. Por exemplo, quando nascem os/as filhos/as de uma professora ou de um professor, este fato gera mudanças substanciais na vida pessoal das pessoas e que acabam por impactar no âmbito profissional que precisará também se adaptar e se organizar para a mudança que este fato exige.

Da mesma forma, as mudanças profissionais geram impactos na vida pessoal. Há mudanças de escola que tanto podem beneficiar os/as docentes numa escola com clima escolar mais favorável e produtivo, por exemplo, quanto podem prejudicar sua vida pessoal que, morando mais longe, por exemplo, terão o desgaste do trânsito, atrasos para buscar os/as filhos/as na escola, entre outros.

Vale lembrar que as mudanças podem gerar um evento adverso, ou seja, esperamos um determinado resultado, mas situações inesperadas podem acontecer no transcorrer do processo. Mudanças podem ser desagregadoras, emocionalmente perturbadoras, conflituosas, no entanto são essenciais para o avanço das instituições de ensino.

Qualquer que seja o tipo de mudança, ela precisa ser avaliada, planejada, implementada, monitorada e, ao final, avaliada em seus resultados. Ou seja, é preciso todo um planejamento e monitoramento para que a mudança seja, de fato, perene. Uma mudança dentro desta estrutura de planejamento tem maiores chances de se eternizar do que aquelas realizadas com tanta rapidez que não permite que as pessoas compreendam, se engajem e contribuam para o sucesso da mudança.

 

BOURNE, Mike e Pippa. Gestão de mudança em 1 semana: Conheça as técnicas para engajar sua equipe e promova as mudanças necessárias para sua empresa. São Paulo: Figurati, 2014.

 

Não é a espécie mais forte que sobrevive, nem a mais inteligente: é aquela mais adaptável à mudança.

Charles Darwin

 

  1. Identificando a necessidade de mudança

Frequentemente as mudanças que acontecem na escola são identificadas pelos/as gestores/as, que planejam ações diante da necessidade revelada. Como resposta a esta ação, de certa forma individual, acaba por ser compreendida pela comunidade escolar como algo que vem “de cima para baixo” e pensamentos, comentários ou questionamentos inevitavelmente surgem: “Que importância tem isso?  O que me interessa? Como sabe qual é nosso real problema se não nos consultou?

Toda escola precisa de mudanças, sejam elas de qualquer natureza, o que será possível com atitudes certas, sob perspectiva adequada e ações concretas. Assim, o ponto de partida para qualquer mudança é a participação da comunidade escolar tanto na identificação do problema quanto no planejamento e na implementação da mudança. E para que isso aconteça, todos/as precisam ser envolvidos/as na compreensão do conceito de gestão de mudança: o que é, qual o ponto de partida, como se desenvolve, os ganhos, como identificar uma necessidade de mudança, entre outros aspectos que possam garantir que as mudanças sejam identificadas adequadamente e aconteçam de forma eficaz e com resultados positivos. Quando todos/as compreendem o significado deste processo, é fácil enxergar seu sentido e propósito, favorecendo a motivação do grupo rumo à uma mudança.

Este envolvimento e participação vai atender a um dos principais questionamentos que a comunidade escolar poderá fazer: que importância tem isso? E para que esta pergunta seja respondida e compreendida por todos/as é necessária uma conscientização da importância da mudança junto a todos/as os/as envolvidos/as, partindo da transparência e convencimento na sua exposição.

De posse do conhecimento sobre gestão de mudança, a comunidade escolar participa ativamente na identificação do problema garantindo a gestão democrática e participativa evidenciada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/96.

3.1 Tipos de mudança

Identificada a necessidade de mudança, é preciso avaliar qual o tipo de mudança se deseja, uma mudança que aconteça de forma gradual e contínua? Uma mudança em etapas? A mudança será de forma participativa ou direcionada?

No livro “Gestão de mudança em 1 semana: Conheça as técnicas para engajar sua equipe e promova as mudanças necessárias para sua empresa”, o autor apresenta tipos possíveis de mudança:

  • mudança incremental versus mudança radical;
  • melhoramentos contínuos ou mudança em etapas;
  • mudança participativa versus direcionada.

A mudança incremental se refere àquelas mudanças que acontecem de maneira contínua, por meio de pequenos passos que se somam tornando a mudança mais significativa. Já a mudança radical, como o próprio nome sugere, acontece em uma única etapa, visível e significativa.

O melhoramento contínuo, divide a mudança em etapas menores, sendo que, cada etapa se torna mais facilmente alcançável apresentando um melhor desempenho e tornando a mudança um processo constante, evitando rupturas.

BOURNE, Mike e Pippa. Gestão de mudança em 1 semana: Conheça as técnicas para engajar sua equipe e promova as mudanças necessárias para sua empresa. São Paulo: Figurati, 2014.

 

A mudança participativa requer o envolvimento direto das pessoas afetadas pela proposta de mudança no sentido de trabalharem no processo, ou que, se não forem diretamente implicadas no trabalho, pelo menos, sejam consultadas. A mudança participativa tende a aumentar o empenho e a lealdade dos envolvidos na mudança. Já a mudança direcionada baseia-se nas pessoas que têm o poder de comandar outros e de fazer a mudança acontecer.

