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Brincadeiras e relações étnico-raciais: a importância da tradição oral africana

por Elaine Lindolfo

22/10/2021

Griô: um João para muitas histórias

Educação

Mitologia dos Orixás e a História do Menino Invisível!

Com Hosaná Dantas, João Acaiabe Acaiabe e Miranda de Amaralina no III Seminário de SBC – 2012

 

Para essa edição, eu guardei o mais belo dos poemas, um dos mais significativos momentos vividos, das mais belas histórias, contadas e recontadas nas sábias palavras, do querido griô, João Acaiabe.

Estava refletindo para a produção dessa edição, quando tive a oportunidade de conhecer a professora Regina Maria da Silva, mestra em Educação, História e Política. Em uma de suas ações formativas, ela trabalhou com a seguinte definição para griô:

Griots
Imagem: https://www.mawon.org/post/griots-os-guardi%C3%B5es-das-palavras

 

Griots – contadores de histórias da África. Sábios muito importantes e respeitados na comunidade onde vivem.  Com suas narrativas, passam de geração a geração as tradições de seus povos, podiam ser narradores, cantores, cronistas e genealogistas que, pela oralidade, transmitiam a história de personalidades e famílias importantes para as quais prestavam serviço (BRAZ, 2012).

 

Ao ressaltarmos a importância da história e da tradição oral africana, estamos trazendo para a reflexão o potencial de identidade e de pertença que podemos trabalhar com as nossas crianças. Conhecermos nossa ancestralidade, para dar lugar para as histórias, cultura, descobertas, ou seja, todo o legado de um povo, que até então, ainda é muito subjugado e marginalizado na história da humanidade.

É fundamental que a educação promova oportunidades variadas, para que as nossas crianças tenham oportunidade de conhecer as histórias dos povos, que retratam diferentes aspectos culturais, de diferentes localidades e assim, possam constituir um imaginário plural e respeitoso, que promoverá a edificação de um ser humano mais tolerante e consciente da importância de reconhecer a diversidade.

Há muitas histórias que podem ser contadas, revividas e retomadas, que se referem a cultura africana e da população afro-brasileira, sendo assim, mais uma ferramenta de identidade cultural, constituindo referenciais para a população negra.

Gostaria de registrar aqui a experiência de vida, que foi conviver com este ícone do trabalho de resgate da tradição oral africana, como espaço de pertença e de valorização do legado histórico e cultural africano.

Contos e encantos – João Acaiabe nas escolas (2012); com Miranda de amaralina e Elaine Lindolfo

 

Esta imagem refere-se a uma ação desenvolvida em São Bernardo do Campo: João Acaiabe esteve presente em todas as creches da rede, levando suas histórias e a sua música, em parceria com Miranda de Amaralina (percussão), possibilitando assim que as equipes escolares, crianças professores, funcionários e familiares, pudessem receber esse ticket de viagem para universos, que promoviam a ancestralidade e o resgate da herança cultural, que por muito tempo nos foi furtada.

Um dos legados que podemos herdar de João, é o cuidado em preparar o ambiente para contar as histórias africanas. Ele utilizava um traje especial e entoava o hino da África do Sul, de forma que as pessoas que estivessem presentes na roda, nos palcos, nas ruas de leitura, pudessem preparar os seus ouvidos e a presença, para embarcarem na viagem proposta, em cada uma das histórias.

Escolher boas histórias, buscar autores negros e negras, que resgatem diferentes aspectos do conhecimento africano e trabalhar de maneira lúdica e envolvente, pode nos aproximar de João e de tudo que ele nos deixou.

Menina bonita do laço de fita – João Acaiabe e Elaine Lindolfo (2012)

 

Você, João Acaiabe, é o Guardião da nossa história, o anjo protetor de cada canto retratado e cantado em suas palavras. Eu fecho os olhos e escuto o hino da África do Sul, que você sempre entoou para iniciar o seu trabalho de contação de histórias, reforçando, a importância do respeito e da palavra com o poder de transformar.

Você encantou cada uma das pessoas que fizeram e fazem parte das suas rodas. Fico aqui, assim, olhando mais um pouquinho para você e pensando: Fica em paz porque nós vamos cuidar das coisas aqui!

Assinado: Menina bonita do laço de fita.

Depois deste registro poético, gostaria de convidar você, para ouvir a música composta pelo Lira *, em homenagem ao nosso Acaiabe. Esta é uma boa dica para trabalharmos com nossas crianças:

  • ouvir a música e assistir ao vídeo,
  • explicar o que é griô,
  • contar quem foi João Acaiabe e o papel como griô,
  • Contar uma, duas, mil histórias para as suas crianças, para que elas possam se ver representadas, ilustradas, retratadas com seus lindos cabelos encaracolados e dar continuidade ao trabalho de tradição oral da cultura africana.

Contem comigo!

Música e vídeo em homenagem: – Griô https://youtu.be/fc-D8bVaM4Q

 

* Liramúsico, compositor e arte-educador. Também toca na noite, participa de festivais de música e é contratado para tocar em festas, eventos e comemorações.  Também faz serenatas e jingles. E tem uma página no facebook: Lira – one man band e no YouTube como Claudemir Lima. Acesse o canal: https://youtube.com/user/Liralima1

 

 

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Comentários sobre o texto

  1. Wilma P da Costa disse:

    A cada história um novo aprendizado, uma prática renovada a cada experiência vivida .

    1. Elaine Lindolfo disse:

      Olá, Wilma.
      Concordo com a sua definição. São experiências. que como educadores, podemos proporcionar para nossos bebês e crianças. Falar das relações étnico-raciais na infância se faz necessário e urgente. Bora falar das suas experiências também e ampliar esta rede!

    1. Elaine Lindolfo disse:

      Olá, Edneia.

      Fiz com muito carinho, assim como todas as outras edições, no intuito de trazer à toa as experiências de cada educador/a, para nos inspirarmos e seguirmos adiante…

  2. Alvira Soares Reis disse:

    Eu conheci o João, suas histórias, fez parte da minha vida. Antes de sua morte o encontrei na praça da árvore em São Paulo zona sul. Aproveitei tudo em minhas atividades pedagógicas tanto na educação infantil, quando no ensino superiores.

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