No modelo de mudança participativa vale uma ressalva: a depender da urgência e do tipo de mudança necessária, é preciso uma ação mais decisiva e imediata, portanto, menos participativa e sim, mais direcionada.

 

3.2 Como identificar o problema?

Por meio de um simples formulário (anexo I) disponível em qualquer espaço da escola todos/as podem identificar um problema que necessite de mudança urgente. Assim, será possível “ouvir” a comunidade escolar que traz os problemas sob outras perspectivas de acordo com o lugar em que cada um/a se encontra, que não somente a visão da equipe gestora.

 

3.3 Como identificar o problema mais urgente?

É de se esperar que, depois de se inteirarem sobre gestão de mudança, a comunidade escolar queira participar. Num primeiro momento, podemos esperar uma “chuva” de reclamações e situações que os/as integrantes da equipe, de certa forma, precisam “colocar para fora”, pois sabemos que os problemas são muitos na escola, afinal é uma instituição complexa e dinâmica.

Mas precisamos filtrar e diferenciar o que é um problema do que é um desafio que necessita de fato de uma mudança urgente, pois pode estar impactando negativamente na aprendizagem dos/as alunos/as, no clima escolar, na organização dos processos, enfim.

Embora as mudanças possam ser de diversas naturezas, como veremos mais adiante, “o ensino e a aprendizagem devem ser os aspectos mais evidenciados nas reformas educacionais propostas” (DALCORSO, 2012 p.39). O ensino e a aprendizagem como foco principal da escola, seria um primeiro aspecto a ser observado no processo de mudança, partindo da premissa de que queremos e precisamos de uma educação e de escolas de qualidade.

O Ministério da Educação, no documento “Como elaborar o plano de desenvolvimento da escola”, define uma escola de qualidade como:

“Por escola de qualidade entende-se a que se desenvolve relações interpessoais                   que conduzem a atitudes e expectativas positivas em relação aos alunos; que coloca o aluno como foco de suas preocupações; que dispõe de recursos humanos com formação e motivação adequadas e com material escolar e didático necessário; que conta com instalações em quantidade e com condições adequadas de funcionamento; que tem assegurada a participação dos pais no acompanhamento do desempenho dos filhos e na avaliação da escola. Além disso, uma escola de qualidade é aquela que constrói um clima escolar que favorece o processo de ensino-aprendizagem e que define e organiza processos que conduzem ao alcance de seus objetivos. A reunião dessas características se traduzirá em bom desempenho dos alunos.” (Ministério da Educação, 2006)

 

A partir da concepção de uma escola de qualidade, temos diversos fatores que podem indicar necessidade de mudanças urgentes, prioritárias e mudanças secundárias.

Uma boa sugestão para identificar uma mudança urgente é a formação de uma equipe estratégica. Partindo da premissa da gestão democrática, este grupo de pessoas constituído por diferentes segmentos da escola como professores/as, alunos/as, famílias, equipe gestora e funcionários/as da escola, pode discutir, refletir e diferenciar estes problemas e classificá-los por ordem de urgência.

Urgências elencadas, a equipe estratégica, passa a classificar os demais desafios elencados por ordem de prioridade, ou seja, aquelas que precisam ser trabalhadas em primeiro plano e aquelas que podem ser consideradas mudanças secundárias, ou seja, trabalhadas posteriormente na sequência, conforme os desafios forem sendo superados.

 

Clique aqui e continue essa importante leitura.

 

 

Bibliografia:

BOURNE, Mike e Pippa. Gestão de mudança em 1 semana: Conheça as técnicas para engajar sua equipe e promova as mudanças necessárias para sua empresa. São Paulo: Figurati, 2014.

LIMA, Suzana Maria Valle. Mudança Organizacional: teoria e gestão. São Paulo: FGV, 2003.

ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002

DALCORSO, Claudia Zuppini. Planejamento Estratégico – um instrumento para o gestor da escola pública. Jundiaí: Pacco Editorial, 2012

BEER, Mike. Gerenciando Mudança e Transição. Harvard Business Essentials. Record, 2003.

BRASIL. Ministério da Educação, Como elaborar o plano de desenvolvimento da escola. Brasília, 2006

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/96.

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Comentários sobre o texto

  1. Claudia D'Arc Fontes disse:

    Gostei bastante do conteúdo do texto. A escola não pode ser alheia as mudanças ou se manter imóvel, mesmo percebendo estas acontecendo. Trata de mudanças bruscas, onde não há tempo hábil para uma maior participação e trata de mudanças programadas, onde é possível um maior envolvimento de todos. Sabemos que com essa premissa, temos os melhores resultados. Tentemos sempre ir por este caminho: maior participação da equipe a torna consciente da necessidade de maior participação discente. Deste modo temos um ambiente mais convidativo para todos.

  2. Maria de Lourdes P, Farias disse:

    Achei o texto “Mudança” excelente para refletir com a equipe docentes em ocasiões de Planejamento Pedagógico. A escola deve sempre pensar em mudanças, para não praticar metodologias ultrapassadas e em desuso. Tendo em vistas que vivemos em tempos que necessitamos de inovações metodológicas.

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